AS ORCAS SUICIDAS DO CARIBE
Não sou um expert em biografias de presidentes do Brasil. Sobre Deodoro, as notícias de sua ficha médica insinuam que no dia da Proclamação da República estaria acamado, amargando uma crise de asma. Entre ele e o atual, cerca de 120 anos se passaram e dezenas já sentaram na cadeira, inclusive Fernando Henrique, cujas “nádegas impuras” – no dizer de Jânio Quadros (ele próprio, um maluquete) – apoiaram-se indevidamente na poltrona da Prefeitura de São Paulo.
Os badalados Getúlio e Juscelino eram homens que curtiam a noite, a boemia. O “Velho”, com seu sorriso simpático e o indefectível charuto, seria sujeito à bipolaridade, condição clínica que o fazia passear dos píncaros ao fundo poço, culminando com o suicídio. Pé-de-valsa, Juscelino exalava simpatia e bom humor.
Os presidentes do ciclo militar, não sei se para fazer charme – espécie de noblesse oblige – ou se medonhos de verdade, sempre posavam com ar severo, dando a ideia de iminente crise de
ira, dispostos a prender e arrebentar.
Justiça se faça: nunca antes nesse País houve presidente tão engraçado como o nosso Lula. Desconheço alguém que consiga manter tônus basal de fair play parecido ao do nosso presidente. Tenho a impressão de que se trata de um grande contador de piadas de papagaio, freiras, aleijados... Há poucos dias, exercitou mais uma vez a impagável veia humorística ao comentar com humor negro a morte do dissidente político cubano. Pena que a opinião pública não tenha achado a mesma graça.
Por falar em Caribe, esta semana, li emocionado artigo do jornalista Anivaldo Miranda. Injuriado com denominação de “baleia assassina”, Miranda comenta a morte de uma domadora de orcas em parque temático na Flórida, levada pelos cabelos ao fundo do aquário durante show para turistas. O articulista chama a atenção para o acúmulo de frustrações da baleia ao longo dos anos de cativeiro.
Em vãos sonhos com os “domínios pelágicos”, é como se o animal acuado, aborrecido pelo tédio acumulado de repetidas apresentações, em que faz as mesmas piruetas para um público barulhento, gordo, burguês e consumista, estivesse à espreita do melhor momento para executar seu plano de vingança, arquitetado em inquietas noites de vigília. No íntimo, queria
mesmo era afogar o dono do parque.
Matutando, lembrei-me dos dissidentes nos cativeiros castristas. Sem condições de pegar Fidel pelas barbas, as humanas orcas caribenhas estão preferindo o suicídio como protesto.
(*) É médico e professor da Ufal
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