O bêbado e o gordo
RONALD MENDONÇA
Médico e professor da Ufal
O sisudo coronel Deodoro
Guerra era uma figura respeitada no velho Bebedouro das minhas recordações.
Lendário pegador de pistoleiros de aluguel no sertão alagoano, sua fama
atravessara fronteiras. Entre os bandidos, seu nome inspirava temor e
confiança, pois sabiam que ao mesmo tempo em que era implacável na perseguição,
era rigoroso na garantia da vida do preso.
Goleiro medíocre quando jovem, destacava-se sobretudo pela coragem em atirar-se nos pés de adversários nem sempre dóceis.
A relativa dificuldade em ser vazado em bolas rasteiras era inversamente proporcional aos gols que levava de bolas altas.
Não poderia ser diferente: de compleição franzina, Guerra não media mais que um metro e sessenta de altura.
Quando o conheci era juiz das peladas do bairro. Chamar de pelada é um insulto ao meu “glorioso” passado esportivo; na verdade refiro-me aos grandes clássicos de Bebedouro quando as diferenças entres os rivais das turmas da Praça, da Chã e do Flechal eram decididas numa partida de futebol. Com ele no apito, até os torcedores mais fanáticos baixavam o fogo.
Deodoro Guerra era um homem arredio. Lembro dele como um freqüentador bissexto do “Ponto Final”, celebrado point da boemia bebedourense nos anos 60 do século passado. Apesar do ambiente onde o “galo-de-rabo” (explosiva mistura de conhaque com Sinzano) corria solto, jamais o surpreendi com um copo de bebida.
Na realidade, a cachaça de Guerra era o futebol. Durante muitos anos um grupo de amigos – peladeiros e biriteiros – reunia-se semanalmente para animado racha.
Já na casa dos 70, com umas banhas a mais, era centroavante cativo, nunca deixando de emplacar um golzinho. Claro que a maioria em escandaloso impedimento.
Os biriteiros do lado de fora tiravam o maior sarro. Um dia, depois de driblar o goleiro adversário, um companheiro de equipe passou a bola redondinha para Deodoro Guerra; era ele e a trave vazia.
Guerra atrapalhou-se, tentou acertar na bola e chutou o vento, caindo vergonhosamente sentado. Perdeu o gol mais feito do mundo.
Naquele instante, alguém embriagado gritou: “Tira esse gordo nojento que ele está enterrando o time.” Ainda no chão, injuriado, o coronel olharia para a platéia tentando localizar o provocador; depois, baixou a cabeça e arrastou seu corpanzil campo a fora. Desde então, nunca mais foi visto.
Goleiro medíocre quando jovem, destacava-se sobretudo pela coragem em atirar-se nos pés de adversários nem sempre dóceis.
A relativa dificuldade em ser vazado em bolas rasteiras era inversamente proporcional aos gols que levava de bolas altas.
Não poderia ser diferente: de compleição franzina, Guerra não media mais que um metro e sessenta de altura.
Quando o conheci era juiz das peladas do bairro. Chamar de pelada é um insulto ao meu “glorioso” passado esportivo; na verdade refiro-me aos grandes clássicos de Bebedouro quando as diferenças entres os rivais das turmas da Praça, da Chã e do Flechal eram decididas numa partida de futebol. Com ele no apito, até os torcedores mais fanáticos baixavam o fogo.
Deodoro Guerra era um homem arredio. Lembro dele como um freqüentador bissexto do “Ponto Final”, celebrado point da boemia bebedourense nos anos 60 do século passado. Apesar do ambiente onde o “galo-de-rabo” (explosiva mistura de conhaque com Sinzano) corria solto, jamais o surpreendi com um copo de bebida.
Na realidade, a cachaça de Guerra era o futebol. Durante muitos anos um grupo de amigos – peladeiros e biriteiros – reunia-se semanalmente para animado racha.
Já na casa dos 70, com umas banhas a mais, era centroavante cativo, nunca deixando de emplacar um golzinho. Claro que a maioria em escandaloso impedimento.
Os biriteiros do lado de fora tiravam o maior sarro. Um dia, depois de driblar o goleiro adversário, um companheiro de equipe passou a bola redondinha para Deodoro Guerra; era ele e a trave vazia.
Guerra atrapalhou-se, tentou acertar na bola e chutou o vento, caindo vergonhosamente sentado. Perdeu o gol mais feito do mundo.
Naquele instante, alguém embriagado gritou: “Tira esse gordo nojento que ele está enterrando o time.” Ainda no chão, injuriado, o coronel olharia para a platéia tentando localizar o provocador; depois, baixou a cabeça e arrastou seu corpanzil campo a fora. Desde então, nunca mais foi visto.
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