Em nome da mãe
Mais rapidamente do que o esperado, o mundo vai voltando a sua normalidade (?). Mal terminou a Copa do Mundo da Alemanha já se trombeteia a da África para daqui a quatro anos. O trem tem de seguir; o mundo tem pressa. A derrota do Brasil para a medíocre França, bem ou mal digerida, está sendo expelida. Não há tempo para se chorar um fracasso esportivo.
A falta de empenho ou de competência (ou as duas juntas) dos nossos jogadores dentro em breve serão recordações anódinas. No fundo, todos sabem que atletas têm prazo de validade. Dirigentes e povão não quiseram enxergar a decadência dos ídolos.
Mas a Copa da Alemanha de 2006 deixará gratas lembranças, fora a inexpressiva participação do time brasileiro. Não se pode deixar de registrar, graças à força e à magia do futebol, o entusiasmo do povo germânico em se reconhecer novamente como uma nação, depois de tantos anos dividido por humilhante muro.
Como num desfecho shakespeariano, a tragédia do astro francês Zinedine Zidane está definitivamente incorporada ao histórico das Copas. Se já não bastasse a excelência técnica do atleta, por si só suficiente para inseri-lo no restrito panteão das celebridades, acrescente-se sua expulsão do jogo, que seria o último de sua carreira. Coincidentemente, numa final de Copa do Mundo...
O drama de Zidane nos remete a um episódio vivido por Domingos da Guia, pai de Ademir da Guia, jogador palmeirense dos anos 70 do século passado. Domingos, zagueiro “clássico”, numa disputa com a Itália, na Copa de 1938, surpreenderia a todos ao chutar um adversário, quando a bola não estava em jogo. O lance, ocorrido dentro da área, foi punido com um pênalti (que foi convertido), e o brasileiro seria expulso de campo. No caso de Zidane, aparentemente não havia motivos para uma inesperada cabeçada (“coup de boule”) no peito do adversário italiano. O ato agressivo restaria inexplicável para o grande público, não fora a tecnologia. Inicialmente crucificado por toda a imprensa, o astro francês estaria ratificando sua fama de irascível.
Amado e odiado no seu país por razões diferentes, Zidane não é demônio, nem santo. Sua origem argelina enseja antipatias preconceituosas. É um vencedor. Como a maioria das grandes estrelas, é garoto propaganda da Adidas e da Danone.
Longe do perfil “bad boy”, costuma sair do sério quando falam mal de sua santa mãezinha. Nesse aspecto, um “coup de boule foi pouco”.
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