quinta-feira, 18 de julho de 2019

O PÓ PREMIADO AGOSTO 2006


O pó premiado


     Decepcionado por mais um fracasso na busca de uma solução para o filho portador de paralisia cerebral, o irreverente colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, teceu considerações nada lisonjeiras sobre os médicos americanos.
     As críticas, como era de se esperar, sobraram para os médicos em geral e a medicina como um todo.
     Mainardi não faz segredos da luta que trava contra essa cruel doença, ferida narcísica permanentemente dilacerada. É um embate desigual, posto não haver tratamento eficaz reconhecido cientificamente.
     Nem por isso pais intelectualmente abastados resistem aos apelos de charlatões e picaretas, que acenam com curas maravilhosas.
     Com efeito, na esperança de uma melhora, materialistas de carteirinha não hesitam em submeter-se a previsíveis sessões espirituais, invocando entidades que variam do indefectível Doutor Fritz ao pilantrinha alcunhado de Caboclo Mamador.
     Como sempre acontece, os artigos de Mainardi despertam polêmica. Peço licença para reproduzir os comentários de um leitor do Paraná, encaminhado à revista Veja:  “Espetacular o artigo de Diogo Mainardi. Desmascara esse rótulo de médicos americanos cheios de títulos serem os tais. São nada. Bons mesmos são os clínicos gerais nos interiores do País afora, que cuidam da população mais carente do Brasil com suporte físico e técnico precário. A medicina precisa de vida, e não de títulos para inflamar egos e acumular pó!”
     A propósito de títulos e pó, o governo federal, cedendo a lobistas da educação, e certamente por conta das eleições, deu o ar da graça resolvendo fazer um afago nos professores universitários, premiando aos que têm tese de doutorado.
     A idéia central, ao que parece já sacramentada, é criar uma nova categoria de professor – Professor Associado – contemplando professores adjuntos portadores desse título.
     Independente da atividade desenvolvida, professores adjuntos que não tenham doutorado ficarão chupando o dedo.
     A discriminação é chocante. Sem tirar os méritos de quem investe numa tese, o fato é que os doutores atualmente já são beneficiados por uma razoável gratificação salarial.
     Soa hilário saber-se que muitos deles têm horror a alunos e salas de aula.
     Isso sem falar que boa parte dessas teses padecem de inutilidade e jazem empoeiradas em esquecidas prateleiras. Talvez não tenham sido lidas nem pelos seus autores.


Nenhum comentário: