A camisa do homem feliz
Um jovem príncipe da Ásia vivia muito triste. O rei, seu pai, consultara todos os mestres da medicina e tudo fora em vão. Desesperado com a piora progressiva, um velho sábio, convocado às pressas, concluiria que a doença só seria debelada se o jovem vestisse a camisa do homem feliz.
Partiu então o rapaz em busca da tal vestimenta. Nas suas viagens pelo mundo vestiu camisas de poderosos e famosos e nada aconteceu.
De volta, já nos jardins do palácio real, o príncipe viu um homem que cantava e sorria enquanto carregava um pesado fardo. Chamado para uma conversa, o homem, sempre sorrindo, confirmou que era muito feliz. O príncipe então implorou que o súdito emprestasse sua camisa. “Mas eu não tenho camisa”, respondeu-lhe o trabalhador.
Resgatei recentemente essa conhecida história por conta da notícia de que um jovem conterrâneo fora acometido de um profundo vazio existencial, semelhante àquele do príncipe oriental. Depois de fracassarem todos os tratamentos, os especialistas chegaram à mesma conclusão que o sábio asiático. Somente a camisa de um homem feliz salvaria o doente.
Ao contrário do que aconteceu com o príncipe, não foi difícil encontrar a solução. De fato, nosso País é o paraíso de cidadãos felizes, rol encabeçado pelo próprio presidente, que não só é feliz, mas absolutamente íntegro.
Também não foi complicado marcar um encontro com o presidente Lula. O problema é que com o apagão, o rapaz não resistiu ao massacre da espera nos aeroportos. Por infelicidade, um violento acesso nervoso o retiraria do voo justo na hora de embarcar para Brasília.
Haveria de ter uma solução. Quando estava em vias de procurar os felizes parasitas que continuarão mamando nas tetas do governo durante mais quatro anos, a foto de um secretário de Estado despertaria a atenção do infeliz. Era uma matéria jornalística que insinuava conduta inadequada do gestor, pelo sumiço de milhões dos cofres públicos. O detalhe da foto do secretário (a tal que tinha chamado a atenção) era seu ar de celestial felicidade. Haveria de encontrar o secretário.
Depois de ouvir o drama do rapaz, o secretário admitiu sua condição de homem feliz. Até confidenciou que nem sempre Deus tinha olhado para ele. (Épocas duras em que as viagens de recreio mais longas eram para Garanhuns). O divino olhar só pendera a seu favor depois que assumira aquela pasta. Quanto ao empréstimo da camisa, nem pensar. “Imagine só, desfazer-me de uma camisa que só este ano me levou oito vezes à Europa”.
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