Em nome do filho
A vizinha Argentina impressiona sob muitos aspectos. A passionalidade portenha revelada pela sua música é um exemplo. As dançarinas de tango com seus passos cadenciados e as belas pernas insinuando-se nas generosas aberturas das saias sugerem paixão, aventura e muita encrenca. (Anos atrás, quando se queria referir a algo de preço exorbitante, costumava-se dizer: cara como uma amante Argentina).
Contudo, não há dançarina de tango que se compare àquelas figuras soturnas das mães que perderam seus filhos para a brutalidade da ditadura, as madres de Mayo. A orfandade daquelas mães nos choca e nos impele a futucar na nossa sensibilidade meio entorpecida.
Botando a passionalidade argentina no chinelo, tivemos entre nós uma mulher que, sozinha, valia por todas as madres. A estilista Zuzu Angel foi esta criatura. Vivendo numa época em que poucos ousavam enfrentar abertamente a ditadura, a estilista impôs-se luta incessante na busca do paradeiro do filho Stuart, universitário ligado a um partido clandestino que antagonizava o sistema.
Como tantos que fizeram do talento individual instrumento de protesto e denúncia, Zuzu Angel transformou sua arte (ironicamente, frívola e burguesa) num hino de amor ao filho desaparecido. Longe de encarnar a militante Pilar, mítica revolucionária da guerra civil espanhola, o partido político de Zuzu atendia pelo nome de Stuart. Por ele desafiou poderosos e apaniguados. Incomodou tanto que provocaram sua morte num “acidente” absurdo.
Num País de tão poucos nomes a cultuar, em boa hora a história de Zuzu Angel está sendo contada num filme protagonizado por Patrícia Pilar. Quem assistiu faz as melhores referências.
Na realidade, mães anônimas ou célebres são guerreiras sempre prontas a enfrentar poderosos em nome dos filhos. Cada uma com seu estilo, que ninguém brinque com as mágoas de uma mãe! Na semana passada, numa entrevista a um jornal de São Paulo, a mãe da senadora Heloísa Helena manifestou toda a extensão de sua revolta ao confessar que estaria disposta a arrancar a barba de Lula.
Mais radical foi a mãe de Zinedine Zidane, o craque francês que aplicou uma cabeçada no peito de um adversário, no final da copa do mundo. Na sua santa ira materna, mamãe Zidane só pensava em ter à mesa os testículos do italiano.
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