PAÍS
DE TRAMBIQUEIROS
Em 1971, ainda de ressaca pela
comemoração da formatura em medicina, receberia intrigante telefonema de um
conhecido que trabalhava em corretagem, informando que eu havia sido
contemplado com um prêmio concedido por uma seguradora, a APLUB, se não me
engano.
Confirmando o adágio que garante “que
de esmola grande o cego desconfia”, o “prêmio” nada mais era que um plano de
seguro de vida sem qualquer cláusula especial a não ser as condições previstas
para alguém de 23 anos de idade.
Com a perspectiva de ficar longe de
Maceió durante alguns anos, pensei nas armadilhas que poderiam estar a minha
espera alhures, pensei na minha filha de um ano, terminando por encarar as
prestações. Não se falava de computador pessoal, mas a era do telemarketing
estava sendo inaugurada.
Espécie de alvo preferencial (ou
vítima) de corretores, passei a sofrer verdadeira perseguição. Na época da inflação cavalar, lembro bem de
um sujeito de olhos esbugalhados e de barriga de deputado que vinha do Recife a
cada 3 meses me convencer a mudar de faixa. Um chato insistente.
Na esperança de ter uma velhice menos
apertada, deixei-me seduzir pelo
Montepio da Família Militar, cujos carnês amarelos até há pouco tempo
inutilmente guardava. Vivendo numa ditadura militar, como poderia imaginar que
uma instituição ligada aos donos do poder daria com os burros n´água, fechando
as portas por má administração.
Um dia os carnês ficaram obsoletos. A
moda passaria a ser desconto em folha, facilitando sobretudo a vida dos
falsários. Com a falência do Montepio, resolvi pagar um plano da Federal de
Seguros, afinal estava passando de jovem para maduro... Anualmente uma
senhora de ar sombrio me entregava um certificado, aproveitava o ensejo
e propunha atualizar valores. Tudo muito profissional.
De repente, a distinta profissional
foi substituída por gente mais jovem, mais falante, influenciando minha decisão
de sair da Federal. Por conta de manobras escusas meu raquítico contracheque viraria o paraíso
dos corretores. Valia mais morto do que
vivo.
Esta semana fui surpreendido com um novo
desconto não autorizado, patrocinado
pela Federal de Seguros. Seguindo orientações,
fui atrás do escritório da seguradora aqui em Maceió. A surpresa maior
foi constatar que nem representantes a tal seguradora mantém no Estado.
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