quinta-feira, 18 de julho de 2019

CRÔNICAS DE 2006


Sabotagens e picuinhas
 Ronald Mendonça
 Médico e professor da Ufal

     Embora pouco lembrada pelo poder central em épocas normais, insignes visitantes costumam dar o ar da graça em tempos de férias para curtir a hospitalidade do alagoano e as belezas da nossa dadivosa natureza.
     Nesse final de ano, tivemos a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em busca de algum lugar do passado matriarcal na cidade de Viçosa.
     FHC veio, viu e saiu elogiando as cores e a tepidez das nossas águas marinhas. De quebra, anunciou que não será candidato a presidente da República, o que já é um conforto. Pensem o que seria aguentar 4 anos de FHC depois dessa lástima que aí está.
     Ontem, os jornais estamparam a figura simpática de Saraiva Felipe, atual ministro da Saúde. Não sei se por conta de ângulos fotográficos, o que de cara impressionou foi o respeitável volume abdominal do ministro. (Se se tratasse de um nordestino pobre, dir-se-ia que era portador de um algum achaque hepático ou um pinguço irrecuperável).
     Não sei se levado pelo clima geral da calorosa receptividade, Sua Excelência comprometeu-se em contemplar-nos com generosas verbas.
     Só 14 milhões garantiu para a nossa Unidade de Emergência, pai e mãe do que existe de mais calamitoso em termos de assistência médica. Lamento dizer que, mesmo que esse montante chegue, o problema da UE não será solucionado.
     A superlotação da Unidade de Emergência é (e isso todos sabem), antes, fruto da perversão do sistema de saúde vigente, que inviabiliza a transferência dos doentes para outras unidades hospitalares, sobretudo as da rede privada. Só hospital-suicida agüenta tratar doente grave do SUS oriundo da Unidade de Emergência. É um prejuízo descomunal. Nesse aspecto, o SUS é uma grande piada.
     Ainda num paroxismo de entusiasmo, Saraiva Felipe prometeu aumentar o valor das diárias hospitalares. Infelizmente não dá para acreditar nisso, pelo simples fato de esses aumentos dependerem da turma do Palocci.
Salvo engano, a grandiloqüência ministerial elegeu como o “grande esquecido” o Hospital Universitário.
     De fato, muitas vezes vítima de supostas sabotagens e picuinhas, o HU, responsável pela formação anual de 80 médicos, é, misteriosamente, sempre preterido.
     Basta dizer que há 10 anos briga por um simples eletrencefalógrafo (valor máximo de 20 mil reais), que nunca chega.



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