Bola de neve
RONALD MENDONÇA
Médico e professor da Ufal
Tudo é possível, mas recuso-me a acreditar que as manchetes sobre a violência em Alagoas façam parte de uma maliciosa estratégia de campanha com a única intenção de solapar o governo Ronaldo Lessa. Diz-se que os marginais estão cada vez mais bem armados, ousados e criativos e que a repressão policial é indigente para acompanhar toda essa evolução. Segundas intenções à parte, embora não seja de agora, tudo leva a crer que a segurança pública no estado precisa de uma boa e urgente reformulação.
A questão não se restringe a troca de nomes. Técnicos e palpiteiros em geral - categoria na qual me incluo - são unânimes ao afirmar que faltam policiais nas ruas e nos quartéis. Calcula-se que há carência de cinco mil policiais militares.
Exemplo do ridículo da situação é o número de militares garantindo a segurança na movimentada Barra de São Miguel, por sinal, palco de recente assalto a turistas - coincidentemente um juiz de direito, de Goiás, e respectivos familiares.
Não se pode dizer que fugas e rebeliões nos presídios são inventos de agora. O incrível é a apatia para encarar a recorrência dos fatos , a ponto de se dizer que no Baldomero Cavalcante (o tal de “segurança máxima”) só fica quem quer.
Verdadeira bola de neve, não é por acaso a escalada da bandidagem. A começar pela própria legislação, por si só um amável convite à criminalidade. Imaginemos um sujeito que cometa um bárbaro assassinato, vá a um júri e seja condenado a 30 anos de reclusão. Esse tempo não passa de uma ficção, porque nas entrelinhas o juiz introduz alguma frase marota que permitirá a saída do assassino com um sexto do tempo. É a “progressão”, prêmio previsto em lei. Daí a pergunta: por que não matar se daqui a pouco estarei na rua?
Nem é preciso sair de casa. O leitor liga a televisão e se dá conta de que o mundo está apodrecendo. Assista a uma sessão de qualquer uma das CPIs e você vai ver o porquê de muita gente optar pela marginalidade. Se o deputado, ilicitamente, pode ficar rico da noite para o dia, por que não o eleitor?
Aí você pensa que a roubalheira se resume aos parlamentares. De repente, um grupo que se apresentava como o pai e mãe da ética é eleito para dar uma consertada geral. Em vez disso, monta uma rede nunca vista de pilhagem aos cofres públicos. O pior foi saber que essa gente já sacaneava muito antes de chegar ao poder.
Restam os exemplos dos “cidadãos de bem”, mas o espaço acabou...
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