quinta-feira, 18 de julho de 2019

O CAVALO DE SETE DE SETEMBRO JUNHO 2006


O cavalo de 7 de setembro
 RONALD MENDONÇA
 Médico e professor da Ufal

     Com o processo eleitoral em andamento, o significativo silêncio de boa parte do MST confirmava a hipótese de um acordo de cavalheiros entre o governo federal e os líderes do movimento. Embora negado por ambas as partes, de fato, há alguns meses que o MST baixara a bola e dera uma trégua nas marchas e nas invasões de prédios públicos e propriedades privadas.
     Não é à toa essa parceria. Durante muito tempo o movimento dos sem terras foi o braço insurrecto do PT no campo. Enquanto estava na oposição, Lula e seus companheiros não escondiam o apoio irrestrito a todas as ações do grupo, fingindo não ver os excessos, os rastros de destruições que incluíam incêndios, empastelamentos, saques e até mortes.
     Na sanha de desmoralizar os opositores, na época instalados no poder, muitos petistas comemoraram a invasão da fazenda do presidente FHC, em Minas Gerais. Um deboche desnecessário.
     Finalmente, a poucos meses do fim do mandato, ficou claro que o governo Lula é uma peça de ficção. Apesar de toda simpatia que emana do nosso presidente, os 10 milhões de emprego repetidos a larga mano durante a campanha de 2002 eram delírios ludibriantes do publicitário Duda Mendonça. A sonhada reforma agrária é de assombrosa inocuidade.  Enquanto a saúde no País é caso de polícia, a violência fugiu de qualquer controle.  Tentando disfarçar o fracasso, o governo optou pela esmola em forma de programas. O  Bolsa-Família é o exemplo acabado da oficialização da compra descarada de votos. Na enxurrada, as hortas do MST são regadas com 10 milhões anualmente. Com colossal cala-boca não é de estranhar o atual retiro. Hoje, com a reeleição aparentemente garantida, governo e apaniguados fogem de qualquer indício de turbulência. Tudo ia dentro do script até o dia seis de junho quando uma horda sob a bandeira de um certo  MLST invadiu a câmara dos deputados em Brasília. É que faltaram combinar o armistício com o líder rebelde Bruno Maranhão, reliquat anacrônico das lutas armadas dos anos 60 do século passado. Naquele ambiente de loucura coletiva (ali poucos resistiam a uma avaliação psiquiátrica), num dado instante a lucidez surgiu em forma de uma entrevista de um dos líderes. Depois de esculhambar PSDB e PFL, o militante referiu-se ao presidente de forma irretocável. “Lula é como um cavalo de 7 de setembro, todo enfeitado, cagando de palmo em palmo, e o povo não cansa de aplaudir”.



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