quinta-feira, 18 de julho de 2019

A VONTADE DE CADA UM OUT 2006


A vontade de cada um


     Aos poucos, o país, que emergiu seccionado ao meio com o resultado do primeiro turno, mostra tendência a pender para o presidente Lula, prenunciando um segundo mandato.
     Não sei se a decisão, se confirmada nas urnas, é a mais sábia. A psicologia das massas não é minha praia. Recolhido à insignificância de operário-artesão da medicina, apenas registro, sem procurar desvendar, os segredos que habitam a vontade popular.
     A esse respeito, lembrei-me de uma história relatada pelo engenheiro José Augusto. À frente de um exército de operários, rasgando estradas pelo país afora, Augusto tinha um mestre-de-obras evangélico que era um símbolo de seriedade e intransigência.
     Um dia, chegou aos ouvidos do engenheiro rumores de que a esposa do mestre-de-obras vinha escorregando nos seus deveres matrimoniais.
     A boataria já corria solta pelo canteiro de obras e em várias oportunidades peões (como são conhecidos os serventes de pedreiros) recalcitrantes - depois de reprimendas - saíam resmungando entre dentes o odiento adjetivo que costuma batizar maridos de mulheres infiéis.
     Temendo uma desgraça entre os operários, meu amigo Augusto chamou o empregado para uma conversa franca. Sem meias verdades, disse-lhe tudo: nos freqüentes serões varando as noites, o sagrado leito matrimonial do piedoso marido era profanado por ricardões e pés-de-pano. A esposa do pobre homem era uma Messalina insaciável.
     Certamente os rígidos princípios religiosos pesaram na decisão do traído. Dignamente o homem afastou-se da casa passando a dormir na própria obra. De dia trabalhava como um mouro, à noite dedicava-se a ler a bíblia e a pregar o evangelho para os companheiros descaminhados.
     Semanas se passaram até que um dia o engenheiro Augusto surpreendeu-se com a notícia de que todas as noites, sorrateiramente, o sisudo mestre deixava o acampamento regressando ao alvorecer. Seguido pelos peões constatou-se o que parecia impossível: estava se encontrando com a ex-mulher na antiga residência. O detalhe era que entrava na casa pela janela.
     Novamente o engenheiro voltaria a avistar-se com o mestre-de-obras. Queria ouvir de sua própria boca a verdade. Sim, a história procedia. Ele voltara a dormir com a mulher. Intrigado, Zé Augusto quis entender os porquês do retorno.
     Meio envergonhado, o mestre saiu-se com a enigmática explicação: “Cada um sabe o que ´pissui´, doutor”.



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