Orelhões e celulares
RONALD MENDONÇA
Médico e professor da Ufal
Pouco mais que uma semana separa a insurreição paulistana comandada por Marcola da sessão plenária que inocentou o deputado federal do PP paulista Vadão Gomes, acusado de guloso beneficiário do esquema de corrupção do PT, conhecido como mensalão.
Apontado por Marcos Valério como receptador de quantia em torno de três milhões e setecentos mil reais, o deputado foi consagrado com expressiva votação favorável. Dessa vez não houve rebolados. É que as absolvições dentro daquela Casa viraram uma rotina tão grande que ninguém quer gastar a libido em miudezas.
Nobres parlamentares – gatos pingados – ainda se esforçam para demonstrar uma certa indignação.
No fim de tudo, todos sabemos, trata-se de jogo para a platéia, puro teatrinho de escola primária.
Estava na cara, como as anteriores, era partida de cartas marcadas.
A “maldição da tumba” ronda a atual legislatura. Quem imaginava que o escândalo dos mensaleiros era página virada, que deveria ser rapidamente esquecido, eis que surgem os tenebrosos sanguessugas, bruxas madrinhas que transformaram simples ambulâncias em automóveis de altíssimo luxo, pelo menos no preço.
Fala-se num buraco de 110 milhões. Se for dado crédito à assessora do ministério da saúde, nada menos que 287 parlamentares estariam no rolo. É mais um esquema de fraudes envolvendo parlamentares que certamente terá destino semelhante ao dos mensaleiros.
Mas a turma não perde a pose. Na quinta-feira da semana passada, durante uma sessão de CPI, um dos depoentes, advogado (pilantra, é bom que se diga) falou qualquer coisa considerada ofensiva à honra parlamentar, despertando invulgar fúria cívica.
A irreverência do bacharel rendeu-lhe o nome de “bandido” e um par de algemas.
Na verdade, nossa nação viveu uma semana de frutos podres.
Se não bastasse a incômoda situação da polícia paulista, enrolada nas centenas de mortes como represália ao crime organizado, o comportamento heterodoxo dos advogados de Marcola & Cia deixaria a egrégia OAB em xeque-mate.
Para Alagoas sobrou a shakespeariana questão, “ter ou não ter orelhão nos presídios”. Se o bom senso predominasse, seria concluído que celulares e orelhões são armas tão perigosas em Brasília como em qualquer prisão do País.
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