Filho em mulher alheia
RONALD MENDONÇA
Médico e professor da Ufal
Inoportuna, fútil e sobretudo histriônica - como toda greve de fome -, o sacrifício de Garotinho, pelo menos até agora, tem se revelado inútil. Como o povão é movido à emoção, é possível que uma progressiva queda do estado de saúde, pondo em risco a vida do rechonchudo político, possa comover o grande público. Por enquanto, alio-me àqueles que pensam que tudo isso é uma grande palhaçada.
Não dá para acreditar: seria muita cara-de-pau se esse sujeito estiver, nas caladas da noite, recebendo rações de barras de cereais e queijos Polenguinho... De qualquer forma, além de revelar preocupante infantilismo emocional para alguém que almeja ser presidente da República, greve de fome carece de credibilidade, por não fazer parte da nossa cultura. Ainda mais feita por político.
Na realidade, um dos maiores problemas da greve de fome é a escolha do momento de dá-la como finda, sem cair no ridículo. O que parece fato consumado é o isolamento de Garotinho no seu partido. Mero coadjuvante no processo sucessório, o PMDB dificilmente confirmará o faquir carioca como seu candidato à presidência da República. A verdade é que quando se pretende emagrecer, o caminho é seguir o exemplo do presidente Lula, que abandonou a bebida alcoólica e leva a sério uma dieta balanceada, pobre em hidratos de carbono. Infelizmente, nosso elegante presidente não consegue manter o mesmo equilíbrio na hora de cumprir seu intransferível dever de defensor dos interesses nacionais. Aliás, não é a primeira vez que Luiz Inácio descuida-se do zelo com o patrimônio nacional. No início do mandato andou fazendo caridade, perdoando dívidas de países africanos. Agora foi Evo Morales quem pegou pesado. Há 3 anos e seis meses no poder, o honrado Lula sob nenhuma hipótese poderia ignorar que a Petrobras explorava as riquezas naturais da Colômbia, comprando gás aparentemente a preços vis. Pretenso líder das Américas, intransigente partidário da união dos povos do cone sul, para ser coerente Lula jamais deveria ter permitido que a estatal brasileira continuasse a dilacerar as veias do vizinho amigo. De olho no iminente prejuízo, o momento não é para bravatas. Contudo, acovardar-se pousando de “ideológico” e prometer que a Petrobras vai permanecer investindo em território francamente hostil, é querer jogar dinheiro público fora. É fazer filho em mulher alheia, como se dizia antigamente...
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