A canja do Ariano
A presença de Ariano Suassuna no programa eleitoral fazendo a apologia de Luiz Inácio Lula da Silva seria cômica, não fosse melancólica.
Suassuna é um tipo sui generis. Consagrado nacionalmente, membro da Academia Brasileira de Letras. Quem assistiu a alguma entrevista sua embola de rir. É um camarada gozadíssimo, espirituoso, que explora divinamente bem aquele ar apalermado de falso matuto nordestino.
Não há dúvidas de que sua convocação como garoto propaganda pretende untar no candidato, depois de tanta lameira, uma camada de verniz de decência. É como se os marqueteiros estivessem dizendo: “Olha, não é só mensaleiro do Bolsa-Família que vota em Lula. Aí está um intelectual respeitado que despretensiosamente mostra a cara na televisão para encher a bola dele”.
Sem entrar no mérito dessa “espontânea e desinteressada” manifestação de simpatia do autor do Auto da Compadecida, o fato é que seus argumentos em favor do candidato, no mínimo, beiram a ingenuidade.
Segundo Suassuna, Lula é o seu escolhido porque pela segunda vez nesse País os brasileiros terão a oportunidade de eleger um homem verdadeiramente do povo. É claro que é uma alusão à infância indigente do presidente. Certamente, o escritor incorpora a tese de que a pobreza por si só redime e beatifica. Não ter freqüentado bancas escolares, ser inimigo declarado de leituras e livros seriam charmes adicionais. Nesses devaneios, a condição de ex-operário deve ser vista como uma vacina purificadora contra a decadência moral da burguesia.
A essa altura, o sujeito de classe média não passaria de um marginal, indigno sequer de ser chamado de povo. É possível que, na ótica do teatrólogo, quem nunca passou fome deveria estar impedido de concorrer a cargos eletivos. Quem sabe, deveriam ser banidos do País aqueles que ousaram estudar numa universidade. Desligadão, não é difícil supor que Suassuna ignore os escândalos que envolvem o governo do presidente-operário. É possível que ele nem saiba que seu parente, aliado de Lula, o senador Ney do PMDB, conste no rol dos sanguessugas.
Por tudo isso, alguém aí precisa avisar ao grande Suassuna que a penúria presidencial é página virada. Seu filhote, o Lulinha, colocou a família no hermético clube dos milionários depois de uma negociata com uma empresa de fundo de quintal, num cabeludo caso de tráfico de influência. É, como garoto-propaganda, Suassuna não está nada engraçado.
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