quinta-feira, 18 de julho de 2019

A DEMOCRACIA DA DOENÇA DEZ 2006


A democracia da doença


     Confirmando as estimativas mundiais sobre as causas de morte natural, Pinochet, que há anos arrastava-se, despediu-se vítima de doença cardiovascular. Seu colega de profissão, o cubano Fidel Castro, definha melancólico, devastado por um câncer intestinal.
     Embora partidários de ambos os lados rejeitem comparações, o recém-falecido general Pinochet, ex-ditador do Chile e Fidel Castro, ditador licenciado de Cuba, têm tudo a ver.
     Defensores de ideologias opostas e antagônicas, no poder, os grupos que lideravam comportaram-se de maneira exatamente igual, como, aliás, todo e qualquer déspota que se preza.
     As táticas são desprovidas de originalidade: cassação incondicional das liberdades, torturas, eliminação física e perseguição impiedosa de adversários reais ou imaginários, até que não existam sombras de oposição.
     Isso foi aplicado na Alemanha nazista, nos países comunistas da Europa e da Ásia, nos regimes talibans, nas ditaduras africanas e em todos os rincões em que o poder é mantido à força. Nosso estimado Brasil, deu uma mãozinha em práticas semelhantes em dois momentos: na ditadura Vargas, nos anos 30 do século passado, e na militar, de memória mais recente.
     O fato é que defensores do chileno destacam o crescimento do país depois da implantação das idéias direitistas do falecido general. Discordando da maioria, para alguns recalcitrantes arautos andinos, só em ter livrado o País da ameaça marxista, Pinochet já teria valido a pena. Os milhares de mortos e perseguidos seriam meros detalhes técnicos.   Líder de uma revolução que detonou uma ditadura inescrupulosa (se é que existem escrúpulos em alguma ditadura), Fidel Castro governa e reina há quase 50 anos. Sob o seu tacão, a ilha caribenha usa como cavalo de batalha as conquistas esportivas e a organização nos sistemas educacional e sanitário. Castro cometeu a proeza de socializar a pobreza.
     De tanto ver a conivência de venerandos intelectuais, estou inclinado a acreditar que nunca houve prisões arbitrárias ou julgamentos sumários em Cuba. Clamar por liberdade é coisa de pequeno burguês. Eventuais excessos (paredón etc.) bem que poderiam ser debitados a pontuais arroubos da vitória; nada mais que isso. O doce e terno Che Guevara, por exemplo, seria um sonhador incapaz de matar uma muriçoca...
     No fim de tudo, hoje resta apenas a certeza na implacável democracia da doença. Nem os mais ferozes déspotas a ela resistem.



Nenhum comentário: