quinta-feira, 18 de julho de 2019

O PECADO DE DEUS JUNHO 2006


O pecado de Deus
RONALD MENDONÇA
Médico e professor da Ufal
 
     A pulsação do tráfico pôde ser palpada com os paroxismos de violência que emparedaram São Paulo. Embora não tenha sido a primeira vez (nem será a última) de exibição de força e de certa organização, certamente foi a que mais atemorizou.
     O modo como terminou e o caráter essencialmente paulista da carnificina evidenciam que o crime organizado é uma casa de muitos donos, carecendo de um chefão geral. Por isso a coisa não foi pior.
     A aparente ausência de intenção de ocupar o poder formal, até o momento nada indica que haverá uma marcha “revolucionária” sobre Brasília para derrubar o presidente e o degolar com ministros, juízes, senadores e deputados.
     Como na política tradicional, o tráfico quer abocanhar poder informal a qualquer custo, quer vender seus produtos (É um negócio!) aliciando os pobres a mirar consumidores ricos e da classe média, aí incluindo adolescentes, universitários, intelectuais, políticos, artistas e profissionais liberais. Tendo no bolso deputados, a cumplicidade com a polícia e a justiça é o sonho dourado de todo traficante.
     Donatário do governo paulista, desprovido de consistência eleitoral – como todos os vices – o piedoso Lembo, vendo-se acuado pelo complô, denunciaria o abandono e a omissão dos aristocráticos aliados do PSDB, para depois jogar a culpa dos problemas de  São Paulo na “elite branca”, espécime que dispensa apresentação. Mais recentemente, apontou o consumismo como um dos pilares da escalada da violência.
     Tema para sociólogos e outros iluminados, somente uma doença chamada consumismo (e falta de lei, de ética e de moral) poderia justificar a opção pela marginalidade de uma turma que não passa privações.
     Maluf, Zé Dirceu, Quércia, o banqueiro Santos, o juiz Lalau e tantos outros, tão ou mais graúdos, são titulares absolutos desse time.
     Por falar em Copa do Mundo, quem andou pisando na bola foi Bento XVI.
     Desde o finado João XXIII, os bispos de Roma têm mantido certa intransigência com os saqueadores da liberdade e as injustiças. Os sucedâneos de Pedro, salvo aspectos pontuais, são uma voz de equilíbrio e credibilidade.
     De olho na teoria divina da criação, seria inalienável dever do Criador amar e proteger o que fez brotar. Para os que pensam que já ouviram tudo, visitando o que restou dos horrores do nazismo, dessa vez o sumo pontífice superou-se denunciando a omissão do próprio Deus.



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