Briga de comadres
Já me daria por satisfeito se conseguisse concentrar os meus comentários numa calamidade pública chamada SUS. Crítico habitual da “República Corrupta dos Campanheiros”, por uma questão de justiça, não considero o SUS obra exclusiva do PT & Cia. O Sistema Único de Saúde é, antes, um monstrengo esculpido a várias mãos, ao longo de sucessivos governos.
Curiosamente incensado por quem nele não trabalha ou não utiliza seus precários serviços, se no papel é uma obra de arte, na prática revelou-se altamente perigoso (apesar de inevitável) para consumo da população.
Agora mesmo os jornais estão publicando matéria que revelam a preocupação do Ministério Público em esmiuçar o que se esconde atrás da decisão dos hospitais de Maceió em restringir o atendimento aos usuários do sistema. É mais uma, certamente não será a última, das crises que acometem a assistência médica pública nas Alagoas.
Aliás, para tornar a ação menos episódica, seria mais efetivo se o Ministério Público visitasse mais freqüentemente a Unidade de Emergência Armando Lages. Talvez a instituição (MP) conseguisse desvendar o segredo de os doentes da UE estarem sempre amontoados.
Há outros mistérios. Um deles - motivo das atuais reivindicações - refere-se ao não pagamento integral das contas hospitalares. Com efeito, por insensibilidade, incompetência ou impotência (preferiria acreditar na última alternativa), virou tradição em Maceió deixar-se, sem qualquer justificativa, um resíduo de 10% do valor das faturas.
Ora, todos sabem que o SUS remunera muito mal. Nas clínicas conveniadas, despesas X receita vivem empatadas (com freqüência, predomina o vermelho). Se o SUS faz “forfait” na hora de pagar, não é difícil se prever o tamanho da quebradeira.
Os rombos no SUS atingem a todos, embora os mais penalizados sejam os mais pobres. Ainda que o leitor esteja incluído nos 10% por cento da população detentores de um plano de saúde privado, em algum momento da sua vida vai sentir na pele a amargura de um sistema público de saúde falido. Nem que seja como cidadão.
Ontem estava previsto o último bate-boca dos candidatos à Presidência da República. Com a reeleição de Lula assegurada, segundo os institutos de pesquisa, são sombrios os horizontes para a saúde. Até porque, nessa área, o PSDB de Alckmin não provou ser mais criativo. Nesse aspecto, o debate tem tudo para ser uma briga de comadres.
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