quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O QUE NOS AGUARDA

CRÔNICA DE RONALD MENDONÇA (Publicada no Blog do Carlito Lima)


O QUE NOS AGUARDA

Alagoas chega dividida ao dia das eleições neste 2010. Segundo os números dos institutos de pesquisa, há um empate técnico entre três candidatos ao governo, coincidentemente, dois ex-governadores e o atual, por sinal, licenciado. O desprezo pelas candidaturas de esquerda, até o momento, mostra quão é conservador o eleitor alagoano.
Para o senado, segundo as mesmas fontes, a surpresa é a candidatura da vereadora Heloísa Helena, que, tida como imbatível, entra em dispnéia e ameaça estertorar, ao mesmo tempo em que crescem as candidaturas “chapas brancas”. Especialistas e outros palpiteiros põem em dúvida se isso, caso se confirme, será salutar para Alagoas e para o Brasil.
Nessa batalha, todo apoio é bem vindo. Não saem baratos. Ouço dizer que as moedas de troca são as secretarias de verbas mais polpudas. Dito de outra forma: as secretarias de saúde e educação seriam os favoritos objetos de desejo dos sabidões. Serão esquartejadas e transformadas em currais eleitorais e inesgotáveis fontes de engorda de patrimônios pessoais. Se isso acontecer, não será a primeira vez neste estado. Sim, porque qualquer pilombeta sabe que verdadeiras quadrilhas já se instalaram nessas e em outras, inclusive na estratégica secretaria da fazenda, palco de lamentáveis acontecimentos.
No plano nacional, a divisão não é menor. É complicado. Não obstante a ostensiva utilização da máquina e o apoio frenético do presidente Lula, a candidata oficial patina na metade das intenções de voto, enquanto uma metade a rejeita. Doutra parte, os outros principais adversários também não empolgaram.
Não me queixo. O programa eleitoral foi um aprendizado. Depois de 40 anos na medicina, aprendi que o SUS é mais perfeito plano de saúde do planeta. Melhor que isso: nossos impostos estão sendo maravilhosamente empregados na educação de qualidade e na segurança pública. Nossas fronteiras são vigiadas como nunca. Tanto é que armamentos pesados e drogas em mãos de marginais praticamente desapareceram.
Melhor de tudo é o que nos espera. Defenestrada do cargo por má conduta, ficou “provado” que a meiga Erenice Guerra, o cérebro pensante da Casa Civil, é tão inocente quanto os bíblicos filhos Israel e Saulo. Braço direito de Dilma, será questão de tempo seu regresso às antigas funções. Outra boa notícia: finalmente chega ao fim o purgatório de José Dirceu, o mago do mensalão. Para alegria dos brasileiros, a previsão é de um retorno apoteótico do grande chefe

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

FIDELIDADE A UM ESTILO

De um certo viés, a recente morte da polêmica comediante Dercy Gonçalves nos remete à falecida cantora francesa Edith Piaf, até pelo tipo físico. Ainda razoavelmente jovem, com a saúde debilitada e a carreira em declínio, Piaf estouraria as bilheterias dos teatros com o grande sucesso “Je ne regrette rien” (Não me arrependo de nada), espécie de canto do cisne a fechar en grand stylo extraordinária vida artística. Nos últimos anos, a brasileira Dercy costumava repetir: “Não tenho mágoas de nada. Vivo o hoje.”
Laureada em vida e depois de tantas emocionadas homenagens póstumas, pode soar como imperdoável heresia admitir publicamente não compartilhar com o humor de Dercy (assim como não via graça em Grande Otelo), ainda que seja inegável que ela tenha sido fiel a um personagem. Com efeito, o grande papel de Gonçalves foi o dela própria, script do qual não se afastou um milímetro, até o último suspiro.
A par de incomum lucidez para a faixa etária, acho que parte da mídia, sobretudo os programas de auditório, usavam a Dercy somente para explorar seus destemperos semânticos, a arrancar lúgubres gargalhadas das platéias. Certamente o seu lado mais conhecido, não obstante o menos brilhante.
Sob o manto de secular vivência, testemunha ocular de fases tumultuadas do País, nunca soube que a atriz tenha sido instada a dar um depoimento sobre a Revolução de 32, por exemplo, ou sobre a ditadura Vargas. No máximo, era provocada a recontar à exaustão suas “espertezas” para driblar censores da ditadura militar. No fundo, quem sabe, intencionava-se transformá-la em mais uma mártir política do arbítrio. É claro que havia um discurso pronto e coerente. Afinal de contas, vai-se ao teatro ouvir palavrões quem quer. Por outro lado, imoralidades bem maiores são a fome, o desprezo pela saúde e educação, a corrupção, a impunidade...
De qualquer modo, algumas vezes me perguntei se era uma coisa realmente engraçada estimular uma senhora de 100 anos a soltar verbos, adjetivos e substantivos impróprios, sobretudo os dois últimos, com o intuito de se constatar sua grande forma.
Evidente que a comediante construiu vivenda de destaque no cenário artístico nacional. A biografia, desde uma infância sem recursos, a fuga para acompanhar modesta trupe de artistas, o relato de estupro, as recorrentes participações nas célebres chanchadas, não deixam dúvidas sobre sua capacidade de superação, garra e muito talento profissional.

MEIO SÉCULO DE LUTAS

No final dos anos 60 do século passado, um grupo de psiquiatras e neurologistas estava reunido no Rio de Janeiro em torno de um novo medicamento. Grandes vultos da psiquiatria brasileira davam o ar da graça. Meu pai, o psiquiatra José Lopes de Mendonça, sem fazer parte deste time de ungidos, também ali marcava presença.
Num dado momento, houve oportunidade para uma visita ao Hospital Dr. Eiras, tradicional clínica psiquiátrica carioca. Meu pai foi incluído no grupo dos convidados especiais. Com os “cardeais” à frente guiados por Paulo Niemayer, meu pai acompanhava junto com outros, do “baixo clero”. De repente, gritos fariam estancar a procissão: “Doutor Zé Lopes! Doutor Zé Lopes!” Seguiu-se uma corrida de uma mulher em direção a ele, enlaçando-o em comovido abraço.
Depois de tomarem conhecimento da alagoanidade do velho, soube-se dos porquês de um ilustre anônimo, único a ser reconhecido em terras tão distantes. O segredo era simples: a paciente em questão tinha sido internada na Clínica de Repouso Dr. José Lopes de Mendonça, ali no Mutange. A família transferira-se para o Rio; coincidiu de estar lá, na Dr. Eiras, justamente para encher a bola do doutor Zé Lopes.
A Clínica de Repouso Dr. José Lopes de Mendonça foi fundada em setembro de 1960. Dois anos depois se transferiu para o majestoso solar do Mutange, sua sede atual. A fundação foi fruto de um amadurecimento de mais de 12 anos de atividade na especialidade, período em que meu pai trabalhou no hospital psiquiátrico Miguel Couto, culminando com um Curso de Especialização em Psiquiatria, em 1958, no Departamento Nacional de Doenças Mentais, no Rio de Janeiro.
São 50 anos de serviços prestados à comunidade alagoana e a moradores de estados vizinhos, atraídos pela fama da instituição. Avesso a exposições midiáticas, Dr. Zé Lopes sempre resistiu a apelos que transformassem seu hospital em “Circo de Horrores”, colocando seus pacientes em situações grotescas, espetáculos que se prestam mais para polir o narcisismo de quem os promovem.
Mas, nem tudo foram flores nesse caminhar. Sem falar no êxito profissional que despertaria a ira de alguns, a Clínica teve que lutar, dentre tantas batalhas, contra o preconceito e movimentos iconoclásticos. Incondicional parceira do SUS, (indis)gestores da sigla escamoteiam o mais elementar dos direitos: pagar pelos serviços que recebe. Com efeito, a dívida da Secretaria Municipal de Saúde do Município está lhe causando uma asfixia insuportável.

A MISÉRIA QUE NOS RONDA

Debruço-me mais uma sobre o tema a partir de matéria da Gazeta de Alagoas desta quinta-feira (25/11) : a situação de penúria do Hospital Escola Portugal Ramalho. O momento é de tristeza. Patrimônio dos alagoanos, inaugurada em 1951, a instituição funciona desde 1956 – única pública – e presta relevantes serviços à comunidade.
Jóia da Coroa da Uncisal, o HEPR, ao contrário das congêneres particulares, tem seus privilégios: é poupado da folha de pagamento dos seus funcionários e respectivas obrigações sociais, ônus bancado integralmente pelo Estado. Logicamente está isento de todos os impostos, inclusive do insaciável imposto de renda. Ligada ao ensino, recebe valor de diária diferenciado. Ver a falência do Portugal Ramalho é como assistir a queda do muro de Berlim.
Não sei como classificar, na aludida matéria, o depoimento da enfermeira. Se denúncia ou desabafo. O fato é que doeu na alma a indigência asilar: as prateleiras vazias, a superlotação (desnecessária e irresponsável, quando existem leitos desocupados em outros hospitais), a escassez de funcionários e medicamentos e até a falta de prosaicas calcinhas e absorventes. Acrescente-se a esse cenário a verborragia de Lula e seus áulicos e teremos esculpida a síntese do sistema público de saúde do país.
A denunciada decadência certamente não é aguda. (Chamo a atenção dos gestores para a deterioração da Unidade de Emergência de Arapiraca). Não tenho dúvidas de que faz parte do maquiavélico plano de eliminação dos hospitais psiquiátricos, iniciado há pelo menos duas décadas. Com efeito, desde então criou-se uma falsa perspectiva de que a patologia mental, orgânica por excelência, poderia ser conduzida sem a figura do psiquiatra e das suas “meizinhas”. Que poderia ser abordada com êxito através de terapias alternativas, algumas nitidamente esotéricas, para não dizer “picaretosas”.
A verdade é que há 10 anos ninguém se preocupa em atualizar os valores de diárias e honorários médicos. Tão grave quanto isso é atrasar o pagamento, como ocorreu com a Secretaria Municipal de Saúde.
O lado irônico da notícia é que o Portugal Ramalho prima por ocupar espaço na mídia – a meu ver, expondo de forma inadequada seus pacientes. Auto intitulado de “hospital-modelo”, está para ser demonstrado cientificamente que fotos de doentes em jornais ou aparições na TV possam lhes advir algum tipo de benefício terapêutico. Além de alguma notoriedade para quem os expõe.

TERRA DE OPORTUNIDADES

Arapiraca, com suas terras férteis foi, em 1848, a escolhida do fundador Manoel André Correia dos Santos. “Foi numa Arapiraca frondosa e acolhedora situada às margens do Riacho Seco, onde Manoel André acampou no primeiro dia, quando procurava uma fonte de água doce onde pudesse se instalar”.
Abrigando-se sob a árvore teria proferido: “Esta Arapiraca será minha moradia”. Pungente no comércio, mas com a genética inclinada para o fumo e outras atividades agropecuárias, o município vem sofrendo importantes modificações.
A cidade que eu conheci mais de perto há cinco anos já não é a mesma. De fato, há um estado permanente, eu diria frenético, de ebulição. Beneficiada por uma série de boas administrações, a cidade ferve, se expande, transpira prosperidade. É um manancial de oportunidades. Vale acrescentar que sua riqueza é fruto do trabalho de uma miríade de pequenos agricultores. Houve em Arapiraca uma salutar e espontânea reforma agrária.
Falecido em 1935, Francisco de Paula Magalhães é apontado como o pioneiro na cultura do tabaco em Arapiraca. Se hoje o fumo não mostra a mesma força, seu apogeu, nos anos 60-70, tornou-a a “capital brasileira do fumo”, fama que lhe trouxe grande prestígio econômico.
No rol dos continuadores de Paula Magalhães estão Eduardinho, Gabi, Aurelino, Severino das Bananeiras, Adalberto Rocha, Deca Moço, Geraldo Lyra, Zé Alexandre, os irmãos Genilson e Jadielson, Zé Pivete, dentre tantos outros.
Arapiraca vai além do fumo e do glorioso ASA. Há poucos meses foi destaque numa revista de circulação nacional como exemplo a ser seguido pelo país. É presença forte na política nacional. O atual prefeito, Luciano Barbosa, foi ministro do governo FHC. A deputada eleita Célia Rocha, ex-prefeita da cidade, é uma das maiores lideranças do Estado.
Na Educação, Arapiraca vive momento de efervescência com a implantação de unidades da UFAL. Nesse item, o educador Moacir Teófilo dirigente do sexagenário Colégio Bom Conselho é um ícone.
No quesito Saúde, além dos tradicionais estabelecimentos, novos hospitais despontam, bem aparelhados e com equipes qualificadas.
Neste cenário de conquistas, um hábito ameaça a integridade física dos arapiraquenses: a disseminação da bombástica mistura álcool/motocicleta, aliada a proporcional ojeriza pelas mais elementares precauções, vem transformando prosaicos passeios em grandes tragédias. Hoje, acidentes com motos respondem por ¼ dos internamentos na UE do Agreste.

GOZO E CASTIGO

Depois do estardalhaço da “operação de guerra” que culminou com a “retomada” do território brasileiro que caíra nas indignas mãos do tráfico, parece que o noticiário está voltando ao seu padrão de costume.
As emissoras até que tentaram, a todo instante, criar um clima de paroxismo que efetivamente não ocorreu. O que se viram, no mais das vezes, foi deslocamento de helicópteros, policiais batendo papo de forma descontraída e dispneicos repórteres como se estivessem prestes a ser atingidos por explosões de granadas ou saraivadas de balas.
Com isso não quero negar os momentos de espetáculo midiático de grande efeito, como o da fuga em massa dos supostos deliquentes. Numa espécie de previsível êxodo, através de estrada de barro ligando o segmento invadido com as comunidades contíguas, só a polícia não sabia que aquela seria a rota natural de escape. Desalojar traficantes em manobras posteriores provou ser muito mais complicado. Dos centenas que fugiram, apenas alguns gatos pingados seriam capturados
Certas curiosidades merecem destaque. Fica a certeza inconfundível de que a polícia estadual seria incompetente (e bota incompetência nisso) para encarar a estrutura marginal. Diante do abundante material apreendido, entre armas, dinheiro e drogas, ficou evidente a criminosa omissão das autoridades, sobretudo federais, durante anos seguidos, isso inclui desde antes de FHC até Lulalá. Como esses caras foram irresponsáveis ao deixar ao “Deus dará” faixas territoriais sem qualquer controle!
E aí eu relembro que as favelas, sobretudo as do Rio de Janeiro, num passado não muito distante, eram considerados pelas elites intelectuais e gauchistóides como um fenômeno social de inteira responsabilidade dos governos capitalistas. Por conta disso, havia um condescendente e apaixonado olhar. Num paroxismo de inspiração, Chico Buarque faria a apologia do “meu guri”. Saber que a hipócrita e decadente burguesia da zona sul carioca estava de caras e veias enfiadas no tóxico era um gozo. (Jamais esquecer que só existe tráfico porque tem o cliente).
Com Lula, houve uma expansão (e o silêncio das elites). Nunca neste país o tóxico foi tão poderoso. No fim de tudo, com a proximidade da Copa, urgia tomar-se uma providência. Até porque os traficantes começaram a aterrorizar. Ônibus e carros ardendo em chamas costumam ter imensa repercussão internacional. Não fora isso, e os guris ainda hoje estariam belos e fagueiros vendendo seus bagulhos.

ESTREITAS BANDAS LARGAS

Peças valiosas, raros eram os telefones no Bebedouro da minha infância. Lembro bem do número 181 (eram só três números), que pertencia à Casa de Saúde Miguel Couto, vizinha à nossa casa.
Na adolescência, surgiu a TV preto-e-branco. Se em boa parte dos bairros de Maceió assistir televisão era uma novela, em Bebedouro, era uma absoluta frustração. O sinal vinha de Recife, havia uma retransmissora - acho que no Farol – que distribuía para a cidade. Escondido sob o morro, a barreira geográfica era fatal.
Mesmo no Farol, a coisa manquitolava. Os jogos da Copa de 1970 foram vistos em quarto de dormir, único local da casa onde as imagens poderiam ser chamadas de razoáveis. O colorido apareceu em 1974. Entre nós, o salto de qualidade, em termos de TV, deu-se com a criação, em 1975, da TV Gazeta, glorioso segundo grito de independência de Pernambuco.
Ferramenta revolucionária, a internet chegou de forma consistente para o público brasileiro na década de 90 do século passado. O acesso à rede, cada vez mais facilitado, inclusive pelo barateamento dos equipamentos, é uma verdade incontestável. Telefonia, internet e TV são instrumentos definitivamente interligados.
Até quase a dobrada do milênio, a importância do telefone se revelava de várias formas. Uma delas, era a imensa dificuldade de se obter uma linha; outra, pelo valor elevado, que fazia do equipamento sonho de consumo e bem de registro obrigatório nas declarações de imposto de renda. Hoje os celulares ultrapassaram em número a população. Sem pretender ser apologético, as privatizações abriram os horizontes do setor. Se dependesse do PT, o orelhão seria o equipamento símbolo.
A telefonia celular em Alagoas foi uma das pioneiras, graças a Marcelo Barros, o titã da telefonia caeté. Mas nem tudo era perfeito: um dia, procurei a Telasa Celular (hoje TIM) para uma queixa. Desgostoso com a má vontade de um burocrata indolente, vaticinei seu desemprego na hora em que a empresa fosse privatizada.
Usuário de várias corporações de telefonias e bandas largas, constato que os serviços oferecidos estão aquém da massacrante propaganda. Passados quase 20 anos, tenho as mesmas restrições para falar no celular em Ipioca. No mesmo distrito, não consigo sinal de banda larga por nenhuma das principais siglas. Sinal telefônico é pé de cobra em vários trechos no percurso para Arapiraca. Num flagrante desrespeito ao município que mais cresce em Alagoas, a telefonia móvel é uma alegoria azul. As bandas largas nem isso.

PAULICEIA DESVAIRADA

Em 1978, participei, de forma mais ativa, de primeira e última campanha eleitoral. Acompanhei passeata, botei retrato do meu candidato nos vidros do meu carro, pedi votos, fiz o diabo. Em Maceió, metemos trinta mil votos de diferença, vantagem tirada de letra por seis ou oito pequenas cidades do sertão, cuja votação dava quase cem por cento aos postulantes situacionistas. Era o tempo de MDB X Arena.
O MDB da época, único partido de oposição, abrigava várias correntes, desde democratas do calibre de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, dentre outros, que lutavam pela normalidade no País, até grupos que estavam convencidos de que a solução era uma ditadura nos moldes de Cuba ou da Albânia, quem sabe da chinesa ou da coreana.
O fato é que meu candidato não foi eleito. Mas as coisas mudariam: O MDB virou PMDB, a Arena ficou sendo PFL.
Uma coisa permaneceu quase imutável: o nordeste, sobretudo no interior, continuou governista até a alma. O clientelismo parecia estar no DNA do nosso povo. O Sul e o Sudeste, menos dependentes, elegiam oposicionistas, mas a maioria, graças ao Norte e Nordeste, permanecia dizendo amém à ditadura.
O PFL e o nordeste pagavam o preço pela submissão. Nossos irmãos de outras plagas (na época, oposicionistas), para achincalhar, chamavam o partido governista de “pefelê”, numa referência debochada ao modo “nordestinês” de recitar o alfabeto. Falavam misérias de nós. Até nordestinos repetiam o vocativo provocador, fazendo coro à descriminação.
O povo é mais fiel que nossos políticos. O tempo passou e ele continuou governista. Antes, era o clientelismo dos coronéis, hoje é o Bolsa Família. Nesse aspecto, o nordeste não decepciona, não faz feio, não trai. Povo valoroso, grato, de vergonha na cara: não deixou na rua a afilhada do Lula. É por isso que é questão de honra manter e ampliar esse Bolsa Família.
A propósito, há uma celeuma em torno de declarações ofensivas contra os nordestinos que elegeram a governista. Com ou sem razão, não é a primeira vez que isso acontece. Se hoje é a direita raivosa a acusar, ontem era a esquerda ressentida. No embalo, até velhas aspirações separatistas paulistanas vieram à tona. Desvairada, a pauliceia não livrou nem o nosso Márcio Canuto. Há muito se sabe que parte dos paulistanos nos vê como intrusos e usurpadores. Que adianta ficar falando em Graciliano, Raquel, Jorge Amado, Adib Jatene, se no meio disso espirram Zé Sarney, Jader Barbalho, Genoíno, Tiririca?
(*) É médico e escritor.

DISCURSO PROFERIDO NO MOMENTO EM QUE RECEBI O TÍTULO DE CIDADÃO ARAPIRAQUENSE

Meus senhores, minhas senhoras


É com grande emoção e entusiasmo que hoje compareço a esta egrégia casa legislativa para diante desta seleta plateia receber o honroso título de Cidadão Honorário da bela, operosa e próspera Arapiraca.

Arapiraca freqüenta a minha imaginação desde a mais tenra idade. É que meu pai, o psiquiatra e professor José Lopes de Mendonça, tinha por esta terra enorme simpatia e grandes amigos. Com efeito, um dos maiores amigos do meu saudoso pai foi o grande médico doutor Edler Lins, amigo-fraterno e compadre. Doutor Edler era padrinho do meu falecido irmão Robson Mendonça, que, como meu pai, era psiquiatra e professor da Universidade Federal de Alagoas.

Os arapiraquenses sabem que Edler Lins aqui chegou nos meados dos anos 40 do passado século, realizou um belo trabalho de desbravador, salvou muitas vidas, constituiu família criando profundas raízes neste território abençoado por Nossa Senhora do Bom Conselho. Nossas famílias fazem questão de preservar esses laços.

Durante este breve discurso quero homenagear algumas pessoas, arapiraquenses, de berço ou não, que prestaram relevantes e inestimáveis serviços à comunidade. Doutor Edler Lins é um deles.

O momento é de muita emoção e não quero, traído pelos sentimentos, me separar do essencial. Nasci em Maceió, no bairro de Bebedouro, há quase 63 anos. Minha mãe Rosa Cabral de Mendonça era professora. Cuidando de onze filhos, seu pendor para o ensino foi para educar os rebentos. Até dedicar-se à psiquiatria, meu pai exerceu a clínica médica em Bebedouro, já na época um bairro que tinha uma rica história de memoráveis festejos natalinos e carnavalescos liderados pelo lendário Bonifácio Silveira. Consta que o imperador D. Pedro II, nas suas andanças pelas Alagoas, lá estivera servindo-se das águas mansas da lagoa Mundaú.

Foi nesse bairro tradicional, embora algo decadente, que me criei. A partir dos seis anos iniciei meus estudos no Colégio Diocesano (hoje Marista) de onde saí aos dezoito incompletos para ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas. Posso lhes garantir que comecei a aprender a ser médico desde criança, com o meu pai, um médico de excepcionais qualidades. Apaixonado pela cirurgia, quando estudante, aproximei-me de Dirceu Falcão e outros famosos cirurgiões da época.

Depois de formado, fui para São Paulo. A essa altura já estava casado com a minha colega de turma Nadja Mendonça – hoje famosa psiquiatra e psicanalista – e já tinha uma filha, minha saudosa Lavínea. Passamos 4 anos em São Paulo e um ano no Rio de Janeiro nos aperfeiçoando. Em dezembro de 1976, após cinco anos de muito estudo e trabalho, voltamos a Maceió.

Dois meses após o regresso, passei a dar aulas na Faculdade de Medicina como professor de Neurologia, ao mesmo tempo em que assumia emprego de médico da Previdência, lugar que ocupo até hoje. No mesmo período, comecei a dar plantões no velho HPS de Maceió, na Rua Dias Cabral, e a prestar assistência na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, onde permaneço até os dias atuais.

Havia muito trabalho pela frente, como a pedra de Sísifo, personagem mitológica condenado a carregar uma grande pedra ao cume da montanha. Como castigo, a pedra rolava morro abaixo todas as vezes em que se aproximava do ponto mais alto, obrigando a infeliz criatura a repetir o esforço a cada dia. Essa praticamente é a vida de todos, médicos ou não. O segredo da longevidade na profissão é carregar a pedra de Sísifo não como um castigo, mas como um dever prazeroso.

Quando jovem, recusei dois convites para trabalhar em outra cidade. Um deles foi para assumir emprego de neurocirurgião no Hospital do Servidor de São Paulo, fazendo jus a aprovação em concurso público. O outro foi para fixar residência na distante Chapecó. Optei por Maceió e lá permaneci, exclusivamente, durante três décadas.

A perspectiva concreta de vir para a “capital do fumo” surgiu de forma inesperada há cinco anos. De repente, criou-se um hiato nos plantões de fim de semana na Unidade de Emergência do Agreste e a proposta de trabalho quis nos parecer razoável. Embora não fosse nossa intenção percorrermos quase 150 quilômetros a essa altura da vida, encaramos o desafio com o entusiasmo de um recém-formado. Acho que tem valido a pena esse esforço, agora coroado com esse título, graças à incalculável generosidade dos senhores. Faria tudo outra vez. Aproveito a oportunidade para fazer justiça aos nosso estimados amigos o casal Denise e José Lopes, grandes incentivadores desse projeto. Obrigado Denise, obrigado Zé Lopes.

O fato é que aqui fui recebido de braços abertos, com carinho e respeito. Sou o mais velho do grupo de plantonistas. Com certeza, a maioria absoluta dos meus colegas de plantão é de ex-alunos. Aliás, muitos colegas apostaram que eu não viria e se viesse demoraria pouco. Felizmente eles estavam enganados. Passados cinco anos, ainda há quem se admire da minha presença e pergunte se aquele encanecido médico que caminha pelas enfermarias do hospital é mesmo o Dr. Ronald.

De vez em quando recebo visitas de outros colegas: Judá Fernandes, uma lenda viva da medicina de Arapiraca, meu estimado companheiro da Sobrames, já me deu a honra de me ver nas dependências da UE. Outro que aparecia de quando em vez era José Mendes, professor, empreendedor na saúde e na educação, fundador da Unimed, cujo falecimento precoce e inopinado enlutaria os amigos e a comunidade. Um autêntico arapiraquense que deixou uma enorme lacuna no coração dos seus amigos e clientes.

A Unidade de Emergência de Arapiraca, local do meu trabalho, é a materialização de uma idéia luminosa que não pode se perder por questiúnculas políticas. Está além de partidos e governos. Pela importância, pela relevância dos serviços, é um patrimônio da região que deve merecer cuidados ininterruptos. Valorizar seus funcionários, palpar seus anseios, deve ser vista como prioridade absoluta. Não hesito em afirmar que é a unidade hospitalar mais importante da região. Sinto-me orgulhoso em poder contribuir com a minha experiência e o meu trabalho para este projeto.

Arapiraca, com suas terras férteis foi, em 1848, a preferida do fundador Manoel André Correia dos Santos. Então foi nessa Arapiraca, a árvore frondosa e acolhedora situada à margem direita do Riacho Seco, onde Manoel André acampou no primeiro dia, quando procurava uma fonte de água doce onde pudesse se instalar”.
Abrigando-se sob a árvore teria proferido: “Esta Arapiraca será minha moradia”. Olha, gente. Arapiraca tem uma história muito bonita. Não vou recontá-la agora para não cansar os senhores. Mas a prefeitura, o Google, a Academia tem registrado sua evolução. Vale a pena conferir. Com a genética irremediavelmente voltada para o fumo e outras atividades agropecuárias o município vem sofrendo graduais e importantes modificações. Converso com meu querido amigo e dentista particular Lula Santana, um arapiraquense 25 horas por dia, apaixonado pelo glorioso ASA, que me discorre com invulgar eloquência sobre as grandezas de sua terra (agora nossa). Atento às mudanças, entusiasmado, ele me diz que Arapiraca não para de crescer. Concordo plenamente.

A Arapiraca que eu conheci há cinco anos já não é a mesma. De fato, há um estado permanente, eu diria frenético, de ebulição. Beneficiada por sucessivas administrações voltadas para o progresso, a cidade ferve, se expande, prospera. Repito mais uma vez: é uma honra estar aqui na presença dos senhores, dos meus amigos Clailton e Socorro, Maria Auxiliadora,Eduardo e Andreia, dos colegas Helly Carlos, Fabiana,Moroni e Lula Santana, dos pacientes e familiares, dos meus familiares, dos meus cunhados Milton Dário e Tânia Oliveira, dos meus tios Ruy, Breno e Manoel, da minha esposa Nadja, dos meus filhos Carlos Eduardo e Bruna e dos meus netos Caio e Maria Clara recebendo essa valiosíssima homenagem.

Arapiraca vai além do fumo e do glorioso ASA. Município mais importante de Alagoas – fora a capital, é uma das cidades que mais cresce no Brasil. Não se trata de incenso gratuito do homenageado. Há poucos meses foi destaque numa revista de circulação nacional como exemplo de cidade a ser seguido pelo país. Na província, marca presença como força política e econômica. O atual prefeito, Luciano Barbosa, foi ministro do governo FHC. A deputada eleita Célia Rocha, por sinal médica, ex-prefeita da cidade, é uma das maiores lideranças do Estado.

Não é de hoje essa liderança. No panteão de grandes líderes, mesmo correndo riscos da omissão, lembro o médico Marques da Silva, os Lúcio, inclusive o senador João Lúcio, os Pereira, os Albuquerque e a saudosa Ceci Cunha.

Falecido em 1935, Francisco de Paula Magalhães é apontado pelos historiadores com o grande pioneiro na cultura do tabaco em Arapiraca. Se hoje a cultura do fumo não mostra a força de décadas atrás, é preciso que recordemos do seu apogeu nos anos 60-70 quando foi conhecida nacionalmente e até internacionalmente como a “capital brasileira do fumo”, fama que lhe trouxe grande prestígio atraindo novos investimentos que alavancaram ainda mais seu desenvolvimento.

O pioneirismo de Paula Magalhães frutificou. Nesse rol de grandes continuadores da indústria do fumo estão Eduardinho, Gabi, Aurelino, Severino das Bananeiras, Adalberto Rocha e tantos outros.

Destaco outros empresários que ajudaram a construir a grandeza desta terra. Alonso de Abreu, vereador, empresário, deputado, honra esse solo generoso. Os já citados Deca Moço (pai de Lula Santana) e Adalberto Rocha e filhos. Geraldo Lyra foi outro que contribuiu para o crescimento do município com a indústria de algodão, outro produto forte da região.

Zé Alexandre é um exemplo de político e arrojado empresário com o seu bem- sucedido Grupo Coringa. O filho, Marcelino Alexandre, habilidoso político, segue-lhe os passos Quem vem sendo alvo da admiração e o respeito de todos são os irmãos Genilson e Jadielson da rede Unicompras. Zé Pivete cresceu em Arapiraca e já expande as empresas para além das fronteiras.

Na Educação, Arapiraca vive momento de grande efervescência com a implantação de unidades da UFAL. Quero homenagear o educador Moacir Teófilo, ex-secretário estadual de educação e dirigente do sexagenário Colégio Bom Conselho. Em seu nome saúdo todos os professores do município.

No quesito Saúde, a cidade está em voo ascendente. Além dos tradicionais estabelecimentos de saúde, e eu ressalto a presença dos médicos José e Judá Fernandes. Aliás Judá Fernandes é um dos escritores médicos mais fecundos. Envaideço-me da doce convivência na Sobrames. Dizia eu que, além dos tradicionais estabelecimentos, novos hospitais surgiram nos últimos anos, bem aparelhados e com equipes médicas da melhor qualidade científica e ética, realizando procedimentos médicos que nada deixam a dever daqueles executados nos grandes centros nordestinos. Tem nos chamado a atenção o rápido andamento das obras de ampliação da Unidade de Emergência do Agreste, o que será um grande avanço na assistência aos traumatizados da região.

Com tanto progresso, com tanta gente trabalhando em prol do desenvolvimento, da grandeza do município, seria mais do esperado que grandes lideranças políticas por aqui frutificassem. Ao lado de eminentes figuras dos quilates do senador João Lúcio, do deputado Marques da Silva, do deputado e artista plástico Ismael Pereira, do secretário de educação Rogério Teófilo, de Nascimento e Júnior Leão, do já citado Marcelino Alexandre, entre outros, homenageio os deputados eleitos Ricardo Nezinho, Severino Pessoa, Célia Rocha e o prefeito Luciano Barbosa. Certamente Arapiraca crescerá ainda mais com a chegada de recursos públicos e novos empreendimentos.

Senhor presidente, senhores vereadores, meus amigos aqui presentes, meus estimados pacientes, meus queridos tios, minha querida Nadja, meus queridos filhos e netos Carlos Eduardo, Bruninha, Caio e Maria, para alegria geral estou findando o discurso. Machado de Assis dissera certa feita que o elogio faz bem não só à alma, mas também ao corpo. E acrescentava: “as melhores digestões de minha vida foram de jantares em que fui homenageado”. Por isso estou me sentindo tão leve e tão saciado.

Hoje é um grande dia. Um dia muito especial. Receber essa homenagem do povo arapiraquense é algo que nunca imaginei acontecer. O momento é de um misto de humildade e orgulho. Certamente que a comenda estreitou ainda mais meu relacionamento com a cidade e multiplicou minhas responsabilidades e compromissos com a saúde dos seus habitantes.
Muito obrigado a todos.

domingo, 22 de agosto de 2010

AI DOS VENCIDOS

Roma ainda não havia encontrado o seu apogeu quando foi invadida e subjugada por um grupo de guerreiros liderados por Breno. A ele atribui-se a célebre frase “Vae victis” (Ai dos vencidos) que, atravessando milênios virou regra, e ainda hoje é aplicada. Até o grande Cesar, quatro séculos depois, ao impor seu poderio costumava repeti-la diante de submissos derrotados.
Relembrei a glória gaulesa ao sabor do noticiário que propala punições ao fraco time da Coréia do Norte, humilhada na última Copa do Mundo, dentre outros previsíveis insucessos, por inusual escore de 7 x 0 diante da medíocre seleção portuguesa.
Deve ter sido horrível para o orgulho nacional. Sim, porque os dirigentes coreanos, entusiasmados com a estréia do time e o placar de 2 x 1 diante do Brasil, abriram uma exceção e liberaram o jogo, justo na impiedosa derrota para Portugal.
O fato é que a imprensa (burguesa, hegemônica, golpista e reacionária?) espalhou aos quatro cantos que o técnico da Coréia do Norte foi afastado da equipe e punido com trabalhos “forçados” na construção civil, enquanto o time teria participado de uma sessão de tortura oral, de pé durante seis horas, enquanto quatrocentos “camaradas” deitavam esporros e lições de moral.
Exageros à parte, quero acreditar que o citado técnico é um operário da construção civil. É possível que tenha assumido a função no selecionado por demonstrar pendores que iam além da colher e do fio de prumo. Tal como ocorreu com o nosso Dunga, e com centenas de técnicos de futebol espalhados no mundo inteiro, foi defenestrado do cargo e voltou ao batente do tijolo, da areia e do cimento.
Na verdade, isso deveria acontecer na política. Os sujeitos ao se afastarem de cargos eletivos (ou de secretários de estado, ministros etc) deveriam voltar às funções anteriores. Por que não voltam? Podres de ricos, não precisam mais melar as mãos na massa. O Lula, por exemplo (“um operário no poder”), o que o impede de voltar às suas funções originais?
Mas o “Ai dos vencidos” tem a sua versão alagoana. Na adolescência, defendendo o Bebedourense, participei de jogos em campos de usina, no interior do estado. Numa dessas vezes, encaramos um time cujo técnico (e juiz da partida) era o usineiro, famoso pelos proverbiais maus bofes. Por infelicidade, o time da casa acabou derrotado.
Mal o jogo terminou, ouviu-se a voz trovejante: “Vocês não têm vergonha de perder para um time safado desse? Vão passar seis meses sem jogar”.


14/08/2010

A ESQUERDA DE HOJE E A DIREITA DE ONTEM

Segundo os dados de institutos de pesquisa, Serra está como naquele provérbio: “Água de morro abaixo, fogo de morro acima, quando o povo quer... De fato, as intenções de voto no homem estão murchando, na proporção contrária às da sacola cheia de dona Dilma. A continuar assim, e se dermos crédito aos números revelados, será uma derrota humilhante.
Jogando pesado, com o crédito de uma consagração popular quase unânime, Lula está conseguindo, até agora, ao emplacar uma ilustre desconhecida, tocar com êxito seu projeto de continuidade no cargo. Alvo de inabalável crença mística, tudo indica que os eleitores estão certos da permanência do ex-metalúrgico no cargo. Talvez seja um caso de alucinação coletiva: as pessoas olham para a carranca da candidata e veem a figura sorridente do Lula. Por isso, não estão nem aí por tudo que aconteceu de escabroso, nesse país, nos últimos sete anos.
Mas a disputa, esse ano - sem levar em conta a interferência massacrante do presidente e o uso indiscriminado da máquina federal em prol de uma candidatura distingue-se pela presença maciça de postulantes ditos “de esquerda”.
(Pessoalmente, quando vejo o afrontoso lucro dos banqueiros, tenho dificuldades em situar José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva. É que um país que precisa usar o artifício de bolsas-famílias para ¼ da população, a convivência pacífica desses candidatos com essa categoria privilegiada, não deixa de ser um paradoxo.)
Mas vamos admitir que eles sejam de esquerda. Extraiam-se o Eymael (“Ei, ei, Mael”) e o Levy Fidélix (PRTB), aparentemente menos preocupados em mudar a forma de governo. Os outros quatro: Rui Pimenta (PCO), Zé Maria (PSTU), Plínio Sampaio (PSOL) e Ivan Pinheiro (PCB), fracos de voto, sonham com a instalação de ditaduras comunistas, no melhor estilo stalinista. Ao todo, são sete “esquerdistas”.
A grande verdade é que, boa parte dessas pregações, beira o folclore. Lembro de antigas candidaturas nos anos cinqüenta e sessenta do século passado: Plínio Salgado e Ademar de Barros. Salgado encarnava o “anti”. Anticomunista, anti-anarquista, antifascista. Católico piedoso, criador do Partido Integralista (por conta de singular uniforme, seus membros eram chamados de “galinhas verdes”), ainda conseguia emplacar 8% do eleitorado.
Doutor Ademar era um político paroquial. Médico, empresário e grande namorador, eterno candidato a presidente, tinha como um dos lemas: “Dessa vez, vamos”. Seus inimigos atribuíam-lhe outro: “Rouba, mas faz”.
O tempo passou. Somente Ademar, às vezes, é relembrado, sobretudo depois que veio à tona que o cofre da casa da amante, Ana Benchimol, teria sido surrupiado pela “guerrilheira” Estela, hoje mais conhecida como Dilma Rousseff.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lula bom coracao

Lula que chora (de brincadeirinha), que finge ser aquele cara que se emociona com o sofrimento da humanidade, revelou-se por inteiro em duas oportunidades distintas, mas com um ponto de união cumum: a babárie nas terras dos seus aliados. Primeiro foi em Cuba ao comparar os dissidentes políticos daquele país aos bandidos comuns de S. Paulo; mais recentemente, enquanto fingia emoção com o iminente trágico destino da adúltera iraniana, cantarolaria "Atire a primeira pedra, ai, ai, aquele que não sofreu por amor". 'E o Lula enganando a muitos, mas nao a todos.

Hipocondria

O candidato do PSOL quiz fazer uma gra'ca com O Serra ao chama-lo de " Hipocondr'iaco", como se termo definisse um defeito de car'ater e nao uma doen'ca Psiquiatrica. O tiro saiu pela culatra. Sampaio Arruda exp^os todo o seu preconceito. Daqui a pouco vai lan'car d'uvidas e fazer chacota da sexualidade amb'igua de outros candidatos, repetindo o que fez Marta Suplicy com o Kassab. Perdeu uma boa oportunidade de ficar calado, seu Arruda.

Noite de autógrafos do livro Latim aos Sábados


domingo, 8 de agosto de 2010

DEVERES E DIREITOS

Admito sem acanhamento ou empáfia que a minha autoestima recebeu esta semana uma nova injeção. Nada a ver com o coquetel de lançamento do meu livro de crônicas Latim aos Sábados, no espaço Memorial à República, cuja seleta frequência foi muito além do que poderiam imaginar as fantasias mais otimistas. Com efeito, a presença de fatias representativas da comunidade revelam, sobretudo, a impagável indulgência dos colegas, amigos e leitores. Mas falava de autoestima e queria me referir a uma correspondência enviada, através da internet, pela Secretaria Municipal de Finanças da Prefeitura de Maceió. Nela, o órgão lembrava o vencimento de parcela de “Taxa de Licença (TLFLIF)” (existe isso?) no fim do mês de agosto. O documento pede para não esquecer do compromisso, sob pena de multas e outras sanções de relevo.Sem ignorar que moramos no “País dos impostos”, não nego o orgulho pessoal ao ser objeto dos cuidados municipais. Sim, porque também sou alvo dos mimos dos federais, através do pagamento do imposto de renda (órgão bisbilhoteiro e partidário) e de outros menos suculentos, como o polêmico “Imposto de Marinha”, taxa que “premia” terrenos distantes 100 metros da maior maré de 1813. Naturalmente, que é mais um a engordar a lista de dezenas que fazem a alegria de governantes, políticos, apaniguados e outros que tais, que vivem às custas de impostos.
Calcula-se que dedicamos cinco meses de trabalho por ano, somente para pagar impostos. Ninguém neste País ignora o exato destino desses tributos. Está aí a campanha nas ruas. Agora mesmo, escuto persistentes cantorias de carros de som que, incansáveis, bradam as qualidades dos candidatos. Não tenho dúvidas de que o meu suado dinheirinho está financiando parte dessas propaladas virtudes.
Voltemos à Prefeitura de Maceió. Quão gentil foi o órgão ao lembrar que já em setembro estaria na cola dos recalcitrantes que declinaram do dever cívico de pagar a sua quota e assim receber os bons serviços que a municipalidade presta: transporte público de qualidade, trânsito organizado, ruas e praças limpas, saúde e educação nos trinques, segurança e tranquilidade nas ruas para todos.
O chato dessa questão é que a Prefeitura de Maceió abdica de seus deveres na hora de cumprir suas obrigações. A Secretaria da Saúde do Município, por exemplo, deve há mais de um ano a médicos e hospitais sem que demonstre a mínima intenção de honrar os compromissos. Juros e correção, nem pensar.

"Latim aos sábados"

Murilo Gameleira
Publicado por Redação de O Jornal em 07/08/2010 as 11:22Arquivado em Opinião
Troquei um deleite por outro.
Interrompi a leitura das “Melhores crônicas” de Affonso Romano de Sant’Anna, selecionadas por Letícia Malard, professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG; e abri, e em dois tempos devorei, os escritos que Ronald Mendonça publicou em jornal no decorrer de 2007, agora reunidos em livro. Batiza a coletânea o título da crônica “Latim aos sábados”.
Pesaram na troca os laços de estima que nos aproximam, mas sobretudo a ansiedade por revisitar a qualidade dos textos do Mestre — assim afetuosamente trato o autor conterrâneo. Da incursão, concluo: escrevesse em uma folha circulante em todo o país, estivesse em um grande centro, Ronald há muito teria atingido dimensão nacional como escritor.
A Medicina correria o risco de perder o neurocirurgião; é seguro que Ronald logo alcançaria o reconhecimento a que faz jus como autor, e se animaria a retirar do fundo do baú os contos que nega mas tenho por certo que escreveu, antes e depois de “Águas Rubras”. Daí para deitar no papel o romance que o meu sexto sentido diz borbulhar em sua cabeça, seria um passo.
A província é ingrata. Para excedê-la intelectualmente, é preciso ultrapassar seus limites geográficos, distanciar-se das raízes.
Não é o que aconteceu aos nossos Graciliano, Aurélio, Jorge de Lima, Arthur Ramos? Não é o que ocorre Brasil afora? Vejam-se os exemplos de tantos outros de outras plagas. Para chegarem à glória, largaram os berços em que nasceram.
Há, inclusive, o caso extremo de João Ubaldo Ribeiro. Ubaldo saiu da Bahia, em vão peregrinou no eixo Rio-São Paulo, não conseguiu editor para “Sargento Getúlio”, sua criação de estreia. Foi à luta. Traduziu o texto, ele próprio, do nordestinês para o inglês, encontrou um lugar ao sol nos Estados Unidos. O livro obteve êxito lá, e só então o autor foi “descoberto” e a obra publicada aqui.
São muito raras as exceções. De pronto, ocorre-me o nome dos Veríssimo, Érico e o filho Luiz Fernando. O primeiro, no romance; o segundo, na crônica.
Pode-se arguir que Adélia Prado não saiu de Divinópolis, Manoel de Barros continua nos marcos matogrossenses e Raduan Nassar permanece enfurnado no interior de São Paulo. Mas cabe perguntar: eles não teriam alcançado projeção intelectual bem maior se tivessem se transferido para os centros formadores de opinião?
Voltando a “Latim…”. Se fosse chamado a julgá-lo, e para não se dizer que só vi os lírios do campo, fecharia os olhos aos cochilos do revisor e da gráfica.
E ao texto do Mestre daria a nota máxima.
Sobre o autor:
Murilo Gameleira Vaz é

Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas "Latim aos sábados"

Artigo de Juarez Miguel publicado em O Jornal de 06/08/2010
Convidado pelo diletante autor, o nosso querido Ronald Mendonça, para assistir ao lançamento de seu primeiro livro “Latim aos Sábados”, não me surpreendi em ver a seleta e expressiva afluência de pessoas que dignificam os mais diversos segmentos da sociedade alagoana. Presentes àquela memorável noite de autógrafo estavam seus familiares, médicos, escritores, advogados e profissionais dos mais variegados ramos, cujas personalidades, afetivamente, prestigiaram o evento cultural protagonizado pelo aspirante à imortalidade da Academia Alagoana de Letras. Certamente, no tempo propício, o colegiado do casarão das letras da Praça Deodoro referendará os seus atributos intelectuais. E aí, sim, haverá de alçá-lo à galeria dos imortais (das letras).
Nesse sentir, impulsionado pelo coração – sede das afeições humanas – li, com detida atenção, os sinérgicos relatos dos mais recorrentes e cruciais temas que, não raras vezes, degradam os ontológicos e sagrados valores da sociedade atual. Traduzidos em crônicas, refletem com boa dosagem de ironia e indignação o estereotipado estilo de crítico semanal.
Sobressaindo-se como renomado neurocirurgião, professor da Ufal e formulador do moderno ato e técnica médicos em prol dos pacientes, porta sólida formação humanística (nenhum paradoxo em relação às letras). Com fecundo labor literário e nas diminutas horas de lazer, segue o futuro acadêmico escrevendo sobre as mais hilariantes, dantescas e cruéis situações que envolvem a realidade cotidiana apontando para o homem como epicentro da corrupção disseminada nas instituições, contracenando como ator das injustiças e doutros desvios éticos. Com sensibilidade social entranhada na alma, formula os irrepreensíveis conceitos pertinentes aos deploráveis “modus vivendi e operandi” do ser humano. Fazê-lo é um imperativo dos que clamam pela plenitude do valor justiça que é co-irmã da paz e bradam aos céus, suplicando um viver harmônico, pacificamente, ausente das indesejáveis e incuráveis sequelas dos satanizadores do mal. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça!
Contudo, para que haja justiça, impõe-se que a criatura humana aja em obediência às prescrições delineadas pela providência divina.
A exemplo de Jesus, em seus mendoncianos artigos, Ronald e os que assim agem revelam ira santa. Nesse sábio cenário, ele deve evoluir na defesa da humanidade desprotegida.
Cícero, o grande filósofo, proclamava: “A ciência dá-nos o conhecimento, mas somente a filosofia nos pode conferir a sabedoria”.
Fiéis aos ensinamentos do absoluto em quaisquer das vicissitudes da vida, o indelével peso das grandes pedras que Ronald e Nadja alçam, há de edificar o monumental e sagrado edifício preparado para ambos junto aos ausentes sempre presentes primogênitos.
Nisto Deus há de transcendê-los para o acessível tesouro dos bons. Naquele belíssimo estado, os ladrões não furtam e tampouco as traças roem o que é precioso. Se por algo a alma dói – eu sei e me compadeço da intensidade da dor – a cura vem sendo ministrada pelo médico dos médicos.
Quanto à querida Nadja, mulher-síntese, enquanto gênero humano da melhor espécie, é altiva em conciliar sua profissão de médica psiquiatra com a divina missão de esposa, mãe e avó, cujo amor é sempre permanente na alegria ou na adversidade dos familiares e amigos.
Diletos Ronald e Nadja, impregnados de humanismo adiram à filosofia kantiana porque trata o homem como um fim e, se possível, procurem lenir o sofrimento dos excluídos. Imortalizem o bem na materializada e enferma sociedade!
Juarez Miguel é advogado

Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas "Latim aos sábados


Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas “Latim aos Sábados” – Juarez Miguel
Publicado por Redação em 06/08/2010 as 08:10Arquivado em Opinião
Convidado pelo diletante autor, o nosso querido Ronald Mendonça, para assistir ao lançamento de seu primeiro livro “Latim aos Sábados”, não me surpreendi em ver a seleta e expressiva afluência de pessoas que dignificam os mais diversos segmentos da sociedade alagoana. Presentes àquela memorável noite de autógrafo estavam seus familiares, médicos, escritores, advogados e profissionais dos mais variegados ramos, cujas personalidades, afetivamente, prestigiaram o evento cultural protagonizado pelo aspirante à imortalidade da Academia Alagoana de Letras. Certamente, no tempo propício, o colegiado do casarão das letras da Praça Deodoro referendará os seus atributos intelectuais. E aí, sim, haverá de alçá-lo à galeria dos imortais (das letras).
Nesse sentir, impulsionado pelo coração – sede das afeições humanas – li, com detida atenção, os sinérgicos relatos dos mais recorrentes e cruciais temas que, não raras vezes, degradam os ontológicos e sagrados valores da sociedade atual. Traduzidos em crônicas, refletem com boa dosagem de ironia e indignação o estereotipado estilo de crítico semanal.
Sobressaindo-se como renomado neurocirurgião, professor da Ufal e formulador do moderno ato e técnica médicos em prol dos pacientes, porta sólida formação humanística (nenhum paradoxo em relação às letras). Com fecundo labor literário e nas diminutas horas de lazer, segue o futuro acadêmico escrevendo sobre as mais hilariantes, dantescas e cruéis situações que envolvem a realidade cotidiana apontando para o homem como epicentro da corrupção disseminada nas instituições, contracenando como ator das injustiças e doutros desvios éticos. Com sensibilidade social entranhada na alma, formula os irrepreensíveis conceitos pertinentes aos deploráveis “modus vivendi e operandi” do ser humano. Fazê-lo é um imperativo dos que clamam pela plenitude do valor justiça que é co-irmã da paz e bradam aos céus, suplicando um viver harmônico, pacificamente, ausente das indesejáveis e incuráveis sequelas dos satanizadores do mal. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça!
Contudo, para que haja justiça, impõe-se que a criatura humana aja em obediência às prescrições delineadas pela providência divina.
A exemplo de Jesus, em seus mendoncianos artigos, Ronald e os que assim agem revelam ira santa. Nesse sábio cenário, ele deve evoluir na defesa da humanidade desprotegida.
Cícero, o grande filósofo, proclamava: “A ciência dá-nos o conhecimento, mas somente a filosofia nos pode conferir a sabedoria”.
Fiéis aos ensinamentos do absoluto em quaisquer das vicissitudes da vida, o indelével peso das grandes pedras que Ronald e Nadja alçam, há de edificar o monumental e sagrado edifício preparado para ambos junto aos ausentes sempre presentes primogênitos.
Nisto Deus há de transcendê-los para o acessível tesouro dos bons. Naquele belíssimo estado, os ladrões não furtam e tampouco as traças roem o que é precioso. Se por algo a alma dói – eu sei e me compadeço da intensidade da dor – a cura vem sendo ministrada pelo médico dos médicos.
Quanto à querida Nadja, mulher-síntese, enquanto gênero humano da melhor espécie, é altiva em conciliar sua profissão de médica psiquiatra com a divina missão de esposa, mãe e avó, cujo amor é sempre permanente na alegria ou na adversidade dos familiares e amigos.
Diletos Ronald e Nadja, impregnados de humanismo adiram à filosofia kantiana porque trata o homem como um fim e, se possível, procurem lenir o sofrimento dos excluídos. Imortalizem o bem na materializada e enferma sociedade!
Juarez Miguel é advogado

domingo, 1 de agosto de 2010

MÁS COMPANHIAS

Próximo a completar quatro decênios de atividade médica, tenho colecionado muitas histórias tristes. De tantas, as que mexem mais com os meus sentimentos são aquelas de envolvimento de jovens com drogas.Embora fora da minha área de atuação, o fato de pertencer ao quadro clínico de um hospital psiquiátrico faz com que me defronte com essa maldição com uma frequência assustadora. Tenho encontrado famílias aniquiladas, pais impotentes, ao lado de pacientes desesperadamente irrecuperáveis. O choque é maior nos casos em que conheci aquele usuário na infância.Ainda que estudiosos identifiquem desajustes familiares como uma das principais causas, é comum que os pais assinalem o início dos males às “más companhias”, com as quais os filhos teriam desandado, teriam feito uma espécie de curso preparatório até mergulhar de cabeça no inferno das “viagens”. Com o tempo, aquele menino bom transforma-se, ele próprio, na “má companhia” que os outros pais rotulam e abominam. É um elo maldito.
A completa dependência costuma transformar pacatos adolescentes em ousados delinquentes. Tendo como pano de fundo a ameaçadora onipresença do traficante, não existe barreira moral ou ética para a obtenção dos bagulhos, das pedrinhas, do pó, do pico. Como numa hecatombe, as residências vão se despindo de objetos valiosos. Das joias a botijões de gás, negociados a preço de banana. Na sanha destruidora, nem velhos calçados escapam (“Há sempre um chinelo velho para um pé doente”). No fim, sobram as quinquilharias que o traficante rejeita. Participação em roubos e assassinatos completa o quadro desolador. A morte precoce os espreita.Problema policial, político e de saúde pública, diria até de segurança nacional, nem Lula ou qualquer outro dirigente tiveram peito de encarar esse desafio. Agora, com a campanha para a sucessão presidencial na rua, creio ter chegado um excelente momento para discutir a questão. Revela-se estéril a insistência em comparar Lula X FHC, pelo simples fato de nenhum dos dois ser candidato.Infelizmente, as perigosas ligações do PT com as Farc (narcoguerrilheiros colombianos) certamente irão inibir as discussões. É voz corrente que a credibilidade das Farc no país de origem é baixa justamente pela conjunção promíscua com os traficantes.
Entre nós, se uma das partes insistir em classificar o tema das drogas como “baixarias da oposição”, teremos perdido uma excelente oportunidade de tentar controlar esse câncer social.

ABRAÃO, SODOMA E GOMORRA

Humilhada na Copa do Mundo com acachapante derrota de 4 x 0, a Argentina deu a volta por cima e conseguiu legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Foi uma vitória espetacular e inédita no continente, em que o país de Maradona deu uma goleada no preconceito. Comemorada por milhões de pessoas do mundo inteiro, aqui mesmo entre nós, vários colegas médicos e professores perderam a timidez e passaram a mostrar aquele ar triunfante, tipo: “Estamos já chegando lá”. O fato se torna mais impressionante pelo detalhe de o homossexualismo ainda ser visto com restrições, mesmo em países do “primeiro mundo”. Com efeito, é comum a violência patrocinada pelo Estado, como no caso das Repúblicas teocráticas islâmicas, que tem no Irã dos Aiatolás sua expressão mais bem esculpida. A crença em poder acabar com o homossexualismo na chibata leva o alucinado dirigente Ahmadinejad a anunciar a ausência de homossexuais no Irã.O tema é mesmo polêmico. Enquetes revelam que entre pessoas comuns há resistências em aceitar a legalização da união, enquanto um aplauso maciço, diria incondicional, vem do meio artístico. Nessa profissão, aliás, há cada vez mais gente “saindo do armário” e admitindo sua condição, sem temer eventual perda de prestígio.Entre nossos políticos, lamentavelmente, expor sua posição ainda não se tornou habitual. Seria bem mais saudável que candidatos a postos eletivos tivessem a naturalidade em explicar como lidam com sua sexualidade. Ao contrário, preferem exibir-se ambíguos, como irresistíveis garanhões e/ou lobas insaciáveis. Não obstante, a convicção, hoje, é de que nosso País alcançou a maturidade para ter um presidente gay.A abordagem atual é por conta de texto na Gazeta de Alagoas desta semana sobre Deus e Abraão, versando sobre os diálogos que antecederam a destruição de Sodoma e Gomorra. É crença bíblica que essas cidades teriam sido detonadas por Deus pelas “iniquidades” (leia-se, homossexualismo) praticadas por seus habitantes. Afora a exegese que afirma “enamoramento” de Abraão por Deus, o frívolo “diálogo” entre os dois enquanto se decidia a morte de milhares de pessoas – crianças inclusive – é um desafio ao bom senso.Admitindo a verossimilhança da narrativa bíblica, não restam dúvidas de que a destruição de Sodoma e Gomorra é um dos maiores marcos da intolerância sexual. Além de não acabar com o homossexualismo no mundo, tornou-se o símbolo definitivo do preconceito divino.

domingo, 18 de julho de 2010

A TEORIA DO PERDIGUEIRO MAGRO



O cirurgião Luiz Carlos Buarque de Gusmão, meu companheiro de plantão em Arapiraca, é celebrado como um dos mais tinhosos caçadores do agreste e do sertão. Respeitado professor de anatomia da Ufal,Manga-Rosa – apelido que virou sobrenome, acompanhado de seus perdigueiros, sobreviverá ainda muitos anos como caçador, tudo indica que, como anatomista, é um dos últimos da espécie.Aos não iniciados na Arte de Hipócrates uma explicação: desde os primórdios o ensino da anatomia constituiu-se na porta de entrada e num dos principais pilares do conhecimento médico. Grande gargalo do curso, não é por acaso que os professores que a ela se dedicam revestem-se de uma peculiar aura que os tornavam odiados ou amados, indiscutivelmente os mais temidos do curso.Embora professores de outras áreas médicas corram o risco de ser varridos do planeta, na anatomia a coisa ficou difícil: a carga horária de dois anos vem sofrendo progressivo cruel processo de atrofia até o momento atual, restrita a magras semanas. A tendência é piorar. Os mentores da atual grade curricular dos cursos de medicina não fazem segredo de que a orientação precípua do curso é para “formar cidadãos” que se tornem sensíveis às grandes questões nacionais: injustiças sociais, desemprego, concentração de riquezas e outras que tais. Medicina que é bom, se sobrar tempo, será destinada às demandas do SUS.Ninguém, pois, deverá estranhar se as vagas nos cursos médicos forem ocupadas por engajados filósofos, historiadores, assistentes sociais, sociólogos, cientistas políticos – naturalmente gauchistes –, que é para apimentar a doutrina.Aliás, sobre esse tema, a revista Veja (ed. 2171) desta semana traz interessante contribuição assinada por Gustavo Ioschpe.Mas o que eu queria mesmo era aproveitar as lições do ardiloso caçador de nambu e aplicar ao time do Brasil. É que nas horas vagas, Manga-Rosa dá aulas de estratégias de caça. Sobre o perdigueiro ensina: 1) Odeia mau atirador; 2) Para ser bom, tem que ser magro; 3) Lugar de cachorro gordo é no colo. Ao observar o time do Brasil, logo se destacam os lulus de madame: Kaká e Robinho (Ronaldo “Fenômeno”, Ronaldinho e Adriano CV fizeram escola) que gordos e mimados, de papadinha, tropeçando na bola, fracos de pontaria, até agora pouco fizeram para justificar a fama. Já Maicon, Juan, Lúcio e Gilberto Silva eram os perdigueiros magros que até ontem garantiam o êxito da “caçada

NUDEZES E BARBÁRIE



A ausência de Eduardo Bonfim das páginas da Gazeta às sextas abre um vazio. Afastado por conta de lei eleitoral, repito mais uma vez: seus artigos me inspiram. Para compensar, os editores publicaram texto inédito do pranteado d. Fernando Iório, uma das maiores figuras do clero alagoano e um dos articulistas mais lúcidos deste espaço.
Mas o momento é de reflexão. Menos pela eliminação do Brasil da Copa do Mundo, um acontecimento normal quando duas equipes se confrontam. Uma delas há que sair vitoriosa. Ao contrário do que pensa boa parte da imprensa burguesa, golpista, reacionária e hegemônica (como diria Bonfim), não considero nem Dunga nem Lula os responsáveis pelo insucesso.
A culpa de Dunga seria pela insistência em escalar gente do quilate de Felipe Melo, o “Abominável Homem da África”. A Lula atribui-se uma aura de azar, de mau agouro, o chamado “pé de galocha”, sobretudo quando o assunto é seleção. Embora não acredite nessas coisas, coincidência ou não, foi apenas o presidente cavalgar seu “Lula I” em direção à África para ocorrer o fracasso.
Em meio à decepção, o bálsamo foi a goleada que os argentinos tomaram da Alemanha. Los hermanos haviam sido desumanos com a nossa dor, de modo que o troco dos brasileiros era inevitável. Além disso, livramo-nos (em nome da estética) do visual despido de Maradona. Como se sabe, d. Dieguito comprometera-se em desfilar no pêlo em praça pública.
Aliás, despir-se em público também fazia parte das promessas da modelo paraguaia Larissa Riquelme. Não obstante a desclassificação dos guaranis, a “namoradinha do Mundial”, para alegria de milhões de torcedores, mostrou os montes e vales que compõem sua exuberante anatomia.
Nem só de glamour vive o mundo esportivo. Com efeito, o ritual macabro que eliminou a jovem paranaense Eliza Samúdio desnudou um dos seus lados mais sórdidos. Frequentadora dos bacanais e surubas dessa turma de deslumbrados (o universo político é superponível), a gravidez e o pedido de pensão para a criança soariam como uma traição imperdoável para o goleiro psicopata. O tal de Bruno não admitia posar de “babaca” para os colegas. Afinal de contas, a moça não era nenhum modelo de castidade.
Com a carreira sepultada, graças à lassitude das leis, o mandante e seus comparsas deverão estar livres em poucos anos. O que esperar de um país que mantém impune o “chefe da quadrilha dos mensaleiros”, coincidentemente, paparicado expoente da política nacional?
10/07/2007

OS CANDIDATOS


O candidato José Serra tem tido dificuldades para explicar o porquê do descumprimento de sua promessa de nunca abandonar o governo paulistano para se candidatar a outro posto. Como estamos em fim de mandato para os governadores, talvez ele possa dizer que o cumpriu “integralmente”.
Outro ponto indigesto de sua campanha (além do DNA tucano) tem sido o preço dos pedágios nas estradas de S. Paulo, privatizadas ao longo dos anos das gestões do seu partido.
Seus grandes trunfos residem no histórico de prévias campanhas, com mais vitórias que derrotas, de manter-se à frente do maior estado da Federação e de não ter se envolvido com grandes escândalos financeiros – ao contrário de outro paulistano, doutor Paulo Maluf, “o político mais ficha limpa do Brasil” (segundo o próprio).
Como ministro da Saúde, Serra não se saiu tão mal. Embora cognominado de “Ministro da Dengue”, jacta-se de haver quebrado a patente dos medicamentos para aids. Foi durante sua gestão que os médicos passaram a receber oitenta reais por um parto e quatro reais por uma consulta. Um espanto!
Olho para o Serra e cada vez menos entendo os eleitores. Como um sujeito chato e sem graça consegue chegar tão longe?
Dilma Rousseff hoje posa de Madalena quase arrependida. Seu passado é mais forte que o da Moça do Wando. Aos 16-18 anos, olhou para o Brasil e o enxergou sem perspectivas.
Na sua óptica, o futuro estava no comunismo e para tal enturmou-se em grupos de guerrilhas e assaltos, sob a desculpa do combate à ditadura militar. Há quem a veja como uma simples bandida, outros como
uma heroína.
Beatificada pelo presidente Lula, tudo que existe de bom no governo, segundo seu criador, tem a varinha mágica da fada madrinha. A essa altura, não fora ela uma tremenda mala sem alça, já era para estar com 60-70% das intenções de voto.
Dona Dilma, como Serra, também tem dissabores. Afeita a dossiês, tudo indica que essa atividade não é o seu forte.
Acusada de forjar currículo em que se dizia mestra e doutora pela Unicamp, foi pega com a mão na botija desconstruindo dona Ruth Cardoso e, mais recentemente, o enjoado Eduardo Jorge (o EJ).
Na modesta opinião do comentarista, DR é a virtual presidente do Brasil. É também uma experiência de laboratório, um ser in vitro, que a qualquer momento irá escapar do controle do seu idealizador.
Marina Silva! Marina morena! Um lírio nesse pântano fedorento. Infelizmente, boa demais, saudável demais. Uma fatia de peixe cru sem sal.

terça-feira, 29 de junho de 2010

A TEORIA DO CACHORRO PERDIGUEIRO

O habilidoso cirurgião Luiz Carlos Buarque de Gusmão, ex-aluno e meu companheiro de plantão em Arapiraca, é também celebrado como um dos mais tinhosos caçadores do agreste e do sertão. Respeitado professor de anatomia de sucessivas gerações de médicos formados na Ufal, Manga-Rosa - apelido que o consagrou -, sobreviverá muitos anos ainda como caçador, mas como anatomista é uma espécime em extinção.
Aos não iniciados na Arte de Hipócrates uma explicação: desde os primórdios e ao longo do tempo, o ensino da anatomia constituiu-se na porta de entrada e num dos principais pilares do conhecimento médico. Cartão de visita e primeiro grande gargalo do curso, não é por acaso que os professores que a ela se dedicam revestem-se de uma aura de rigidez, de exigência, que os faziam odiados ou amados, mas certamente os mais temidos do curso. Por tudo, era praticamente impossível um médico esquecer do nome do seu professor de anatomia.
Na Ufal, Gusmão incorporou essa milenar tradição que entre nós começou há sessenta anos. Sobre os seus ombros pesa a responsabilidade de suceder ao grande Augusto Cardoso, o mais representativo membro da comunidade dos anatomistas de Alagoas.
Como assinalei acima, não só Manga-Rosa mas outros anatomistas correm o risco de ser varridos do planeta. É que o ensino da anatomia, anteriormente contemplado com dois anos, vem sofrendo processo de atrofia, até o momento atual de apenas algumas semanas.
Os mentores da atual grade curricular do curso de medicina não fazem segredo que a proposta fundamental é "formar cidadãos" que se revelem sensíveis às grandes questões nacionais: injustiças sociais, imoral concentração de riquezas e outras que tais.Do ponto de vista de medicina propriamente dito, a ideia é de se
sobrar tempo, preparar

profissionais para atender ao SUS.
A bem da verdade, essa tendência de tentar esquerdizar (viúvas inconformadas do fracassado comunismo) o ensino não é privilégio do curso médico, muito menos do de Alagoas. A esse respeito, o colunista da revista Veja Gustavo Ioschpe teceu oportunos comentários. A conclusão é que todos os professores que teimarem em ensinar medicina no curso médico estão com seus dias contados, do anatomista ao neurologista. As vagas serão destinadas a psicólogos, assistentes sociais, historiadores, filósofos, cientistas políticos, economistas, sociólogos...

CHUTES NO SACO

Dias atrás, fui surpreendido com a notícia da morte do prof. Grangeiros Neto - no plural, como ele gostava de ser tratado. Fui seu aluno de Português no velho Diocesano da Rua do Macena. Suas aulas tinham o poder de entusiasmar os ouvintes. Gostávamos de sua riqueza vocabular, da fala rebuscada, da voz empostada, dos comentários ferinos, das ironias, dos autoelogios e até do seu ar de superioridade intelectual. Ainda hoje guardo frases inteiras, tipo: “Com o rosto sulcado pelo arado do tempo...” .
Minha admiração e gratidão eram por conta do respeito pessoal, do estímulo para estudar, ler mais. Ficava encabulado, quando ele – intransigente cultor do vernáculo -, mais de uma vez se disse meu “ledor”. Naquelas horas falava de mim para comigo: “cara, você precisa melhorar para não decepcionar seu velho mestre”.
Embora não tenha acompanhado pari passu a trajetória acadêmica e profissional de Grangeiros, sabia que ele tinha vivido uma frutuosa (adjetivo que ele afirmava ter consagrado num dado Natal) vida acadêmica. Era um homem bem-sucedido também no campo jurídico, tanto que, ultimamente, dedilhando seus pianos, desfrutava das amenidades de "sua" Marechal com dignidade. O fato é que Alagoas perdeu um filho ilustre e seus antigos alunos uma das melhores referências.
Um urubu pousou mesmo na sorte de Alagoas. Menos pelo Lula, que desta vez apressou-se em por aqui passar dando uma de diligente chefe de nação. Nem sempre foi assim. Em janeiro de 2004, por exemplo, sem eleições por perto, uma cheia de proporções semelhantes às de Alagoas e Pernambuco abateu-se sobre o Sudeste, causando mortes, destruições e desabrigados. Naquela ocasião, chocaria a todos a foto do indiferente e feliz presidente nas primeiras páginas dos jornais... tocando violão. Seria comparado a Nero, o tarado que tocava cítara, lira e harpa enquanto Roma ardia em chamas. Ainda bem que desta vez não vi fotos do “último São João” no Planalto, comemorado com a grandeza do baile da Ilha Fiscal.
Não obstante as promessas de liberação de milhões para recuperar as cidades devastadas, continuo a achar que Alagoas afundou de cabeça para baixo no seu inferno zodiacal. Sim, porque se não bastassem as inclemências da natureza (e imperdoáveis irresponsabilidades humanas), eis que um dos nossos líderes políticos mais ativos é alvo de denúncias de condenação judicial, segundo a revista Istoé desta semana. Com efeito, citado com estardalhaço, junto com assessores e outros figurões, o impedimento da candidatura de Ronaldo Lessa vai além de uma dor narcísica, é mais um chute no maltratado saco do alagoano.

domingo, 20 de junho de 2010

A PARTE QUE RESTA

É natural que todos cantem hinos de louvores a si próprios. Na conheço governo ou instituição privada que se autoesculhambe, que deprecie seus produtos. Pode ser o maior engodo do mundo, a maior porcaria, mas os caras estão lá, anunciando maravilhas.
É mais ou menos o que está acontecendo neste período pré-eleitoral. Partidos e pessoas com posturas de homens de bem – poucos são de verdade - a se auto-elogiarem, a contar gogas, “farosos”, como dizem os mais jovens. O cara é o político mais ordinário do planeta, com um histórico mais sujo do que pau de galinheiro e, no entanto, aparece manso, voz pausada, didático, ar de Santa Terezinha, como a dizer: “estou mais uma vez aí, bando de babacas”.
Feridas que só fazem crescer, os problemas da saúde no País só se avolumam e se agravam. Ainda no governo de F. Henrique, o cirurgião Adib Jatene, na época ministro da Saúde, conseguiu emplacar um imposto provisório para dar um refrigério ao setor.
“Contribuição” provisória, o governo Lula esforçou-se, sem sucesso, para mantê-lo. Provando que, na oposição, sempre apostou no “quanto pior, melhor”, Lula foi contra sua criação. Aliás, ele também se opôs ao Plano Real, leito no qual, por ironia do destino, desliza a economia.
Pois bem, os governos, hoje e sempre, têm gasto fortunas para, em versos e prosas, encherem a bola de suas gestões. Exaltam-se obras reais e imaginárias (muitas delas amontoados de escombros abandonadas) nos horários nobres de rádios e TVs, massacrando mentes incautas com delírios lisérgicos dos publicitários.
São estradas de primeiro mundo, fábricas impecáveis, hospitais assépticos e diligentes, guardas que orientam, escolas maravilhosas, onde crianças estudam, brincam e se alimentam. Para fechar os filminhos, pessoas do povo prestam, de forma “espontânea”, comoventes depoimentos.
Numa dessas recentes peças de sonho, após o locutor fazer uma introdução laudatória ao Governo Federal, há a participação de “trabalhadores” e crianças, cada um com a sua fala: um está com a carteira assinada; o outro comprou a casa própria; o terceiro voltou a estudar; o quarto foi bem atendido num posto de saúde.
Nós outros, que não temos escola pública para os netos, vivendo em estado de insegurança, somos obrigados a pagar planos de saúde, sujeitos à dengue (que, pela incúria das autoridades sanitárias, voltou com todo gás), ficamos nos perguntando qual a nossa parte nesta propaganda: apenas pagar impostos?

sábado, 12 de junho de 2010

LATIM AOS SÁBADOS

COPA, EM BUSCA DA EMOÇÃO PERDIDA



Na quinta-feira, a cerimônia de abertura da Copa do Mundo não teve, a meu ver, o brilho de outras. É possível que o julgamento seja precipitado, até por não ser um expert em aberturas ou fechamentos de Copas do Mundo. Cumprindo jornada de trabalho num hospital de emergência, talvez tenha perdido os melhores momentos que fizeram referência ao motivo da celebração: um torneio de futebol. O fato é que não senti qualquer entusiasmo especial, a não ser no final, com a apresentação de Shakira, a simpática cantora colombiana, interpretando a música-tema do evento. Os colegas de plantão também elogiaram a performance de Shakira e até se cogitou fazer uma vaquinha para vê-la cantar em Arapiraca.
Abertura de Copa não é mesmo a minha praia. Ainda sou daqueles que preferem sonolentos modelos tradicionais, com desfiles de delegações no estádio, grupos de dança, um pouco de folclore (só um pouco, que é para não enjoar), ginastas, música (por que não?), sujeitos engolindo fogo, outros se espetando em espadas, coreografias usando o público, enfim, o modelo mais tradicional e conservador, sempre girando em torno da bola. Ah! E discursos breves.
A grande verdade é que esta Copa não está empolgando. Lembro de décadas anteriores, certamente menos velho, participando com a família de grupos de torcida, acertando encontros nas casas dos amigos. Algumas derrotas ficariam retidas na memória. Numa dessas, no restaurante Bebaki, do engenheiro José Augusto. De tão desgostoso, seu proprietário fechou o próspero estabelecimento, desde então considerado inadequado para assistir a jogos do Brasil.
Desmotivado, ainda não consegui decorar os nomes dos jogadores do nosso escrete. Não sei, por exemplo, quem é o lateral esquerdo.
Seja quem for, concordo com o Dunga pela não convocação de Roberto Carlos, não obstante hoje batendo um bolão pelo Corinthians - sua imagem ajeitando a meia, enquanto a França encaçapava em nossas redes, permanece muito viva em nossas lembranças. Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Gorducho, Adriano CV e os infantes Neymar e Ganso, por motivos diversos não eram boas opções. O técnico fez bem em não chamá-los.
Machado de Assis, em famoso poema sobre o Natal, concluiria com o estrofe: “E, em vão lutando/ contra o metro adverso/ Só lhe saiu este pequeno verso: Mudaria o Natal ou mudei eu?” Carente da emoção para vivenciar o momento esportivo, tomo carona em MA e também me pergunto: mudou a Copa, ou mudei eu?

domingo, 6 de junho de 2010

A CÉSAR E AOS SINDICATOS

Habitualmente embotado por um discurso ambíguo, oposto ao que costumava pregar quando militava nas oposições, Lula foi peremptório ao dizer que com 10% de imposto nenhum governo faz nada. A fala, aparentemente justa, vem recebendo críticas de setores que apreciam a questão com olhar técnico.
Lula compara nossa imoral taxa de impostos com a dos países mais desenvolvidos e chega à conclusão de que por aqui nossa cota de sacrifício é semelhante, não havendo, portanto, nenhum exagero nos quase 40%. Claro que algumas pessoas pagam muito mais.
Imposto não é invenção do Lula, do PT ou do FHC. Lá atrás, o Império Romano dominava os derrotados impondo-lhes o idioma e impostos escorchantes. Nesse aspecto, o Novo Testamento faz-lhe referência em pelo menos duas oportunidades. Numa delas, Jesus convida Zaqueu, odiado cobrador de impostos, para um jantar. Consta que, após isso, o sinistro anão teria devolvido aos contribuintes boa parte do arrecadado. Na outra, o Messias é instado a opinar sobre a obrigação de pagar impostos aos romanos; tergiversando, o Mestre manda os interlocutores confirmarem se é de César a esfinge da moeda, ao que conclui: “A César o que é de César”.
O fato é que o cabo eleitoral Lula, hoje carregando mala sem alça, com surrado discurso, não abre mão de impostos mesmo os aplicando em serviços de baixíssima qualidade. Temendo represálias, os contribuintes são encostados indefesos contra a parede. Para vergonha do órgão (Secretaria da Receita Federal), a própria estrutura presta-se como arma de perseguição aos críticos do governo, como foi o recente caso de varreduras de declarações de renda de alguns oficiais do exército, conforme denúncias da imprensa. Stalin não se sairia melhor.
O lógico seria que a grana arrecadada promovesse o bem-estar da coletividade. Sugiro até algumas coisas: educação e saúde de qualidade, não essas nojeiras que são oferecidas. Segurança, transportes coletivos etc, etc...
Mas o mais gostoso de tudo é ler na Gazeta que as Centrais Sindicais já receberam do governo Lula 228,3 milhões. Com a bufunfa, os sindicatos, em sinal de gratidão, dentre mil mimos inconfessáveis, patrocinam convenções partidárias e campanhas eleitorais dos companheiros
Em Maceió, segundo a mesma fonte, a prefeitura pensa investir milhões em um “Cofre-forte”. Nada contra, desde que antes saldasse os débitos com médicos, vencidos há um ano, com a presteza com que espera lhes sugar os impostos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MEDICO, MODO DE USAR

Médico, modo de usar|RONALD MENDONÇA *
Houve uma época que a média dos salários (não era grande coisa) dos médicos oscilava em 10 salários mínimos por 20 horas semanais. Eis que, surgidos das sombras, apareceram os sindicalistas. Com raras e honrosas exceções, essas aves querendo cubanizar o País, transformaram a “classe” médica em “categoria da saúde”. Logo depois os pândegos esculhambaram de vez a coisa ao assumirem as secretarias de saúde dos Estados. Os salários afundaram.
Hoje, entre o trágico e o cômico, sindicatos boiam do peleguismo às bravatas, de acordo com os interesses pessoais dos sindicalistas. O município de Maceió paga mil reais, e até o ético CRM de Alagoas, que deveria dar o exemplo, abre concurso para médico com salário de
dois mil reais!
A propósito, recebi e-mail versando sobre o “modo seguro de uso do médico”. Por limitações do espaço, sintetizei o elucidativo texto.
“1 – Médico dorme. Pode parecer mentira, mas médico precisa dormir, como qualquer outra pessoa. 2 – Médico come. Parece inacreditável, mas é verdade. Médico também precisa se alimentar, e tem hora para isso. 3 – Médico pode ter família. Essa é a mais incrível de todas: mesmo sendo um médico, nos fins de semana a pessoa precisa descansar, dar atenção à família, e a si próprio, sem pensar ou falar sobre doenças, internações, receitas, etc. 4 – Médico, como qualquer cidadão, precisa de dinheiro. É surpreendente, mas médico também paga impostos, compra comida, etc. Entendeu agora o motivo de ele cobrar uma consulta? Calote é feio e dá cadeia. 5 – Ler, estudar, é trabalho. E trabalho sério. Não é piada. 6 – Não é possível examinar pacientes pelo telefone. 7 – De uma vez por todas, vale reforçar: médico não tem bola de cristal. 8 – Em reuniões de amigos ou festas de família, o médico deixa de ser médico e reassume seu posto de amigo ou parente, exatamente como era antes de se graduar. 9 –- Não existe “parecerzinho”, “opiniãozinha” – qualquer parecer ou opinião tem que ser analisada e, é claro, deve ser cobrada. 10 – Celular é ferramenta de trabalho. Por favor, ligue apenas quando necessário. 11 – Antes da consulta: marque hora. 12 – Quando se diz que o horário de atendimento do período da manhã é até 12 horas, não significa que você pode chegar às 11h55 a exigir atendimento. 13 – Na hora da consulta, não encha o consultório de parentes
e curiosos. Importante: não “file” consulta. 14 – Respeite a quem dá valor à sua saúde e a sua vida!”.

MEDICO, MODO DE USAR

Médico, modo de usar|RONALD MENDONÇA *
Houve uma época que a média dos salários (não era grande coisa) dos médicos oscilava em 10 salários mínimos por 20 horas semanais. Eis que, surgidos das sombras, apareceram os sindicalistas. Com raras e honrosas exceções, essas aves querendo cubanizar o País, transformaram a “classe” médica em “categoria da saúde”. Logo depois os pândegos esculhambaram de vez a coisa ao assumirem as secretarias de saúde dos Estados. Os salários afundaram.
Hoje, entre o trágico e o cômico, sindicatos boiam do peleguismo às bravatas, de acordo com os interesses pessoais dos sindicalistas. O município de Maceió paga mil reais, e até o ético CRM de Alagoas, que deveria dar o exemplo, abre concurso para médico com salário de
dois mil reais!
A propósito, recebi e-mail versando sobre o “modo seguro de uso do médico”. Por limitações do espaço, sintetizei o elucidativo texto.
“1 – Médico dorme. Pode parecer mentira, mas médico precisa dormir, como qualquer outra pessoa. 2 – Médico come. Parece inacreditável, mas é verdade. Médico também precisa se alimentar, e tem hora para isso. 3 – Médico pode ter família. Essa é a mais incrível de todas: mesmo sendo um médico, nos fins de semana a pessoa precisa descansar, dar atenção à família, e a si próprio, sem pensar ou falar sobre doenças, internações, receitas, etc. 4 – Médico, como qualquer cidadão, precisa de dinheiro. É surpreendente, mas médico também paga impostos, compra comida, etc. Entendeu agora o motivo de ele cobrar uma consulta? Calote é feio e dá cadeia. 5 – Ler, estudar, é trabalho. E trabalho sério. Não é piada. 6 – Não é possível examinar pacientes pelo telefone. 7 – De uma vez por todas, vale reforçar: médico não tem bola de cristal. 8 – Em reuniões de amigos ou festas de família, o médico deixa de ser médico e reassume seu posto de amigo ou parente, exatamente como era antes de se graduar. 9 –- Não existe “parecerzinho”, “opiniãozinha” – qualquer parecer ou opinião tem que ser analisada e, é claro, deve ser cobrada. 10 – Celular é ferramenta de trabalho. Por favor, ligue apenas quando necessário. 11 – Antes da consulta: marque hora. 12 – Quando se diz que o horário de atendimento do período da manhã é até 12 horas, não significa que você pode chegar às 11h55 a exigir atendimento. 13 – Na hora da consulta, não encha o consultório de parentes
e curiosos. Importante: não “file” consulta. 14 – Respeite a quem dá valor à sua saúde e a sua vida!”.

Anna Bella, uma loucura idealizada

“Simples psiquiatra”, segundo a definição de um sindicalista, o médico que se dedica a essa complexa especialidade é antes de tudo um guerreiro. Falo por vivência própria. Desde a mais remota infância andei por hospitais psiquiátricos. Primeiro, na Casa de Saúde Miguel Couto, em Bebedouro, onde por mais de 10 anos meu pai trabalhou com Mário Morcef, na época o mais famoso. Depois, conheci o Hospital Portugal Ramalho, onde meu pai também militou e chegou a dirigi-lo, substituindo o bonachão Aníbal Sarmento, outro conhecido alienista.
Mas foi a vivência na Clínica de Repouso José Lopes de Mendonça, onde literalmente morei a partir dos meus doze anos, que imprimiu indelével marca, um razoável faro clínico para doença mental, que neste mundo maluco muito me serve para conviver com pessoas, e exercer a minha especialidade não psiquiátrica.
É com este olhar que saio em defesa da especialidade, aqui e acolá desagradando. Fui voz quase solitária insurgindo-me contra uma babaquice que se denominou “luta antimanicomial”, braço psiquiátrico do PT, cavalho de batalha de um bisonho deputado-psicólogo.
Não me arrependo de haver bancado o otário numa sessão pública de cartas marcadas na Câmara Municipal de Maceió, onde vereadores do PT fingiam imparcialidade. Fazia tempo que não ouvia tantas bobagens. Por ironia do destino, um dos mais representativos membros da “luta antimanicomial” em Alagoas tornou-se recorrente cliente de clínicas psiquiátricas.
As reminiscências correm por conta do filme -“média metragem”- do psiquiatra Mário Feijó, exibido há algumas semanas no Colégio Marista. Peça amadorística, familiar, espécie de confraternização de colegas de trabalho e amigos, não obstante, ressalto o esforço de alguns “atores”, sobretudo nas esteriotipias histéricas e neurológicas (discinesias, impregnação neuroléptica, crise convulsiva).
Num clima em que a doença foi tratada com leveza e o hospital quase paradisíaco, recuso-me pensar que se trata de uma peça de propaganda enganosa do governo. Num dado momento, enquanto assistia, fantasiei como seria bom passar uns dias lá internado, sendo tratado por tanta gente dedicada, atenciosa e competente.
No fundo, a licenciosidade poética guarda comovente intenção de transmitir uma imagem idealizada dos frenocômios – satirizados no texto de O Alienista de Machado de Assis – tão vilipendiados através de filmes iconoclastas tipo Estranho no Ninho e Bicho de Sete Cabeças.

PINTO EM LIXO

Esta Gazeta publicou na quarta-feira desta semana que a arrecadação de tributos federais totalizou R$ 70,906 bilhões em abril, segundo a Receita Federal. O resultado representa um crescimento real – acima do IPCA – de 16,75% em relação a abril de 2009 e de 18,66% em relação a março. No acumulado de janeiro a abril, a arrecadação atingiu R$ 256,889 bilhões, uma alta real de 12,52% na comparação com o primeiro quadrimestre do ano passado.
Pela série histórica da Receita, a arrecadação de abril é recorde para o mês. O crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior também é o maior dos últimos tempos. Otacílio Cartaxo, secretário da Receita federal, como todo cobrador de imposto nessas circunstâncias, está em estado orgásmico permanente, sobretudo porque a tendência é de recordes por cima de recordes.
Não é só Cartaxo que está em lua-de-mel. Modestos contribuintes como eu e milhões de outros também estamos em estado de graça. De fato, fico que não caibo em mim saber que participo da riqueza nacional com o suor e o cansaço sexagenários do meu trabalho diuturno. Por excesso de recato, nosso amigo não faz referência ao destino dessa dinheirama.
Como na canção do Balão Mágico, Sou feliz assim, dando dinheiro para o governo e o PT desperdiçarem com os milhares de sinecuras, largamente denunciados pela “imprensa hegemônica, antidemocrática e golpista” do país.
O povo brasileiro participa deste estado nirvanal que sustentou os mensalões (PT e DEM) e ensejou outras alegrias, pagou muitas cabeças de gado, orgias monumentais, surubas, apartamentos de luxo, jantares, viagens ao exterior, vestuário de griffe, sociedade em factoring...
Exulto ao carregar nas costas as ONGs que nutrem as invasões do MST de Rainha e Maranhão – o sem-terra de Boa Viagem. Tudo isso com o suor do velho bebedourense. É com este mesmo suor que o Bolsa Família funciona, patrocinando o ócio e as fraudes do programa – também relatadas pela imprensa burguesa rancorosa – e que graças a Deus está garantindo os índices de Lula e a performance vitoriosa da doce e autêntica Dilma Rousseff.
Mas hoje estou rindo com o vento. É que as denúncias do probo deputado Dudu Albuquerque me fascinaram. Como sabem, 20 parentes do parlamentar, que mamavam no governo sem trabalhar há 3 anos, foram demitidos. Outros 600 apaniguados do Legislativo estariam na mesma situação. Imaginem a satisfação de contribuir anos a fio com o bem-estar de gente tão qualificada!

Äncoras

Esta semana, cheguei a ensaiar alguns comentários sobre as eleições presidenciais, sobretudo depois do “empate técnico” entre os candidatos Serra e Rousseff. Até onde vai o peso da beleza (ou a feiúra) exterior e interior no êxito dos candidatos é outro tema recorrente e rico.
É que setores da imprensa exaltam o visual cada vez mais soft da ex-ministra,transformando em passado a carranca, agora com as madeixas à Sharon Stone. Aliás, dona Dilma está a cópia fiel da Norma Benguel com o penteado da protagonista de Instinto Selvagem. Não foi por acaso seu equívoco ao publicar no seu blog uma foto de Benguel (jovem) julgando ser sua. Já o pobre Serra, visualmente falando, é uma catástrofe grega. Sério, é feíssimo; sorrindo, é medonho. Mas como disse alguém, se beleza fosse fundamental, a candidata seria a Sabrina Sato.
Eis que as dúvidas acabaram ao ler o artigo de Eduardo Bomfim de ontem. Está uma maravilha. Quem não leu, não sabe o que perdeu. Sempre antenado, com a isenção habitual, chama a atenção para âncoras tendenciosos e malintencionados.
No caso, o âncora em questão seria um partidário do Serra que recomendava seu alinhamento com a política do execrável espanhol José Maria Aznar. Pessoalmente, nada sei sobre Aznar, mas já odeio
esse terrível conservador recalcitrante.
Por falar em aliados (perigosos?) da direita, lembrei-me de um dos ícones da política paulista, ele mesmo, o Paulo Salim Maluf, uma das esperanças de voto de Dilma Rousseff para desbancar as vantagens de Serra no Sudeste.
Mas essa questão de âncora é mesmo complicada. É muito divertido o programa de uma determinada estação de rádio em que o âncora local demonstra não gostar do governador. Quem quiser saber as más notícias com colorido especial, sem qualquer preocupação de se mostrar imparcial, ligue a emissora.
A coisa é tão folclórica que dá a impressão que o jornalista acabou de aterrissar de outra galáxia. Parecendo que Vilela recebeu um filé do antecessor, o cara finge ficar abismado com a violência no Estado. Como se nao fosse um problema crönico (nem por isso menos grave), a pletora e o desmantelo do HGE deixam o sujeito revoltado. Ele nunca ouviu
falar de contubérnio concupiscente entre o executivo e o legislativo.
Desconhece vícios na escolha dos conselheiros do Tribunal de Contas. Escandaliza-se com supostas falcatruas em secretarias chaves (Fazenda, Educação, Saúde). Horroriza-se com obras superfaturadas, com crianças fora da escola, com assaltos na Rua do Comércio.
E pensar que até bem pouco tempo essa mesma emissora desmanchava-se em elogios ao governador.

domingo, 25 de abril de 2010

ASSIM FALOU VERA ROMARIZ



A crônica do homem comum...para sempre.

Sempre que abrimos um jornal qualquer e lemos uma crônica, interrompemos a leitura de um fluxo linear de informações para obter,em linguagem leve,mas crítica,um comentário,um olhar oblíquo sobre os fatos que um leitor menos atento poderia considerar natural.Porque o cronista,em sua só aparente leveza,reescreve o cotidiano que,por vezes,vivenciamos automaticamente,”sem tempo de manteiga nos dentes”,como diria Fernando Pessoa.
Lendo as 42 crônicas de Ronald Mendonça, ora organizadas em livro, percebo um olhar ágil ,como uma câmera,a mostrar-nos cenas de Maceió e do Brasil,presentes ou esmaecidas em nossa memória.O cronista,como um mágico verbal, põe novo foco em novos ou velhos fatos,dá-lhes um roteiro inesperado,e eles saltam do congelamento do já dito para a vida nova que a leitura de uma crônica proporciona,na vida curta de um jornal.
O autor que escreve essas crônicas utiliza três caminhos na estruturação dos textos: ora narra pequenos “causos”,como em “Praga de sogra”,que conta em tom irônico a saga de uma viúva à espera de um bom partido,ora tece comentários políticos sobre fatos da atualidade,ora constrói perfis humanos..No segundo caso,o autor relaciona males públicos antigos da política nelas fazendo incidir, de modo às vezes transversal, uma inteligente crítica de costumes,como na saborosa “Água Velva e botox”; nesse modus faciendi, gira a câmera para o presente local ou nacional,construindo uma analogia entre o fato antigo e o novo.Parece ser objetivo do cronista reiterar a persistência das mazelas dos homens públicos,envoltos em casos de corrupção e de menosprezo às necessidades populares.
As relações humanas constituem prato do dia do cronista,aí incluídas a do casamento,em que passeiam mulheres vaidosas ou perigosas e homens nordestinos em melancólico crepúsculo de vigor e autoridade paterna,narrado com uma ironia complacente pelo autor em “Lições de vida”.Pela mão do cronista Ronald Mendonça, personagens diversas expressam em ações ou em falas o desejo individual,a frustração com o país e a cidade,o desgosto e o gosto por coisas corriqueiras que constroem em linhas simples o cotidiano das cidades- espaço por excelência da crônica brasileira.
No terceiro caminho, enfim,traz à tona perfis pitorescos de figuras populares,ou da classe média,de amigos que admira e estima,das quais extrai verdades humanas, ou exemplares.É o caso de uma em especial,em que descreve a trajetória humana de um pai em busca por justiça e paz-valores que prezou e que viu serem desarticulados em tragédia familiar que lhe vitimou os filhos jovens. Desses perfis, essalto “Idiotas asilares”,cujo conteúdo remete à luta de um pai argentino( espécie de alter ego do autor) por leis mais duras contra a criminalidade.Motivado pelo assassinato do filho,o engenheiro Blumberg recebe do cronista Ronald Mendonça um tratamento erudito e comovente,chamando-o de “esse Quixote dos pampas,-uma “triste figura” bem sucedida que empunhando sua tragédia pessoal e cavalgando a sua dor já começa a colecionar vitórias”.
A aproximação é sutil,se observarmos que a bela obra de Miguel de Cervantes nos remete à utopia de um mundo pleno de humanismo proposta por um escritor cético em relação ao contexto em que se inseria.

Com “motes”diversos, e um sólido conhecimento da tradição judaico-cristã,e da cultura latina,o que se materializou em um texto sobre Esopo e sua fábula,e em outro sobre a trajetória do homem Jesus Cristo,o autor transmite para o tecido verbal sua intimidade com a civilização latina,que estuda há tempos.Mas ele utiliza uma erudição sem pedantismo,como um bom cronista o faria,porque traz o conhecimento antigo e o atualiza com inteligência,humor e crítica.O olhar saudosista sobre uma Maceió antiga,iluminada por festas e falas populares surge bela e delicada,com o bairro de Bebedouro engolfado por uma modernidade desumana e excludente;trata-se de um contraponto a seus textos mais incisivos sobre políticos locais ou nacionais.
Contando “causos”, provocando risos ou críticas polêmicas, a crônica de Ronald Mendonça reacende uma verdade que me é cara: o gênero crônica nasce nos jornais,e sua linguagem se dirige ao homem comum,àquele que luta,sofre,xinga o governo,e depois veste uma “camisa listrada e sai por aí”. Que bom!
Maceio, abril de 2010

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PS- Amigo Ronald: Amei a crônica “Vera para sempre”.Mas como analisá-la sem cair no risco de ser criticada por parcialidade verdadeira,assumida,prazerosa?Beijo para sempre em você, em Nadja, e em nossas crianças.

Maceio, abril de 2010