Em 1978, participei, de forma mais ativa, de primeira e última campanha eleitoral. Acompanhei passeata, botei retrato do meu candidato nos vidros do meu carro, pedi votos, fiz o diabo. Em Maceió, metemos trinta mil votos de diferença, vantagem tirada de letra por seis ou oito pequenas cidades do sertão, cuja votação dava quase cem por cento aos postulantes situacionistas. Era o tempo de MDB X Arena.
O MDB da época, único partido de oposição, abrigava várias correntes, desde democratas do calibre de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, dentre outros, que lutavam pela normalidade no País, até grupos que estavam convencidos de que a solução era uma ditadura nos moldes de Cuba ou da Albânia, quem sabe da chinesa ou da coreana.
O fato é que meu candidato não foi eleito. Mas as coisas mudariam: O MDB virou PMDB, a Arena ficou sendo PFL.
Uma coisa permaneceu quase imutável: o nordeste, sobretudo no interior, continuou governista até a alma. O clientelismo parecia estar no DNA do nosso povo. O Sul e o Sudeste, menos dependentes, elegiam oposicionistas, mas a maioria, graças ao Norte e Nordeste, permanecia dizendo amém à ditadura.
O PFL e o nordeste pagavam o preço pela submissão. Nossos irmãos de outras plagas (na época, oposicionistas), para achincalhar, chamavam o partido governista de “pefelê”, numa referência debochada ao modo “nordestinês” de recitar o alfabeto. Falavam misérias de nós. Até nordestinos repetiam o vocativo provocador, fazendo coro à descriminação.
O povo é mais fiel que nossos políticos. O tempo passou e ele continuou governista. Antes, era o clientelismo dos coronéis, hoje é o Bolsa Família. Nesse aspecto, o nordeste não decepciona, não faz feio, não trai. Povo valoroso, grato, de vergonha na cara: não deixou na rua a afilhada do Lula. É por isso que é questão de honra manter e ampliar esse Bolsa Família.
A propósito, há uma celeuma em torno de declarações ofensivas contra os nordestinos que elegeram a governista. Com ou sem razão, não é a primeira vez que isso acontece. Se hoje é a direita raivosa a acusar, ontem era a esquerda ressentida. No embalo, até velhas aspirações separatistas paulistanas vieram à tona. Desvairada, a pauliceia não livrou nem o nosso Márcio Canuto. Há muito se sabe que parte dos paulistanos nos vê como intrusos e usurpadores. Que adianta ficar falando em Graciliano, Raquel, Jorge Amado, Adib Jatene, se no meio disso espirram Zé Sarney, Jader Barbalho, Genoíno, Tiririca?
(*) É médico e escritor.
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