Murilo Gameleira
Publicado por Redação de O Jornal em 07/08/2010 as 11:22Arquivado em Opinião
Troquei um deleite por outro.
Interrompi a leitura das “Melhores crônicas” de Affonso Romano de Sant’Anna, selecionadas por Letícia Malard, professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG; e abri, e em dois tempos devorei, os escritos que Ronald Mendonça publicou em jornal no decorrer de 2007, agora reunidos em livro. Batiza a coletânea o título da crônica “Latim aos sábados”.
Pesaram na troca os laços de estima que nos aproximam, mas sobretudo a ansiedade por revisitar a qualidade dos textos do Mestre — assim afetuosamente trato o autor conterrâneo. Da incursão, concluo: escrevesse em uma folha circulante em todo o país, estivesse em um grande centro, Ronald há muito teria atingido dimensão nacional como escritor.
A Medicina correria o risco de perder o neurocirurgião; é seguro que Ronald logo alcançaria o reconhecimento a que faz jus como autor, e se animaria a retirar do fundo do baú os contos que nega mas tenho por certo que escreveu, antes e depois de “Águas Rubras”. Daí para deitar no papel o romance que o meu sexto sentido diz borbulhar em sua cabeça, seria um passo.
A província é ingrata. Para excedê-la intelectualmente, é preciso ultrapassar seus limites geográficos, distanciar-se das raízes.
Não é o que aconteceu aos nossos Graciliano, Aurélio, Jorge de Lima, Arthur Ramos? Não é o que ocorre Brasil afora? Vejam-se os exemplos de tantos outros de outras plagas. Para chegarem à glória, largaram os berços em que nasceram.
Há, inclusive, o caso extremo de João Ubaldo Ribeiro. Ubaldo saiu da Bahia, em vão peregrinou no eixo Rio-São Paulo, não conseguiu editor para “Sargento Getúlio”, sua criação de estreia. Foi à luta. Traduziu o texto, ele próprio, do nordestinês para o inglês, encontrou um lugar ao sol nos Estados Unidos. O livro obteve êxito lá, e só então o autor foi “descoberto” e a obra publicada aqui.
São muito raras as exceções. De pronto, ocorre-me o nome dos Veríssimo, Érico e o filho Luiz Fernando. O primeiro, no romance; o segundo, na crônica.
Pode-se arguir que Adélia Prado não saiu de Divinópolis, Manoel de Barros continua nos marcos matogrossenses e Raduan Nassar permanece enfurnado no interior de São Paulo. Mas cabe perguntar: eles não teriam alcançado projeção intelectual bem maior se tivessem se transferido para os centros formadores de opinião?
Voltando a “Latim…”. Se fosse chamado a julgá-lo, e para não se dizer que só vi os lírios do campo, fecharia os olhos aos cochilos do revisor e da gráfica.
E ao texto do Mestre daria a nota máxima.
Sobre o autor:
Murilo Gameleira Vaz é
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário