terça-feira, 14 de dezembro de 2010

DISCURSO PROFERIDO NO MOMENTO EM QUE RECEBI O TÍTULO DE CIDADÃO ARAPIRAQUENSE

Meus senhores, minhas senhoras


É com grande emoção e entusiasmo que hoje compareço a esta egrégia casa legislativa para diante desta seleta plateia receber o honroso título de Cidadão Honorário da bela, operosa e próspera Arapiraca.

Arapiraca freqüenta a minha imaginação desde a mais tenra idade. É que meu pai, o psiquiatra e professor José Lopes de Mendonça, tinha por esta terra enorme simpatia e grandes amigos. Com efeito, um dos maiores amigos do meu saudoso pai foi o grande médico doutor Edler Lins, amigo-fraterno e compadre. Doutor Edler era padrinho do meu falecido irmão Robson Mendonça, que, como meu pai, era psiquiatra e professor da Universidade Federal de Alagoas.

Os arapiraquenses sabem que Edler Lins aqui chegou nos meados dos anos 40 do passado século, realizou um belo trabalho de desbravador, salvou muitas vidas, constituiu família criando profundas raízes neste território abençoado por Nossa Senhora do Bom Conselho. Nossas famílias fazem questão de preservar esses laços.

Durante este breve discurso quero homenagear algumas pessoas, arapiraquenses, de berço ou não, que prestaram relevantes e inestimáveis serviços à comunidade. Doutor Edler Lins é um deles.

O momento é de muita emoção e não quero, traído pelos sentimentos, me separar do essencial. Nasci em Maceió, no bairro de Bebedouro, há quase 63 anos. Minha mãe Rosa Cabral de Mendonça era professora. Cuidando de onze filhos, seu pendor para o ensino foi para educar os rebentos. Até dedicar-se à psiquiatria, meu pai exerceu a clínica médica em Bebedouro, já na época um bairro que tinha uma rica história de memoráveis festejos natalinos e carnavalescos liderados pelo lendário Bonifácio Silveira. Consta que o imperador D. Pedro II, nas suas andanças pelas Alagoas, lá estivera servindo-se das águas mansas da lagoa Mundaú.

Foi nesse bairro tradicional, embora algo decadente, que me criei. A partir dos seis anos iniciei meus estudos no Colégio Diocesano (hoje Marista) de onde saí aos dezoito incompletos para ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas. Posso lhes garantir que comecei a aprender a ser médico desde criança, com o meu pai, um médico de excepcionais qualidades. Apaixonado pela cirurgia, quando estudante, aproximei-me de Dirceu Falcão e outros famosos cirurgiões da época.

Depois de formado, fui para São Paulo. A essa altura já estava casado com a minha colega de turma Nadja Mendonça – hoje famosa psiquiatra e psicanalista – e já tinha uma filha, minha saudosa Lavínea. Passamos 4 anos em São Paulo e um ano no Rio de Janeiro nos aperfeiçoando. Em dezembro de 1976, após cinco anos de muito estudo e trabalho, voltamos a Maceió.

Dois meses após o regresso, passei a dar aulas na Faculdade de Medicina como professor de Neurologia, ao mesmo tempo em que assumia emprego de médico da Previdência, lugar que ocupo até hoje. No mesmo período, comecei a dar plantões no velho HPS de Maceió, na Rua Dias Cabral, e a prestar assistência na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, onde permaneço até os dias atuais.

Havia muito trabalho pela frente, como a pedra de Sísifo, personagem mitológica condenado a carregar uma grande pedra ao cume da montanha. Como castigo, a pedra rolava morro abaixo todas as vezes em que se aproximava do ponto mais alto, obrigando a infeliz criatura a repetir o esforço a cada dia. Essa praticamente é a vida de todos, médicos ou não. O segredo da longevidade na profissão é carregar a pedra de Sísifo não como um castigo, mas como um dever prazeroso.

Quando jovem, recusei dois convites para trabalhar em outra cidade. Um deles foi para assumir emprego de neurocirurgião no Hospital do Servidor de São Paulo, fazendo jus a aprovação em concurso público. O outro foi para fixar residência na distante Chapecó. Optei por Maceió e lá permaneci, exclusivamente, durante três décadas.

A perspectiva concreta de vir para a “capital do fumo” surgiu de forma inesperada há cinco anos. De repente, criou-se um hiato nos plantões de fim de semana na Unidade de Emergência do Agreste e a proposta de trabalho quis nos parecer razoável. Embora não fosse nossa intenção percorrermos quase 150 quilômetros a essa altura da vida, encaramos o desafio com o entusiasmo de um recém-formado. Acho que tem valido a pena esse esforço, agora coroado com esse título, graças à incalculável generosidade dos senhores. Faria tudo outra vez. Aproveito a oportunidade para fazer justiça aos nosso estimados amigos o casal Denise e José Lopes, grandes incentivadores desse projeto. Obrigado Denise, obrigado Zé Lopes.

O fato é que aqui fui recebido de braços abertos, com carinho e respeito. Sou o mais velho do grupo de plantonistas. Com certeza, a maioria absoluta dos meus colegas de plantão é de ex-alunos. Aliás, muitos colegas apostaram que eu não viria e se viesse demoraria pouco. Felizmente eles estavam enganados. Passados cinco anos, ainda há quem se admire da minha presença e pergunte se aquele encanecido médico que caminha pelas enfermarias do hospital é mesmo o Dr. Ronald.

De vez em quando recebo visitas de outros colegas: Judá Fernandes, uma lenda viva da medicina de Arapiraca, meu estimado companheiro da Sobrames, já me deu a honra de me ver nas dependências da UE. Outro que aparecia de quando em vez era José Mendes, professor, empreendedor na saúde e na educação, fundador da Unimed, cujo falecimento precoce e inopinado enlutaria os amigos e a comunidade. Um autêntico arapiraquense que deixou uma enorme lacuna no coração dos seus amigos e clientes.

A Unidade de Emergência de Arapiraca, local do meu trabalho, é a materialização de uma idéia luminosa que não pode se perder por questiúnculas políticas. Está além de partidos e governos. Pela importância, pela relevância dos serviços, é um patrimônio da região que deve merecer cuidados ininterruptos. Valorizar seus funcionários, palpar seus anseios, deve ser vista como prioridade absoluta. Não hesito em afirmar que é a unidade hospitalar mais importante da região. Sinto-me orgulhoso em poder contribuir com a minha experiência e o meu trabalho para este projeto.

Arapiraca, com suas terras férteis foi, em 1848, a preferida do fundador Manoel André Correia dos Santos. Então foi nessa Arapiraca, a árvore frondosa e acolhedora situada à margem direita do Riacho Seco, onde Manoel André acampou no primeiro dia, quando procurava uma fonte de água doce onde pudesse se instalar”.
Abrigando-se sob a árvore teria proferido: “Esta Arapiraca será minha moradia”. Olha, gente. Arapiraca tem uma história muito bonita. Não vou recontá-la agora para não cansar os senhores. Mas a prefeitura, o Google, a Academia tem registrado sua evolução. Vale a pena conferir. Com a genética irremediavelmente voltada para o fumo e outras atividades agropecuárias o município vem sofrendo graduais e importantes modificações. Converso com meu querido amigo e dentista particular Lula Santana, um arapiraquense 25 horas por dia, apaixonado pelo glorioso ASA, que me discorre com invulgar eloquência sobre as grandezas de sua terra (agora nossa). Atento às mudanças, entusiasmado, ele me diz que Arapiraca não para de crescer. Concordo plenamente.

A Arapiraca que eu conheci há cinco anos já não é a mesma. De fato, há um estado permanente, eu diria frenético, de ebulição. Beneficiada por sucessivas administrações voltadas para o progresso, a cidade ferve, se expande, prospera. Repito mais uma vez: é uma honra estar aqui na presença dos senhores, dos meus amigos Clailton e Socorro, Maria Auxiliadora,Eduardo e Andreia, dos colegas Helly Carlos, Fabiana,Moroni e Lula Santana, dos pacientes e familiares, dos meus familiares, dos meus cunhados Milton Dário e Tânia Oliveira, dos meus tios Ruy, Breno e Manoel, da minha esposa Nadja, dos meus filhos Carlos Eduardo e Bruna e dos meus netos Caio e Maria Clara recebendo essa valiosíssima homenagem.

Arapiraca vai além do fumo e do glorioso ASA. Município mais importante de Alagoas – fora a capital, é uma das cidades que mais cresce no Brasil. Não se trata de incenso gratuito do homenageado. Há poucos meses foi destaque numa revista de circulação nacional como exemplo de cidade a ser seguido pelo país. Na província, marca presença como força política e econômica. O atual prefeito, Luciano Barbosa, foi ministro do governo FHC. A deputada eleita Célia Rocha, por sinal médica, ex-prefeita da cidade, é uma das maiores lideranças do Estado.

Não é de hoje essa liderança. No panteão de grandes líderes, mesmo correndo riscos da omissão, lembro o médico Marques da Silva, os Lúcio, inclusive o senador João Lúcio, os Pereira, os Albuquerque e a saudosa Ceci Cunha.

Falecido em 1935, Francisco de Paula Magalhães é apontado pelos historiadores com o grande pioneiro na cultura do tabaco em Arapiraca. Se hoje a cultura do fumo não mostra a força de décadas atrás, é preciso que recordemos do seu apogeu nos anos 60-70 quando foi conhecida nacionalmente e até internacionalmente como a “capital brasileira do fumo”, fama que lhe trouxe grande prestígio atraindo novos investimentos que alavancaram ainda mais seu desenvolvimento.

O pioneirismo de Paula Magalhães frutificou. Nesse rol de grandes continuadores da indústria do fumo estão Eduardinho, Gabi, Aurelino, Severino das Bananeiras, Adalberto Rocha e tantos outros.

Destaco outros empresários que ajudaram a construir a grandeza desta terra. Alonso de Abreu, vereador, empresário, deputado, honra esse solo generoso. Os já citados Deca Moço (pai de Lula Santana) e Adalberto Rocha e filhos. Geraldo Lyra foi outro que contribuiu para o crescimento do município com a indústria de algodão, outro produto forte da região.

Zé Alexandre é um exemplo de político e arrojado empresário com o seu bem- sucedido Grupo Coringa. O filho, Marcelino Alexandre, habilidoso político, segue-lhe os passos Quem vem sendo alvo da admiração e o respeito de todos são os irmãos Genilson e Jadielson da rede Unicompras. Zé Pivete cresceu em Arapiraca e já expande as empresas para além das fronteiras.

Na Educação, Arapiraca vive momento de grande efervescência com a implantação de unidades da UFAL. Quero homenagear o educador Moacir Teófilo, ex-secretário estadual de educação e dirigente do sexagenário Colégio Bom Conselho. Em seu nome saúdo todos os professores do município.

No quesito Saúde, a cidade está em voo ascendente. Além dos tradicionais estabelecimentos de saúde, e eu ressalto a presença dos médicos José e Judá Fernandes. Aliás Judá Fernandes é um dos escritores médicos mais fecundos. Envaideço-me da doce convivência na Sobrames. Dizia eu que, além dos tradicionais estabelecimentos, novos hospitais surgiram nos últimos anos, bem aparelhados e com equipes médicas da melhor qualidade científica e ética, realizando procedimentos médicos que nada deixam a dever daqueles executados nos grandes centros nordestinos. Tem nos chamado a atenção o rápido andamento das obras de ampliação da Unidade de Emergência do Agreste, o que será um grande avanço na assistência aos traumatizados da região.

Com tanto progresso, com tanta gente trabalhando em prol do desenvolvimento, da grandeza do município, seria mais do esperado que grandes lideranças políticas por aqui frutificassem. Ao lado de eminentes figuras dos quilates do senador João Lúcio, do deputado Marques da Silva, do deputado e artista plástico Ismael Pereira, do secretário de educação Rogério Teófilo, de Nascimento e Júnior Leão, do já citado Marcelino Alexandre, entre outros, homenageio os deputados eleitos Ricardo Nezinho, Severino Pessoa, Célia Rocha e o prefeito Luciano Barbosa. Certamente Arapiraca crescerá ainda mais com a chegada de recursos públicos e novos empreendimentos.

Senhor presidente, senhores vereadores, meus amigos aqui presentes, meus estimados pacientes, meus queridos tios, minha querida Nadja, meus queridos filhos e netos Carlos Eduardo, Bruninha, Caio e Maria, para alegria geral estou findando o discurso. Machado de Assis dissera certa feita que o elogio faz bem não só à alma, mas também ao corpo. E acrescentava: “as melhores digestões de minha vida foram de jantares em que fui homenageado”. Por isso estou me sentindo tão leve e tão saciado.

Hoje é um grande dia. Um dia muito especial. Receber essa homenagem do povo arapiraquense é algo que nunca imaginei acontecer. O momento é de um misto de humildade e orgulho. Certamente que a comenda estreitou ainda mais meu relacionamento com a cidade e multiplicou minhas responsabilidades e compromissos com a saúde dos seus habitantes.
Muito obrigado a todos.

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