terça-feira, 14 de dezembro de 2010

GOZO E CASTIGO

Depois do estardalhaço da “operação de guerra” que culminou com a “retomada” do território brasileiro que caíra nas indignas mãos do tráfico, parece que o noticiário está voltando ao seu padrão de costume.
As emissoras até que tentaram, a todo instante, criar um clima de paroxismo que efetivamente não ocorreu. O que se viram, no mais das vezes, foi deslocamento de helicópteros, policiais batendo papo de forma descontraída e dispneicos repórteres como se estivessem prestes a ser atingidos por explosões de granadas ou saraivadas de balas.
Com isso não quero negar os momentos de espetáculo midiático de grande efeito, como o da fuga em massa dos supostos deliquentes. Numa espécie de previsível êxodo, através de estrada de barro ligando o segmento invadido com as comunidades contíguas, só a polícia não sabia que aquela seria a rota natural de escape. Desalojar traficantes em manobras posteriores provou ser muito mais complicado. Dos centenas que fugiram, apenas alguns gatos pingados seriam capturados
Certas curiosidades merecem destaque. Fica a certeza inconfundível de que a polícia estadual seria incompetente (e bota incompetência nisso) para encarar a estrutura marginal. Diante do abundante material apreendido, entre armas, dinheiro e drogas, ficou evidente a criminosa omissão das autoridades, sobretudo federais, durante anos seguidos, isso inclui desde antes de FHC até Lulalá. Como esses caras foram irresponsáveis ao deixar ao “Deus dará” faixas territoriais sem qualquer controle!
E aí eu relembro que as favelas, sobretudo as do Rio de Janeiro, num passado não muito distante, eram considerados pelas elites intelectuais e gauchistóides como um fenômeno social de inteira responsabilidade dos governos capitalistas. Por conta disso, havia um condescendente e apaixonado olhar. Num paroxismo de inspiração, Chico Buarque faria a apologia do “meu guri”. Saber que a hipócrita e decadente burguesia da zona sul carioca estava de caras e veias enfiadas no tóxico era um gozo. (Jamais esquecer que só existe tráfico porque tem o cliente).
Com Lula, houve uma expansão (e o silêncio das elites). Nunca neste país o tóxico foi tão poderoso. No fim de tudo, com a proximidade da Copa, urgia tomar-se uma providência. Até porque os traficantes começaram a aterrorizar. Ônibus e carros ardendo em chamas costumam ter imensa repercussão internacional. Não fora isso, e os guris ainda hoje estariam belos e fagueiros vendendo seus bagulhos.

Nenhum comentário: