O habilidoso cirurgião Luiz Carlos Buarque de Gusmão, ex-aluno e meu companheiro de plantão em Arapiraca, é também celebrado como um dos mais tinhosos caçadores do agreste e do sertão. Respeitado professor de anatomia de sucessivas gerações de médicos formados na Ufal, Manga-Rosa - apelido que o consagrou -, sobreviverá muitos anos ainda como caçador, mas como anatomista é uma espécime em extinção.
Aos não iniciados na Arte de Hipócrates uma explicação: desde os primórdios e ao longo do tempo, o ensino da anatomia constituiu-se na porta de entrada e num dos principais pilares do conhecimento médico. Cartão de visita e primeiro grande gargalo do curso, não é por acaso que os professores que a ela se dedicam revestem-se de uma aura de rigidez, de exigência, que os faziam odiados ou amados, mas certamente os mais temidos do curso. Por tudo, era praticamente impossível um médico esquecer do nome do seu professor de anatomia.
Na Ufal, Gusmão incorporou essa milenar tradição que entre nós começou há sessenta anos. Sobre os seus ombros pesa a responsabilidade de suceder ao grande Augusto Cardoso, o mais representativo membro da comunidade dos anatomistas de Alagoas.
Como assinalei acima, não só Manga-Rosa mas outros anatomistas correm o risco de ser varridos do planeta. É que o ensino da anatomia, anteriormente contemplado com dois anos, vem sofrendo processo de atrofia, até o momento atual de apenas algumas semanas.
Os mentores da atual grade curricular do curso de medicina não fazem segredo que a proposta fundamental é "formar cidadãos" que se revelem sensíveis às grandes questões nacionais: injustiças sociais, imoral concentração de riquezas e outras que tais.Do ponto de vista de medicina propriamente dito, a ideia é de se
sobrar tempo, preparar
profissionais para atender ao SUS.
A bem da verdade, essa tendência de tentar esquerdizar (viúvas inconformadas do fracassado comunismo) o ensino não é privilégio do curso médico, muito menos do de Alagoas. A esse respeito, o colunista da revista Veja Gustavo Ioschpe teceu oportunos comentários. A conclusão é que todos os professores que teimarem em ensinar medicina no curso médico estão com seus dias contados, do anatomista ao neurologista. As vagas serão destinadas a psicólogos, assistentes sociais, historiadores, filósofos, cientistas políticos, economistas, sociólogos...
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