terça-feira, 14 de dezembro de 2010

MEIO SÉCULO DE LUTAS

No final dos anos 60 do século passado, um grupo de psiquiatras e neurologistas estava reunido no Rio de Janeiro em torno de um novo medicamento. Grandes vultos da psiquiatria brasileira davam o ar da graça. Meu pai, o psiquiatra José Lopes de Mendonça, sem fazer parte deste time de ungidos, também ali marcava presença.
Num dado momento, houve oportunidade para uma visita ao Hospital Dr. Eiras, tradicional clínica psiquiátrica carioca. Meu pai foi incluído no grupo dos convidados especiais. Com os “cardeais” à frente guiados por Paulo Niemayer, meu pai acompanhava junto com outros, do “baixo clero”. De repente, gritos fariam estancar a procissão: “Doutor Zé Lopes! Doutor Zé Lopes!” Seguiu-se uma corrida de uma mulher em direção a ele, enlaçando-o em comovido abraço.
Depois de tomarem conhecimento da alagoanidade do velho, soube-se dos porquês de um ilustre anônimo, único a ser reconhecido em terras tão distantes. O segredo era simples: a paciente em questão tinha sido internada na Clínica de Repouso Dr. José Lopes de Mendonça, ali no Mutange. A família transferira-se para o Rio; coincidiu de estar lá, na Dr. Eiras, justamente para encher a bola do doutor Zé Lopes.
A Clínica de Repouso Dr. José Lopes de Mendonça foi fundada em setembro de 1960. Dois anos depois se transferiu para o majestoso solar do Mutange, sua sede atual. A fundação foi fruto de um amadurecimento de mais de 12 anos de atividade na especialidade, período em que meu pai trabalhou no hospital psiquiátrico Miguel Couto, culminando com um Curso de Especialização em Psiquiatria, em 1958, no Departamento Nacional de Doenças Mentais, no Rio de Janeiro.
São 50 anos de serviços prestados à comunidade alagoana e a moradores de estados vizinhos, atraídos pela fama da instituição. Avesso a exposições midiáticas, Dr. Zé Lopes sempre resistiu a apelos que transformassem seu hospital em “Circo de Horrores”, colocando seus pacientes em situações grotescas, espetáculos que se prestam mais para polir o narcisismo de quem os promovem.
Mas, nem tudo foram flores nesse caminhar. Sem falar no êxito profissional que despertaria a ira de alguns, a Clínica teve que lutar, dentre tantas batalhas, contra o preconceito e movimentos iconoclásticos. Incondicional parceira do SUS, (indis)gestores da sigla escamoteiam o mais elementar dos direitos: pagar pelos serviços que recebe. Com efeito, a dívida da Secretaria Municipal de Saúde do Município está lhe causando uma asfixia insuportável.

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