Num ensaio sobre Sabino Romariz, a neta, poeta Vera Romariz, refere ser duplamente desafiante falar sobre o avô ilustre que morreu aos quarenta anos. Um avô que não conheceu, mas de quem recebeu no DNA uma maravilhosa veia criadora.
Acabo de assumir na AAL a cadeira 15, que tem justamente o transgressor poeta penedense como patrono. Sucedo a D. Fernando Iório, Bispo Emérito de Palmeira dos Índios, que, por sua vez, substituiu o poeta Cipriano Jucá, um dos 40 fundadores da instituição.
É praxe, ao recém empossado, visitar a biografia dos que o precederam, encargo cada vez mais leve e menos protocolar à medida que se aprofunda nas pesquisas.
Falava de Romariz, que não fugiu do estereótipo de miscigenar boemia/inspiração. Ex-seminarista, percorreu vários estados brasileiros entre 1890 e 1903, quando retornou a Penedo. Culto, poliglota, em qualquer lugar que estivesse dispunha-se a ensinar línguas (latim, francês, inglês) e até desenho figurado.
No Rio de Janeiro conviveria com monstros sagrados da cultura brasileira, como Olavo Bilac e Guimarães Passos. Escrevia para jornais e fazia poemas. Belos poemas. Na antiga Corte publicou seu primeiro livro.
Polêmico quanto ao modus vivendi, não foi menor quanto ao seu estilo poético. Se simbolista, parnasiano ou romancista.
A unanimidade corre por conta de inigualável repentista, rara inteligência e fidelidade a Guerra Junqueiro, notável poeta português, cujas quilométricas poesias são impregnadas de religiosidade, anticlericalismo e de recorrente conteúdo social.
Nem só de Cristo, Judas, Madalenas e Jós viveu o vate penedense. Encantado por Aspásia, “a bela loura de olhos verdes”, elegeu-a eterna musa inspiradora e mãe de seus dois “pequenos melros”: José e João.
Em 1992, Francisco Sales, presidente da Fundação Casa de Penedo “ressuscitaria” Sabino, publicando Poesias Escolhidas, com prefácio do brasiliense Cassiano Nunes e orelha de Ledo Ivo.
O texto de Ivo, acerbamente denominado de “Alagoas, cemitério de poetas!”, discorre sobre aspectos pontuais da obra de Sabino, sem esquecer de mencionar que, “(...) surge, como uma clareira luminosa, o verso plácido do poeta que, mesmo quando distante de sua terra natal, ouvia o fluir das águas do Rio São Francisco e os sinos da igrejas de Penedo”.
Fecundo, em meio a tantos papéis não resgatados, talvez definitivamente perdidos, em 1911, a dois anos de sua morte, o poeta publicaria o zênite de sua criação: Toque D´Alva.
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