domingo, 11 de dezembro de 2011

DESTINO

Era o feriado de Todos os Santos de 1919 quando um grupo de intelectuais alagoanos reuniu-se em torno da ideia de criar uma agremiação destinada ao cultivo das letras. Trinta e cinco amantes da literatura deram o ar da graça naquela tarde, tendo como palco o recém-construído Teatro Deodoro, joia do arquiteto Lucarini e orgulho da administração dos Malta, oligarquia que deu as cartas no amanhecer do passado século vinte.
Falava dos presentes e dos representados: dentre tantos, cito Moreira e Silva que respondia por ele e pelo próprio governador-intelectual Fernandes Lima. Jaime de Altavilla, Lima Júnior, Cipriano Jucá, Guedes de Miranda, o primo Fernando Mendonça, Demócrito Gracindo, Jorge de Lima, Joaquim Diégues, Diégues Júnior, Arthur Acioly, Barreto Cardoso, tudo isso sob as bênçãos do clero: Cônego Machado e Pe. Júlio, todos imortais fundadores.
Orador de grandes recursos, o advogado Guedes de Miranda selaria o encontro com frase lapidar: “A força de uma Nação reside mais no fulgor de suas letras que na possança de seus exércitos”. Curiosamente, embora não tenha sido seu primeiro presidente, nem estivesse presente na reunião de fundação, a AAL ficaria conhecida como a “Casa de Gracindo”.
Nos anos setenta, o sodalício receberia um presente de Lamenha Filho, “o governador que amava as letras”, segundo a poética definição do lendário Ib Gatto Falcão. Com efeito, o antigo Grupo Pedro II passaria a ser sua sede. Belo destino para um lugar que já servira de hospital e notabilizara-se pela excelência do ensino público, em saudosas épocas.
E, no entanto, tudo se move, seguindo a erudição do médico Luiz Nogueira, no seu discurso de posse na AAL, citando Galileu Galilei. Hoje, a Casa de Gracindo ocupa a antiga residência do poeta Jorge de Lima. Desfigurado escombro, somente a obstinação de um dr. Ib conseguiria resgatá-la do obscurantismo do anonimato e de impiedosa demolição a que estava predestinada.
Quis o destino que um despretensioso cronista semanal, médico por profissão e tímido diletante das letras, fosse o escolhido para ocupar a vaga do iluminado d. Fernando Iório, seu ex-confessor. Nesse santuário de cultura e saber, o velho bebedourense, filho do doutor José e de dona Rosinha, já se sentiria recompensado em apenas concorrer.
Nos sonhos mais insanos, jamais ousou inserir ombrear-se a um ícone como Aloysio Galvão, mestre querido, em nome do qual homenageia os amigos que juntos sofreram e vibraram.

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