domingo, 11 de dezembro de 2011

CULPADOS E INOCENTES

Não foram os elevados princípios, as nobres intenções, que norteiam e dão sentido ao exercício da arte de Hipócrates, os motivos que pautaram a conduta do médico americano Conrad Murray, considerado culpado por um tribunal de júri. Segundo os jornais, Murray deve ter uma pena de prisão em torno de quatro anos.
Acusado de negligência, dentre outros, digamos, “desvios”, o médico inscreveu definitivamente seu nome como o sujeito que dava respaldo “legalista” a um consumidor inveterado de drogas, desde prosaicos benzodiazepínicos (lorazepam) até o anestésico Propofol, de uso praticamente exclusivo em ambiente hospitalar. Um irresponsável de marca maior. Equilibrado num fio de navalha, embora não seja o mais abjeto dos homens, sua inidoneidade é absolutamente incompatível com os deveres da profissão.
Espécie de babá de luxo do contumaz usuário, na verdade é cúmplice de uma morte (suicídio?) anunciada. Tomando carona no prestígio do cantor/bailarino, com certeza regiamente remunerado pelo astro, na sua cabeça talvez valesse a pena o risco da empreitada. Por tudo, quer nos parecer justa sua condenação.
Pobre menino rico, Michael Jackson vivenciou conhecido ritual trágico. Script freqüente nesse feérico e glamoroso mundo artístico, drogas excitantes, que eletrizam a performance, são substituídas, na descida do pano, por depressores violentos do sistema nervoso. Cérebros humanos não estão preparados para esses paroxismos farmacológicos. No fundo, é mais uma grande vítima do que se convencionou chamar fama, aplauso e dinheiro.
Todos os dias, a imprensa veicula novos casos de famosos que enveredaram nas ciladas dos intensos e fugazes prazeres das drogas. Muitos transformam-se em cruzes nas estradas, outros têm promissora vida artística amputada. Encarquilham-se deslumbrantes belezas físicas, rapidamente consumidas; extraordinários talentos são desperdiçados. A lista é grande, desde Marilyn Monroe, Elvis Presley até a nossa querida Elis Regina.
Mas essa desgraça, apropriadamente chamada de droga, faz suas vítimas mesmo entre os não usuários. O desmantelo em que se transformou o quesito Segurança Pública, atende sobretudo por essa nomenclatura. Na busca de dinheiro para a droga, não é por acaso a absurda taxa de assaltos e assassinatos.
Por favor, intelectuais e sofrida classe média: não me venham dizer que a apologia do uso “recreativo” e charmoso de drogas ilícitas – caso dos estudantes da USP – não alimenta o tráfico.
Irrecuperável careta, escrevo esse artigo profundamente chocado com a morte, nos morros do Rio de Janeiro, do repórter cinematográfico Gelson Domingos. É mais uma vítima inocente.

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