O transgressor poeta penedense, é o patrono da cadeira 15 da Academia Alagoana de Letras. Num ensaio sobre Sabino Romariz, a neta, a consagrada Vera Romariz, refere ser duplamente desafiante falar sobre o avô ilustre que morreu precocemente, aos quarenta anos. Um avô que não conheceu, mas que lhe injetou no DNA uma maravilhosa veia poética.
Sem dispor do equipamento lingüístico, muito menos da técnica semiológica dos poetas, detenho-me na periferia da obra do grande vate.
Acabo de assumir a cadeira que tem justamente o penedense como patrono. Sucedo a D. Fernando Iório, ex-pároco de Bebedouro e Bispo Emérito de Palmeira dos Índios, cujo invejável arcabouço cultural é por demais conhecido. D. Iório, por sua vez, substituiu um outro poeta, Cipriano Jucá, um dos quarenta fundadores da AAL.
Mas eu falava de Sabino Romariz, que não fugiu do estereótipo de alguns grandes poetas e artistas no quesito boemia. Ex-seminarista, percorreu vários estados brasileiros num período de 13 anos, entre 1890 e 1900. Culto, poliglota, em qualquer lugar que estivesse era requisitado a ensinar línguas (latim, francês, inglês) e até desenho figurado.
No Rio de Janeiro conviveria com grandes figuras, monstros sagrados da cultura brasileira, como Olavo Bilac e Guimarães Passos. Escrevia para jornais e fazia poemas, belos poemas. Na antiga Corte publicou seu primeiro livro.
Polêmico quanto ao modus vivendi, não foi menor quanto ao seu estilo poético. Especialistas não chegam a um acordo quanto à escola do poeta: se simbolista, parnasiano ou romancista.
A unanimidade é quanto à fidelidade a Guerra Junqueiro, respeitado poeta lusitano, famoso por suas quilométricas poesias, impregnadas de religiosidade, muitas vezes anticlericais e de recorrente conteúdo social.
Em 1992, Francisco Sales, presidente da Fundação Casa de Penedo, sob o argumento de que uma figura como Sabino Romariz não poderia estar esquecida, publicou Poesias Escolhidas, com seleção e prefácio do brasiliense Cassiano Nunes e orelha de Ledo Ivo.
O incisivo texto de Ivo, acerbamente denominado de “Alagoas, cemitério de poetas!”, discorre sobre aspectos relevantes da obra de Sabino, sem esquecer de mencionar que, “Ao lado de tantas vociferações e amarguras, surge, como uma clareira luminosa, o verso plácido do poeta que, mesmo quando distante de sua terra natal, ouvia o fluir das águas do Rio São Francisco e os sinos da igrejas de Penedo”.
Fecundo, acredita-se que boa parte de sua produção esteja definitivamente perdida. Em 1911, a apenas dois anos de sua morte, atingira o zênite de sua criação poética: Toque D´Alva, coincidentemente única obra a ser editada em Lisboa.
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