O dramaturgo Dias Gomes teria levado para o túmulo infinita mágoa: a de nunca ter sido preso por subversão durante a ditadura militar. “Não me conformo com essa ingratidão... Depois de tudo que fiz, bem que eu merecia uns diazinhos de cana”, teria repetido em mais de uma entrevista.
Nascido e radicado em Murici, o diletante marxista Mozart Verçosa Damasceno, não padeceu da mesma melancolia do autor de Roque Santeiro. Com efeito, tendo como pano de fundo a biografia do velho militante, sob o título Mozart Damasceno, o bom burguês, o historiador Geraldo Majella recupera parte da trajetória do PCB em Alagoas.
Pesquisador perfeccionista, Majella traça perfis de velhos camaradas ao mesmo tempo em que situa o partido no contexto histórico, trazendo importantes subsídios para a compreensão desses movimentos que, a bem da verdade, pretendiam instalar ditaduras à semelhança da soviética e, menos remotamente, das chinesa e cubana.
O fato é que Geraldo de Majella escreveu um livro que não permite interrupções na leitura. Há uma narrativa, diria, eletrizante de fatos marcantes da vida pública alagoana, ainda muito vivos, com personagens nomeados, alguns folclóricos, outros nem tanto. Por si só, o biografado é um figuraço.Como foi dito, tinha especial orgulho por ter sido preso nos dias seguintes ao golpe de 1964, sobretudo pela convivência com personagens carimbadas do esquerdismo alagoano. Lendo os depoimentos que Majella registrou é que a gente compreende a tristeza de Dias Gomes.Ex-aluno do extinto Colégio Batista Alagoano, Damasceno teria se “convertido” ao comunismo graças à leitura do O Poder Soviético, opúsculo escrito pelo Decano da Cantuária, Hewlett Johnson. O detalhe é que o anglicano descreveu um fantasioso cenário paradisíaco da Rússia dos anos 30 do século passado, uma época de brutal repressão.Em 1984, estava convicto da inexorável expansão do socialismo no continente europeu. Poucos anos depois, se vivo estivesse, certamente teria profunda decepção ao assistir à queda do Muro e à ruína do império soviético.
Falecido precocemente em 1987, bem antes da farra conhecida por “bolsa ditadura”, tal sua têmpera, não consigo enxergar o Bom Burguês numa fila do INSS recebendo indenizações pelos 17 dias de detenção.Nada se compararia, contudo, presenciar o atual clímax de degradação do PC do B, um dos últimos bastiões a arrotar alguma moralidade na política. Nesse aspecto, a natureza foi-lhe generosa.
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