segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A PITONISA DE NARIZ VERMELHO

A PITONISA DO NARIZ VERMELHO
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
O manco sargento Eusébio era uma figura polêmica do bairro da minha infância. Dizia-se ex-combatente, herói de guerra que havia arriscado a vida em campos da Itália. Orgulhava-se de ter sido aluno de tiro ao alvo de Lampião. Para muitos, não passava de um enganador.

No olhar do menino que fui, Eusébio era fantástico. Lembro daquele único e definitivo tiro de fuzil que atravessou os corpos de mais de 15 inimigos! Bala salvadora. Graças a ela, escapou da morte iminente, ganhou a medalha de herói e a promoção, além da aposentadoria.

Nessa época do ano, Eusébio fazia previsões. Foi certeiro ao anunciar a morte de padre Belarmino, o octogenário pároco. É mero detalhe o fato de o religioso estar em coma há vários meses. Anteviu que o meu irmão quebraria um braço e até a derrota do Brasil na Copa de 1954.

Nasceu daí o hábito de, anualmente, checar o que nos reservam os astros, os búzios, as cartas e o misterioso pregueamento palmar, armas semiológicas de perquirição do porvir.

Entre cobras criadas, nossa sensitiva presidente tem se revelado uma inspirada pitonisa. Contrariando os fatos, a doce “rena do nariz vermelho” está impagável. Com efeito, suas otimistas previsões de um robusto crescimento da economia, de rígido controle nas “interrupções” de energia, dentre outros eufemismos e delírios, têm nos enchido de esperanças. Apesar do Mantega.

No ano de Ogum e Iemanjá, tudo converge para uma grande reviravolta. Nos EUA, finalmente, Castro & Cia. assumirão o poder e farão ministro ninguém menos que Luiz I. da Silva. Com o capitalismo de cócoras, Valério será o presidente do Banco Central americano. Serão auxiliares, Cachoeira, Demóstenes, Maluf, Genoino e Delúbio. Pairam atrozes dúvidas sobre a primeira dama: se Rose, Erenice Guerra ou Marta Suplicy.
 
 O guerrilheiro Dirceu está sendo cotado para chefiar a CIA ou o FBI. Já garantidos como presidente e vice da Suprema Corte americana os probos juristas Lewandovski e Toffoli. O narcotráfico será pulverizado por Marcola, Evo Morales e Hugo Chávez.

A americanalhada não pode reclamar. A parte espiritual estará bombando com os bispos Lugo, do Paraguai e Edir Macedo. Monsenhor Luiz Marques, Frei Betto e Leonardo Boff darão o suporte doutrinário. As melhores previsões: 1) Celso Daniel suicidou-se; 2) Nunca houve mensalão. 3) O PT voltará a ser o partido da ética que não rouba, nem deixa roubar.

Próspero Ano Novo!

sábado, 22 de dezembro de 2012

A LOUCURA NO BANCO DOS RÉUS

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


A LOUCURA NO BANCO DOS RÉUS

RONALD MENDONÇA


MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Luiza Nagib Eluf é a autora de A Paixão no Banco dos Réus, opúsculo que oscila entre o
Jornalismo investigativo e o Direito. Ali são relatados os mais rumorosos casos de (loucos)
crimes passionais do país, desde a época do império até os dias atuais. O mais antigo a merecer a atenção da autora foi o delito praticado por Pontes Visgueiro, um sexagenário alagoano, magistrado, residente no Maranhão. Um crime bárbaro contra uma adolescente que enloqueceu Visgueiro.

São impressionantes os detalhes que culminariam com o assassinato da cultuada professora
Margot Proença, a mãe de Maitê Proença, crime cometido pelo marido, um ensandecido
promotor de Justiça, que, aliás, anos depois se suicidaria.

O livro também vai fundo na atribulada vida de Ana, esposa de Euclides da Cunha, cujo
amante, Dilermando, depois marido, mataria não só o iracundo autor de Os Sertões, como
também o filho deste (e de Ana). O curioso é que, em ambas ocasiões, os crimes teriam sido
praticados em legítima defesa.
 
Dentre tantos outros relatos, especialmente comovente foi o caso do advogado Galvão Bueno. Atingido por um tiro disparado pela esposa, Bueno chegaria vivo ao hospital. O depoimento do médico que o atendeu seria fundamental para a absolvição da assassina. Consta que o ferido, um renomado criminalista, em agonia, teria dito ao cirurgião: "Doutor, por favor me salve; preciso defender minha mulher."

Embora não conste ainda do texto da Dra. Nagib, acho que em breve ela acrescentará as
tragédias protagonizadas por duas mulheres: Elisa, a ex-prostituta que esquartejou o marido
japonês e Carla Cepollina, temperamental advogada que teria compartilhado dos últimos
momentos de vida do polêmico coronel Ubiratan.

Antes de desejar Boas Festas, um último comentário sobre mortes violentas, em massa. Se os
móveis nos crimes passionais são o ciúme, a traição (real ou imaginária), a "perda da posse",
em chacinas, como as recorrentes dos Estados Unidos, a loucura ou uma pseudomotivação
política são destaques. Loucos desarmados jogam pedras, picham paredes, escrevem cartas, discursam em vias públicas... Loucos armados fazem o quê?

Loucura mata. No Brasil, tivemos dois casos emblemáticos, superponíveis aos dos  americanos.
Um deles, em S. Paulo, num cinema. O outro, numa escola do Rio de Janeiro. Em ambos ficou
comprovada doença mental grave. Tidos como frios assassinos,  Hitler, Mao e Stalin estariam enquadrados em outra fatia nosológica. De qualquer forma, um tratamento psiquiátrico, com internamento compulsório dessa turma, poderia ter salvo a vida de milhões de inocentes.

domingo, 16 de dezembro de 2012

corinthians campeao

sábado, 15 de dezembro de 2012

A APOSTA E O ABACAXI

 


A APOSTA E O ABACAXI
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
Já era idoso quando o conheci. Morava na antiga Rua Nova, no Centro de Maceió um distinto senhor chamado Pedro Wanderley. Éramos unidos por laços familiares. Viagem desnecessária nos dias atuais, seu Pedro foi operado de catarata no Rio de Janeiro.

Um oftalmologista alagoano, amigo de infância do paciente, havia se esmerado, produzindo o que de melhor poderia ser feito naqueles distantes anos 1950 da passada centúria. Durante anos, Wanderley enfrentaria estoicamente as trevas da cegueira. Não obstante, era visto atravessando ruas em meio a um trânsito adverso e mesquinho.

O boom de excelência que hoje irisa a oftalmologia alagoana tem um sólido alicerce. Com efeito, o histórico da especialidade registra médicos de nomeada, tais como Neves Pinto, Calazans Simões, Moura Resende, os irmãos José e Jorge Lyra, Arthur Breda, Ramos Oliveira, João Carlos Lyra, Everaldo Lemos, Jefferson Araújo , Raul Dias, Oceano Carleial, Arnoldo G. Barros, Alan Barbosa, que, dentre outros, abriram caminho para o atual patamar.

Não me ocorre esquecer os novos valores que assimilaram as modernas técnicas, capacitando-se e importando instrumentais de alto custo, abrindo espaços confortáveis, arriscando o patrimônio pessoal. Impossível nomeá-los todos. Prefiro homenagear a especialidade na figura do oftalmologista João Marcelo Lyra, indicado para tentar dar luzes, clarear as sombras que recobrem a saúde no município de Maceió.

Ignoro as razões do prefeito eleito Rui Palmeira  apostar em João Marcelo. Profissional de altíssimo nível, muito bem sucedido, ele mesmo, João, demonstra desprendimento ao aceitar o desafio. Não há nada de estranho. O próprio prefeito é uma aposta que os munícipes “pagaram para ver” ao escolhê-lo para burgo mestre.

Critica-se o fato de Marcelo “não ser do ramo”. Certamente, de não fazer parte dessa confraria que borboleteia nas secretarias, desde os gloriosos tempos em que os sindicatos sonhavam com a Albânia, imaginavam-se reencarnar o “Che” e acordarem   nos bares temáticos cheios das coisas. Por fim, jactavam-se por não saber prescrever um Elixir Paregórico.

Ao mesmo tempo em que parabenizo o futuro prefeito pela escolha, tenho pena do João Marcelo. Maceió não alcançou 30% de cobertura no PSF. Paga-se uma miséria aos hospitais. Por isso as Unidades de Emergência de Maceió e Arapiraca vivem superlotadas. Os médicos recebem merrecas inacreditáveis. Mistérios insondáveis rondam o destino das verbas do SUS. Sacaneia-se quem trabalha. Há privilégios inexplicáveis. É muito abacaxi.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Link de entrevista na TV Pajuçara

 


 



 




Vídeo de entrevista na TV Pajuçara





JUSTA HOMENAGEM


JUSTA HOMENAGEM

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEBRO DA AAL

 Ontem,  oficialmente, a Neurocirurgia alagoana comemorou seus 40 anos de existência.  Um marco da chegada do jovem neurocirurgião caruaruense, vindo do Rio de Janeiro. Em importância não pode ser comparada a outras, como a da fundação da  Faculdade de Medicina de Alagoas, em 1950, ou a criação da Escola de Ciências Médicas, em 1968. Mas o lugar na história da medicina caeté está garantido.

 Como primeira consequência, cortar-se-iam laços da arraigada dependência científica que nos amarravam a Recife. Não há dúvidas de que gritos de gratidão estão presos nas gargantas de milhares de pacientes beneficiados com o nosso alvorecer neurocirúrgico. Estamos muito orgulhosos do que fazemos. Somente nos últimos seis anos, os neurocirurgiões da Santa Casa de Maceió realizaram perto de duas mil neurocirurgias!

Singelamente, o evento, com o apoio do CRM (Conselho Regional de Medicina), foi lembrado com sessões científicas de elevado nível, com a participação de personagens que contribuíram para a construção da grandeza da especialidade. Foi comovente a presença de pacientes. Quem não foi, não sabe o que perdeu.

Com efeito, a "prata da casa" marcou presença com palestras de jovens e maduros valores da especialidade, neurocirurgiões, neurologistas, fisiatras, ortopedistas, reumatologistas. Vindos de longe, sobretudo dos vizinhos estados e de São Paulo, também aqui acorreram grandes nomes.

 Pontuei, em pretérito artigo, a dor dos doutorandos de 1971  com o acidente de um dos colegas de turma. Vítima de TCE, dolorosamente, não havia ninguém com experiência para orientar o caso.  Triste história, por sinal, que se repetia além do que imaginávamos.  Com a chegada da Neurocirurgia, sua prima irmã, a Neurologia Clínica passaria a ser ensinada nas escolas médicas.

A evolução foi natural, muitas vezes em saltos, numa imitação ao darwinismo. Tudo foi muito rápido. É possível até não ter havido tempo suficiente para festejar-se a chegada do primeiro Tomógrafo Computadorizado. Logo a Santa Casa de Maceió importaria um aparelho de Ressonância Magnética, num passo gigantesco em direção à perfeição diagnóstica. Nada se faz só. Outras áreas médicas foram compelidas a crescer.

Olhando para trás é que se tem a verdadeira dimensão do pioneirismo que guiou a decisão de Abynadá de aqui criar raízes e integrar-se  ao modus vivendi da Província. Testemunha e personagem dessa caminhada, participo  das homenagens a esse corajoso desbravador.

ACONCHEGO


ACONCHEGO

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL



É inteiramente falsa a notícia de que os companheiros estariam contratando Macarrão
e Bola, dois amigos do goleiro Bruno, para, digamos, dar um sumiço em Rosemary.
Tudo não passa de sórdida campanha difamatória da imprensa hegemônica, rancorosa
e golpista, inconformada com a chegada da classe trabalhadora ao poder, tendo à
frente um sujeito de uma dimensão ética nunca vista.

Além disso, mesmo que o operário-presidente fosse um nanico moral (Deus nos livre
imaginar isso), como tem sido amplamente comprovado ao longo desses 12 anos
de governança, o PT não é partido que usa habitualmente a violência como técnica
preferencial de persuasão.

Celso Daniel, o desditoso prefeito de Santo André também assim pensava. Fato
exaustivamente divulgado, ele e os companheiros comandavam um esquema de
arrecadação ilícita para engordar o caixa 2 do seu partido. Ocorreu que, por uma
dessas fragilidades humanas - perfeitamente compreensíveis - parte da bufunfa estava
sendo embolsada para desfrute pessoal dos companheiros.

Daniel era um cara sério, comprometido, um soldado do partido. Jamais admitiria
corrupção que não fosse para honra e glória da sua agremiação. Morreu fiel ao
compromisso com a sigla. Foi heroi e mártir do jeito PT de ser.

Ainda que não se tenha apreço pelo PT, é preciso que se reconheça: no poder ou
fora dele, é um partido que nem rouba, nem deixa roubar. Axiomas demonstrados
mui recentemente durante o julgamento, pelo STF, do mensalão: uma quadrilha
de "homens de bem" condenada por perseguição política.

Como genérico de Casanova, o histórico de Lula (o PR) - enrolado até o gogó com
a travessa companheira Rosemary (a"segunda dama") -  é edificante. Ainda jovem
dirigente sindical, nosso ídolo era um protetor de viúvas "de primeira muda". A sede
do órgão revelar-se-ia o ambiente propício para as investidas. Na sua grandeza de caráter intuía as carências das viúvas dos companheiros, oferecendo aconchegos que amenizassem as
agruras de um corpo emergente. O predador tornou-se um especialista. Em célebre depoimento, PR jactava-se de haver "papado" várias viuvinhas.

A carne é fraca e o espírito vacilante - já dizia monsenhor Luiz Marques, de Arapiraca. Na presidência, o pelanco de Pitigrilli, PR, daria asas ao apetite "papando" a cúmplice Rosemary, em ardentes combustões aéreas renováveis a cada viagem. Foram 40.

Não existem almoços nem viagens grátis. Em pelo menos numa das travessias, Rose teria
carregado na sua mala o aconchego de 25 milhões de euros!

domingo, 2 de dezembro de 2012

O BOM SELVAGEM

O BOM SELVAGEM
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
Encaro, mais uma vez, a sacolejante travessia do Atlântico. O motivo não poderia ser mais nobre: a busca de novas técnicas neurocirúrgicas no Velho Mundo, especificamente na Alemanha, teoricamente, último reduto do selvagem capitalismo. Como anunciam nossos amigos socialistas, o capitalismo está moribundo. Respira com a ajuda de aparelhos, recebe alimentação por sonda e é estimulado por drogas vasoativas. A Prússia é exceção.

Não quero pensar nisso. Vivo ainda as emoções de quase 12 horas de voo. Onde eu estava com a cabeça quando resolvi ser neurocirurgião? Poderia ter atendido ao chamamento divino e ter abraçado a vida religiosa. Hoje, sexagenário, certamente estaria em vias de merecido recolhimento monástico. Prosaica bicicleta seria meu meio de transporte. Talvez fosse um monsenhor ou um gordo cônego.

Com sorte teria sido pároco da Matriz de Bebedouro. Minha inspiração laica seria o Major Bonifácio Silveira. Organizaria quermesses. O pastoril iria reviver. Lindas pastorinhas cheias de graça estariam defendendo suas cores. O São João voltaria a viver o apogeu. Para organizar o Carnaval convocaria ninguém menos que Carlito Lima.

Nas minhas homilias não faltariam Cícero e Aristóteles, Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Ensinaria que o mundo foi feito em uma semana. A modéstia, somente o excesso de modéstia divina fez com que o Criador demorasse tanto tempo.Reafirmaria que o Paraíso Terrestre foi bom enquanto durou. Infelizmente, Adão e Eva jogaram tudo fora. Tarados insaciáveis, não resistiram a uma rapidinha. A cobra levaria a culpa.

Enxotados a pontapés, mancharam o DNA da alma com uma tatuagem indelével. Como castigo, tivemos de suar para comer. Claro que essa medida não atingiu a todos. Membros e aliados de certo partido político foram dispensados dessa obrigação.

Nos meus sermões, não deixaria de bater nessa tecla: Deus misericordioso enviou seu filho unigênito, nascido de uma virgem, para nos livrar da mancha com que Adão e Eva melaram nossa alma.

Inevitavelmente, iria aos cemitérios encomendar almas desencarnadas. Umas poucas viveriam a glória dos céus. A maioria absoluta seria de uma horda de cafajestes que iria assar eternamente nas labaredas dos infernos.

O fato é que sobrevivemos. Nadja, minha esposa, o neurocirurgião Aldo Calaça e eu. No mesmo voo, o cacique Raoni, com seu sensual adereço labial, também ileso pisou em território europeu. Ignoro sua missão. Quem sabe, será entronizado nos saraus literários como o “bom selvagem”... Aquele que nasce bom, mas é corrompido pela sociedade consumista

sábado, 17 de novembro de 2012

A soberana dialética materialista

A SOBERANA DIALÉTICA MATERIALISTA

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






Atingido em pleno vôo, participo da dor dos familiares pela precoce morte do jovem piloto alagoano Leonardo Lessa, o Léo, para os íntimos. Em ascensão profissional, irremediavelmente apaixonado pela aviação desde os primeiros passos, em várias ocasiões, teria confessado “morrer feliz” caso viesse a falecer pilotando um avião. Em meio ao sofrimento, ao vazio da ausência, fica o consolo de um ente amado ter vivido intensa e plenamente, não obstante a idade de 30 anos. Para Leonardo, a aviação foi vida, paixão e morte.

Embora digam que a Fé ajuda a suavizar a dor, infelizmente, não me alinho àqueles que advogam que as pessoas têm missões a cumprir nesse “vale de lágrimas”. Uma vez concluído o que se lhe determinou o destino, seriam chamadas de volta, ao Pai. Simples assim.  Insurjo-me contra a ideia da existência de   “outras dimensões” e que a nossa efêmera “passagem” por aqui seja uma preparação, recompensa, muito menos um castigo.

Anos atrás, num mesmo novembro, dois filhos foram friamente assassinados. Estavam em casa. Não tinham qualquer atividade de risco. Não eram seqüestradores, terroristas, viciados, traficantes, pichadores de muros, assaltantes de banco... Não participavam de nenhuma organização criminosa que dilapidasse os cofres públicos.

Estudantes jovens, absolutamente normais, alegres, cheios de sonhos, com certeza não haviam cumprido nenhuma missão especial. Tinham projetos, pensavam em concluir seus cursos, casar, ter filhos... Serem felizes, enfim.

Busquei explicações aqui e alhures. Um padre me garantiu que era obra do diabo, que estava solto pelo mundo. Estranhei a afirmação. E onde está Deus? Quis saber. “Sofrendo com os seus filhos”. E a tal folha seca que não cai sem prévio consentimento Dele? “É o livre arbítrio, querido”.

Um espírita concedeu-se proclamar uma clarividência que nem Kardec, nem Chico Xavier, nem Bezerra de Menezes alcançaram: “Seus filhos estão bem, recebidos pela avó, Rosinha. Nesse momento, a Lavínea está consolando o Roninho, meio que ainda inconformado com o ocorrido”.

O esquerdista f.p. recorreu a Marx: ´”Na soberana dialética materialista,  o crime nada mais é que o irrefreável triunfo do proletariado”.

Balelas. A anatomia do crime foi ficando claro. Um bandido abrigou-se na minha casa. Uma ex-patroa, Olímpia, fazia o papel de intrujona, recebendo produtos de roubo. A loja de armas Colt 45, criminosamente, forneceu uma caixa de balas. Um militar do exército vendeu um revólver. O resto é história para boi dormir.

A nós pais, Rosa Lessa, sobram as lembranças e as dores da saudade.


RENDA E NAMORO





Falecido na década de 90 do século passado, Ivon Curi, em declínio, viveria seu último papel na Escolinha do Professor Raimundo interpretando Gaudêncio, um gauchão macho até umas horas. Cantor e ator emplacou vários sucessos musicais e foi apreciado galã nas chanchadas da Atlântida. Tal qual o personagem do Kit Gay do ministro Haddad, hoje prefeito de SP, batia bola em todas as posições. Morreu de AIDS sem nunca haver assumido claramente a multilateralidade sexual.

Um dos seus grandes sucessos foi cantando Mulher Rendeira (“Farinhada”?), canção de domínio popular de pouquíssimos versos, mas que ganhava muita força graças às caras e bocas do saudoso artista.

“Tu me ensina a fazer renda, que eu te ensino a namorar”, refrão mais marcante tem tudo a ver com certo período da nossa recente história política. Foi justamente quando dividiram cela os condenados por crimes “triviais” (assassinatos, roubos, estupros..) e os presos políticos (teóricos, terroristas e simpatizantes).

Dessa salutar convivência teria brotado o Comando Vermelho, organização essencialmente criminosa ligada ao tráfico. Consta haver assimilado técnicas de guerrilha em aulas ministradas pelos presos políticos. Em matéria de pilantragem, conforme ficaria demonstrado, nossos guerrilheiros eram hors concours. Não obstante as evidências, os queridos amigos gauchistes teimam em considerar injuriosas tais referências. O fato é que a partir de determinado momento, explodiriam os seqüestro, crimes até então,  de uso, digamos, restrito dos terroristas de esquerda.

Não vamos exagerar e dizer que assaltos a bancos fizeram parte desse curso. É que ambas organizações (terroristas e traficantes) os praticavam à larga mano. No máximo, nesse quesito, houve troca de know how.

E assim se passaram os anos. Embora neguem, nossos “guerrilheiros” tomaram o poder e se transformaram em irretocáveis burgueses. Penteados, trajando impecáveis Armanis, exalando loção francesa, até escovam dentes, usam desodorantes e trocam de cueca. Os langanhos axilares,marca registrada das militantes, fartos e fétidos na época de revolta, graças a Deus, sumiram. Gordos saldos bancários e “apês” em Higienópolis, dentre outros mimos, completam o kit.

Como relembra Douglas Apratto, “a história não se repete, a não ser como farsa”, temos agora uma tremenda coincidência que nem Rasputin, nem Roberto de Ogum conseguiriam antever. Juntos de novo, compartilhando segredos e sonhos, Beira-Mar, Marcola, Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio. De quebra, Kátia, Valério e outras pilombetas.

O coral do presídio já ensaia o refrão: “Tu me ensina a fazer renda/ Que eu te ensino a namorar//”.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

É DANDO QUE SE RECEBE

É DANDO QUE SE RECEBE

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






O “valente guerrilheiro” Zé Dirceu não é responsável pela morte do personagem Max, da novela Avenida Brasil. Não eram amigos. Max não tinha conta no Banco Rural. Conhecia Valério, Delúbio e Silvinho de vista. Não obstante, era eleitor do Lula. Votou no João Paulo. Ele e Carminha não perdiam o programa da sexóloga Marta Suplicy.

Pelo amor de Deus, não vamos manchar a honra do ícone das esquerdas. Acham pouco ficar escondidinho quatro anos - enquanto seus amigos levavam cacete - aguardando o momento exato para sair das sombras e chefiar um mensalão? Definitivamente, Zé Dirceu não é sequer suspeito pela morte de Max, sobretudo pelo fato de não trabalhar na novela.

Zé Dirceu é, por enquanto, tão somente, o chefe da quadrilha que mobilizou dinheiro público para comprar apoio político. Como ninguém é de ferro, parte da grana teve destino “incerto e não sabido”. Consta que uma babinha escorreu por aqui.

É dando que se recebe. Dirceu e seus comparsas, amigos de fé e de tantas jornadas do piedoso Frei Betto, certamente dele ouviram a oração de S. Francisco. Alunos aplicados, apreenderam as lições do diretor espiritual de Lula e as empregaram na íntegra.

Nem todos têm a tolerância cristã. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, influenciados pela fala de Joaquim Barbosa (um “negro complexado”, segundo definição de Lula) não acharam graça nas picaretagens do “capitão do time”.

O fato é que nunca dantes nesse país o preconceito atingiu patamares tão elevados. Na Província, a propaganda de uma moto em que uma jovem em pose sensual, ambiguamente, sugere oferecer “aquilo” como recompensa está em vias de ser retirada das paredes.

Em São Paulo, Serra perde para um simulacro. Pudera. O enjoado tucano tem como cabo eleitoral o pastor Malafaia, uma mala sem alça. Que Haddad é um obsceno pau-mandado todos sabemos. Que o seu “Kit-Gay” é uma grande palhaçada ninguém tem dúvidas. É o “dando que se recebe” mais inverossímil do planeta. Dinheiro público no lixo. Mas daí fazer disso o cavalo de batalha de uma campanha eleitoral...

Falo do dando que se recebe e me lembro da atriz Sylvia Kristel (falecida esta semana), que encarnou a personagem erótica/pornô Emmanuelle. Li o livro antes de ver o filme. Preferi o primeiro. Sem nenhuma ilustração, o livro exalava sexo. Não obstante a beleza de Kristel, a fantasia criada a partir do texto escrito evanesceu-se ao tornar-se coxas e seios ao vivo e em cores.

e

É DANDO QUE SE RECEBE

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






O “valente guerrilheiro” Zé Dirceu não é responsável pela morte do personagem Max, da novela Avenida Brasil. Não eram amigos. Max não tinha conta no Banco Rural. Conhecia Valério, Delúbio e Silvinho de vista. Não obstante, era eleitor do Lula. Votou no João Paulo. Ele e Carminha não perdiam o programa da sexóloga Marta Suplicy.

Pelo amor de Deus, não vamos manchar a honra do ícone das esquerdas. Acham pouco ficar escondidinho quatro anos - enquanto seus amigos levavam cacete - aguardando o momento exato para sair das sombras e chefiar um mensalão? Definitivamente, Zé Dirceu não é sequer suspeito pela morte de Max, sobretudo pelo fato de não trabalhar na novela.

Zé Dirceu é, por enquanto, tão somente, o chefe da quadrilha que mobilizou dinheiro público para comprar apoio político. Como ninguém é de ferro, parte da grana teve destino “incerto e não sabido”. Consta que uma babinha escorreu por aqui.

É dando que se recebe. Dirceu e seus comparsas, amigos de fé e de tantas jornadas do piedoso Frei Betto, certamente dele ouviram a oração de S. Francisco. Alunos aplicados apreenderam as lições do diretor espiritual de Lula e o empregaram na íntegra.

Nem todos têm a tolerância cristã. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, influenciados pela fala de Joaquim Barbosa (um “negro complexado”, segundo definição de Lula) não acharam graça nas picaretagens do “capitão do time”.

O fato é que nunca dantes nesse país o preconceito atingiu patamares tão elevados. Na Província, a propaganda de uma moto em que uma jovem em pose sensual, ambiguamente, sugere oferecer “aquilo” como recompensa está em vias de ser retirada das paredes.

Em São Paulo, Serra perde para um simulacro. Pudera. O enjoado tucano tem como cabo eleitoral o pastor Malafaia, uma mala sem alça. Que Haddad é um obsceno pau-mandado todos sabemos. Que o seu “Kit-Gay” é uma grande palhaçada ninguém tem dúvidas. É o “dando que se recebe” mais inverossímil do planeta. Dinheiro público no lixo. Mas daí fazer disso o cavalo de batalha de uma campanha eleitoral...

Falo do dando que se recebe e me lembro da atriz Sylvia Kristel (falecida esta semana), que encarnou a personagem erótica/pornô Emmanuelle. Li o livro antes de ver o filme. Preferi o primeiro. Sem nenhuma ilustração, o livro exalava sexo. Não obstante a beleza de Kristel, a fantasia criada a partir do texto escrito evanesceu-se ao tornar-se coxas e seios ao vivo e em cores.

sábado, 13 de outubro de 2012

O PÓ


O PÓ

Ronald Mendonça

Médico e Membro da AAL

O professor Bouganville era a figura mais respeitável da faculdade. O culto à sua pessoa transbordava os umbrais do santuário hipocrático. Às suas magistrais aulas acorriam alunos de todas as séries. Momentos havia de dúvidas acerca do que lhe era mais destacado, se seu cristianismo epidérmico ou a arte burnida nos sacros territórios de Epidauro.

Assim foi a figura de José da Silva Bouganville, um pesquisador incansável, desnudo das vaidades mundanas (que, a seu ver, enfraquecem o caráter e condenam a alma). Esposo e pai exemplar, nosso herói, na sua imensurável modéstia, dizia-se, só acalentava um orgulho: nunca cobrara uma consulta. No íntimo, um quase anacoreta a viver entre a família, os doentes, os alunos e a inquebrantável Fé.

O bom José um dia se aposenta. A elegância sóbria passaria a ser vista aos finais de tarde em áreas movimentadas. Shoppings e galerias viraram objetos de desejo. Nada se lhe comparava à recém descoberta da beleza das mulheres jovens, seus montes e vales. O anatomista esculpia na mente os detalhes ocultos.

O fato é que o arquétipo da moral, o pai de várias gerações de brilhantes esculápios, o fiel leitor de Santo Agostinho, tornara-se um compulsivo namorador. Ou tentava sê-lo. Os desatinos atingiriam o clímax com a sua rumorosa prisão, em plena via pública, depois de tentar assediar fisicamente uma colegial com a idade de sua bisneta.

Levado a uma perícia médica, chegou-se à dolorosa conclusão: o cérebro do eminente mestre havia murchado em áreas, justamente, que dão prumo às condutas morais. Uma carta da família esclareceria os fatos. Lida na Congregação da Faculdade, comoveria o mais empedernido dos corações. Bouganville, num rasgo de resignação, exclamaria: “Do pó vim, ao pó retorno!”.

Lembrei-me do  velho professor, depois da carta da filha de José Genoino, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos chefes do mensalão. Sua biografia, até onde se sabe, e ao contrário do seu chefe no esquema e colega de condenação, o faroso José Dirceu, registra a “mão na massa”. Com desprendimento, levou o seu comunismo ao paroxismo da luta armada. Más línguas o acusam de ter capitulado aos paus de arara e entregue colegas... Como Bouganville, ele e Dirceu estão retornando ao pó.

Lágrimas à parte,  ligeiro pormenor histórico tem sido, estranhamente, escamoteado. É que ambos (o intrépido e o dissimulado) a seus modos, combateram a milicada, disso não há dúvidas. Soa como tremenda piada, contudo,  descrevê-los “democratas”  posto que suas metas sempre foi uma ditadura comunista...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O HÍMEN DA VIRGEM DE SÃO BERNARDO




Outrora cantada em versos e prosas, sonho de consumo de porcos machistas chauvinistas, a virgindade feminina está disponível na rede de computadores. Uma jovem catarinense pôs sua película à venda, em leilão. Constam ofertas de cem mil dólares. Precinho salgado, acessível a mensaleiros e quejandos.

Moralismos à parte, crê-se que, em Alagoas, salvo a perdulária classe política e alguns gestores apreciadores da fruta, poucos teriam cacife para bancar a moça. Assim mesmo com uma mãozinha de Viagra.

Falo de preço de virgindade e logo me vem o egrégio ministério remanescente do governo anterior. Passivo de gratidão da “herança bendita”, esses caras - defenestrados dos seus cargos apenas após exposição midiática  - participaram ativamente, imagina-se, com seus “esforços” para a eleição de dona Dilma.

Portanto, a permanência nos cargos integraria o catecismo de velhas receitas republicanas de fazer vistas grossas às patifarias ministeriais, desde que não sejam denunciadas pela imprensa. Embora não haja originalidade, esse conceito teve no PT de Lula, Dilma, Dirceu et caterva aplicadíssimo aluno, diga-se de passagem, pupilo que superou os mestres.

Que pena as coisas terem terminado assim! Lembro com muita saudade daquele brotinho em flor, vestal estrela a tremeluzir-se em frêmitos de honestidade nas portas das fábricas. É certo que poucos acreditavam naquele frenesi demagógico de “partido que nem rouba, nem deixa roubar”. Há, contudo, uma melancolia aos ataques a Sarney, Maluf, Delfim - “o gordo sinistro”... A pretensa virgindade era quase comoventemente crível. Oh! Deus, onde andará aquele hímen dantes inexpugnável, que tão bem simbolizava a agremiação?

Hímens e virgindades lembram, na ficção, o Capitão Justiniano Duarte da Rosa, o Capitão Justo, estereotipado personagem do romance Tereza Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado. Capitão Justo, símbolo do Mal, era um compulsivo colecionador de hímens de adolescentes. Arrancados à força, centúrios, transformavam-se em pingentes troféus ao pescoço,  em lendário colar de contas. O fim foi trágico.

Na vida real, o julgamento do mensalão, como já se disse, bem que poderia ser denominado de julgamento da virgindade perdida. A essa altura, ninguém acredita que a virgem de São Bernardo tenha sido estuprada por um Capitão Justo qualquer. As evidências processuais não deixam dúvidas sobre a vontade deliberada de perder-se, de leiloar sua membrana. Passou um boi, passou a boiada.

domingo, 30 de setembro de 2012

LOUCURA SOCIALIZADA




Em imperdível entrevista para a revista Veja da semana passada, o poeta Ferreira Gullar
resumiu seus pontos de vista com invejável objetividade. Ex-militante moderado da esquerda
e carregando a cruz de dois filhos esquizofrênicos, um deles já falecido, certamente, os
patrulhadores de plantão vão esculhambar o pobre velho. Falando sobre os hospitais
psiquiátricos, resume sua revolta ao conceito de que "pais de doentes mentais internam seus
filhos para deles livrarem-se", conclui: "... esse pessoal pretende amar meus filhos mais do
que eu ..."

O grande vate referia-se à ideia de acabar com os hospitais psiquiátricos. Politicamente
orientado pelo PT, um projeto conhecido por "Lei Delgado" seria, no início deste século,
praticamente aprovado por unanimidade. Ai daquele que ousasse discordar. Clima de
felicidade se espalharia entre psicólogos, progressistas, pacientes e familiares que não
aceitavam sua condição de psicóticos.

A sexóloga Marta Suplicy tinha espasmos de satisfação. Mais uma Bastilha havia sido demolida
pela força do povo. Era a vitória do proletariado sobre essa asquerosa elite de exploradores -
os donos de hospitais. De repente, qualquer babaca se julgava um expert em condições de opinar. Lembro de um comunistóide, médico, ocupando posto no CFM, sem conhecimento de causa, jurava
que os hospitais psiquiátricos eram servis à ditadura. Garantia haver tortura. O eletrochoque
era sinônimo de pau de arara. Não havia negar: os hospitais psiquiátricos eram réplicas
pioradas dos temíveis gulags soviéticos.

O rolo compressor dos progressistas ignorou a posição dos professores de psiquiatria. Àquela
altura, as mágoas de um psicopatão de Curitiba, alçado símbolo da iconoclastia psiquiátrica,
tinham mais peso que os argumentos dos mais renomados cientistas.

O fato é os hospitais privados, para os doentes do SUS, estão funcionando de teimosos.
Salvo aqueles do Estado, que não pagam impostos, não têm compromissos nem com a folha
de pagamentos, tampouco com alimentos e remédios. O valor da diária é humilhante. De
honorários médicos acachapantes

Poucos ainda falam em fechar hospital psiquiátrico. Conforma-se o Ministério da Saúde
em asfixiá-lo com um pagamento vil. Enquanto isso, aumenta a demanda de pacientes com
planos de saúde. Uma curiosidade a registrar: por ironia do destino, parentes de ilustres
antimanicominialistas - quando não eles próprios - têm apelado para os humildes préstimos
dos antigos torturadores.


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

TORCIDAS DE SONHOS APLAUDAM, TALVEZ...

Torcidas de sonhos aplaudam talvez...


Ronald Mendonça

Médico e membro da AAL



Ao interpretar a Balada número 7, o cantor Moacir Franco seria alvo de ódio narcísico de uma colega, a sambista Elza Soares. É que Garrincha, o lendário 7 do Botafogo e da seleção brasileira, ex-companheiro da consagrada cantora, está inteiro na comovente canção, que, aliás, receberia magistral tratamento na voz de outro ícone da MPB, ninguém menos que Noite Ilustrada.

Na realidade, ela e nosso Garrincha, na época já em franca decadência, insustentável nas suas pernas cansadas, carcomidas por graves artroses, alcoólatra irrecuperável, ambos inconformados, tentavam esculpir uma ilusão de que seria possível triunfal retorno aos estádios. A balada sepultava o sonho.

Relembro da poesia do suposto autor, o desconhecido Alberto Luiz, temendo cumprir o mesmo destino de Moacir Franco, que praticamente sumiu do mapa, como cantor, desde o entrevero com Elza.

É que velhos atletas, no caso, ultrapassados homens públicos, também estão se apegando aos gramados da política. Não querem largar o osso, viciados em esquemas de patrimonialismo. Sentem falta dos conchavos, nostalgias das benesses.

Quer parecer penoso viver-se como um cidadão comum: dar expedientes, ser cobrado pelo desempenho, receber um salariozinho safado ao fim do mês, suportar aporrinhações de toda sorte e, sobretudo, ter responsabilidade civil pelos atos.

O exemplo de José Serra, em São Paulo, é o mais emblemático, não obstante longe de ser o único. Serra – a meu ver, um enjoado – como político não se enquadraria dentre os piores. Poderia ter ido mais longe, não houvesse a infelicidade de enfrentar uma pedreira, o Lula. Embora com chances de ir para o segundo turno, seu alto índice de rejeição é um urubu que selou a sua sorte.

Carcomido pelo câncer de laringe, por químio e radioterapia, fisicamente decrépito, voz cavernosa, Deus Lula é outro que teima em permanecer jogando. Arrogante, mantendo distância de peias morais e éticas, tem sido melancólica sua presença nos programas eleitorais. Cancros morais corroem sua biografia. Comparsas e amigos de outrora fazem revelações que o emudecem. Não por acaso, em São Paulo e em outras grandes capitais, seus degradados afilhados estão vazando pelo pito.

Por aqui, o estimado alcaide Cícero perdeu a humildade, sua marca registrada. Com curioso pedantismo, fala de si na terceira pessoa. Um Apolo capaz de eleger um poste. Desde que esse poste não tenha nome.







sábado, 15 de setembro de 2012

AMA DE LEITE

AMA DE LEITE


RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Não fui contemporâneo das lutas de Monteiro Lobato pela nacionalização do petróleo, nas décadas de 30 e 40 do século passado. Nacionalista empedernido, certamente não foi essa sua mais importante bandeira. Com efeito, ainda muito jovem o autor de Reinações de Narizinho herdou do avô uma gleba de terra. Promotor público ficaria revoltado com a apatia do nosso campesino - fato que atribuiu a nossa ascendência miscigenada. Chegou a publicar contundente artigo no jornal O Estado de São Paulo "denunciando" nossa condição de inferioridade, digamos, "genética".

Algum tempo depois, o grande escritor (na época ainda não era) retratou-se num texto histórico em que reconhecia o erro de sua avaliação. Na verdade, o que considerava indolência geneticamente transmitida, não passava de graves distúrbios orgânicos causados por infestação crônica de parasitos de todas as denominações, decorrente de nossas precárias condições higiênicas, do nosso abissal analfabetismo. Nossos caboclos eram reservatórios, melhor dizendo, eram verdadeiros jardins zoológicos ambulantes.

Estava aí o ambiente perfeito para o surgimento do personagem Jeca Tatu. Mais tarde, essa figura ganharia ainda maior evidência com os caderninhos produzidos pelo Laboratório Fontoura, centuplicando a venda do lendário "Biotônico Fontoura", o elixir apontado como o responsável pela saúde do Jeca.

Os livros de Monteiro Lobato marcaram a minha transição para a adolescência. Admito que não me deixei seduzir pelas traquinagens de Emília, muito menos impressionar pelo singular intelectual Visconde de Sabugosa, um leitor compulsivo que armazenava letras no seu interior. Viajei absorto com toda a "família" do Pica-Pau através da Mitologia, antes tomando um banho de civilização pela Grécia de Péricles. Quanta saudade de Lobato, da adolescência e de Narizinho.

Tia Anastácia, a negra que compunha o universo lobatiano, me era particularmente cara. Companhia indefectível de Vó Benta, imensa nas formas e no conteúdo, Anastácia lembrava-me minha babá Adelaide, nas horas vagas, pressurosa ama de leite. Abro parêntese para dizer que Adelaide foi minha cliente na universidade. Nas aulas práticas de neurologia, fazia enorme sucesso ao anunciar aos alunos sua condição de "ex-babá" do professor. Tinha pejo em declinar sua outra função.

Descobriu-se que as obras de Monteiro estariam contaminadas, consumidas por nefasto preconceito racial. É o politicamente correto.





sábado, 8 de setembro de 2012

ENSAIO SOBRE A HONRA E A GRATIDÃO


ENSAIO SOBRE A HONRA E A GRATIDÃO

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

 

 

Inesperado round envolvendo os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula ganhou uma certa notoriedade na imprensa.  FHC, como é conhecido, assinou um texto publicado no Globo e no Estadão em que faz referência, dentre outras coisas, ao nanismo moral do governo que o sucedeu, cujo fastígio teria se materializado no mensalão.

 A reação foi dura e na mesma altura. Segundo os defensores ad hoc do ex-metalúrgico, Lula foi um grande estadista, um emérito administrador, que recebeu o País falido, anérgico, com inflação em dois dígitos, pendurado no cadafalso do FMI. Uma bagaceira. Nada funcionava. Para completar, duas desgraças emolduravam os oito anos de FHC: um mensalão (considerado o “pai” do atual) para comprar parlamentares para a emenda da reeleição e a entrega das riquezas nacionais ao horrendo e insaciável capital estrangeiro. Entreguistas, impatrióticos, os leilões teriam sido de cartas marcadas, e a preços de banana.

O fato é que ninguém sabe (nem o Delfim) o que seria do Brasil sem Lula, aliados e companheiros. Sinto calafrios ao imaginar uma nação literalmente desamparada não fora a mão forte e heróica do inigualável combatente  Zé Dirceu, de um estrategista com as qualidades de um Genoíno, dos sábios conselhos do professor Delúbio, de um Silvinho Land Rover... Felizmente, da pífia administração de FHC sobraria Valério, exemplo de financista e publicitário, reforço que seria capital nos rumos da administração pública.

 O que seria de Vera Cruz sem o endosso dos fios do bigode  de um Zé Sarney, sem as comoventes cirurgias e a proverbial honestidade de Roseana Sarney? Sem o Lobão (um dos maiores especialistas do planeta), Orlando Silva e o Barbalho, cujo  PhD em rãs é um orgulho nacional? Não quero esquecer do Lulinha Júnior – um gênio que jazia em estado larvar na portaria de um zoológico – descoberto graças a Deus e ao governo petista. Sim, porque Lulinha (nosso B. Gates), salvo do obscurantismo, tem lugar reservado no Panteão, ao lado de Graham Bell, como um  dos grandes benfeitores da humanidade. Por isso, o justo e súbito enriquecimento do garoto.

Lula foi vilipendiado. Sua honestidade, sobretudo sua ética, ilumina os caminhos mais tenebrosos. Farol dos homens de bem, nunca nesse conspurcado torrão havia desabrochado flor mais pura. Daí nossa não mais digna presidente expedita acorrer em defesa de sua inatacável honra. Ainda existem pessoas gratas. Fora a Dilma, enumero pelo menos três: Lewandowsky, Toffoli e Maluf.

sábado, 1 de setembro de 2012

0 PAÍS TEM PRESSA

 




O PAÍS TEM PRESSA
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Apagou-se a estrela de João Paulo, esperança de gol das hostes esquerdistas. Com ele, dividirão cela Valério, Pizzolato e algumas pilombetinhas. Como ficou provado, nada havia contra sua pessoa. Sim, que raio de país é esse no qual o sujeito não pode pedir a sua doce e ingênua companheira, aproveitando ida ao banco para pagar carnê da Sky, para pegar um troquinho de cinqüenta mil reais?
O julgamento do mensalão – ou, se quiserem, o esquema de apropriação ilegal do dinheiro público para cobrir “gastos de campanha” e outros que tais – mostrou uma verdade irrefutável: não basta a Pesidência nomear ministros. Há que se nomear, não juízes de carreira, mas lacaios invertebrados e pervertidos, de preferência militantes da nobre causa.
A propósito, consta que, num comovente desabafo étnico, nosso ético ex-presidente Lula Silva teria confessado sua decepção com o “negro complexado e ingrato”, que vem a ser o raquiálgico ministro-relator Joaquim Barbosa. Segundo o mesmo comentário, Barbosa estaria querendo aparecer, farejando mais uma capa de Veja, "a infame e golpista publicação pequeno-burguesa a serviço do capital estrangeiro e da CIA”.
Nem tudo está perdido, quando resta uma esperança. O jogo pode virar. Até o final do julgamento, nossa douta presidente terá chance de preencher duas vagas no STF. Embora não seja do ramo, disponho-me a tirar alguns nomes da cartola. Aqui mesmo, em Alagoas, há candidatos com perfis morais de tal magnitude que jamais deixariam amargurado o coração do nosso íntegro ex-presidente.
Pessoalmente, custa-me crer no mensalão. Nesse aspecto estou em ótima companhia. “God” em pessoa, Kakay e outras feras do Direito, incondicionais defensores dessa canalha, também botam fé de que tudo não passa de invenção da mídia. De igual modo, recuso-me a acreditar que o PT, a exemplo do finado PFL, estaria em vias de mudar de nome. É que a simples menção da sigla tem causado repugnância. Hoje, seu maior trunfo é a coligação com o Maluf.
A grande verdade é que está havendo uma perda de tempo. Como diz o candidato, o Brasil tem pressa. Foi justamente pensando nessa velocidade que o governo destinou aos despreparados, apenas, a metade das vagas nas universidades federais.
Data vênia, a douta presidente foi de uma humildade tibetana. Até porque, como o insuspeito Belluzo defendeu em brilhante artigo, uma vez que todo mundo vai ficar desempregado, é absolutamente irrelevante para um desocupado saber ler ou escrever.

domingo, 26 de agosto de 2012

GLORINHA, O RAPAZ, A LÍNGUA E A PIMENTA





 
 
 

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



Armas dos covardes e despeitados, a difamação, a calúnia e a injúria ganharam novas ferramentas. Dos clássicos cochichos ao discurso público, tudo vale quando se quer denegrir a honra de alguém.
A carta anônima, com letra modificada, foi substituída por textos digitalizados. Correios e telégrafos tornaram-se obsoletos com a revolução da internet. E-mails com pseudônimos, panfletagens apócrifas em bares e assembleias e até pichações em paredes fazem parte do arsenal do difamador. Sem falar em rádios, jornais, revistas e TV...
A difamação é um crime que mira a moral e a honra alheias. Mais grave quando gratuita. Pior na eventual possibilidade do deliquente esconder-se sob o manto de uma doença mental. E no entanto a Justiça parece leniente, indiferente...
Lembro Glorinha, casadoira jovem pilarense do início do século XX. O pai, conceituado e pacato médico do interior, cultivava pimenteiras. Era uma referência na área, mantendo correspondência com os centros mais desenvolvidos do planeta.
Eis que uma estranha figura, alienígena, funcionário dos telégrafos, imiscuir-se-ia na vida da comunidade. Logo o sujeito se revelaria detentor de inesgotável repertório de histórias ouvidas alhures.
Num dado momento, o forasteiro engraçou-se pela bela Glorinha, que lhe sorriu mas o descartou. Rancoroso, sem provas, movido por vil sentimento, entre um papo e outro, foi chamando a atenção para suposto romance da jovem com o velho pároco, um negro alforriado.
Os comentários chegariam aos ouvidos dos pais. Uma hecatombe! É que as infâmias, mesmo as mais improváveis, há sempre alguém a dar-lhes crédito.
Ainda que sem culpas, Glorinha recolheu-se envergonhada. Perdeu o viço. Tuberculose galopante sobreveio-lhe cruel. Em meio a hemoptises encontraria forças para enforcar-se.
Imaginem uma cidade consternada, acompanhando o enterro, a população revezando-se nas alças. Até o telegrafista participou do rodízio. Concluída a inumação, um grupo de amigos insistiu com o difamador para um passeio no campo. Não tardou o pai de Glorinha receber em casa uma encomenda inusitada: numa caixa de sapato, uma língua humana ainda palpitando. No fundo, um bilhete: “Que fazemos com isso?”
Suspirando fundo, o velho médico arrastou-se até o quintal. Colheu as pimentas mais picantes, acondicionando-as ao macabro troféu. Antes de fechar a caixa e devolver ao portador, rabiscaria no mesmo papel: “Guarde no ânus do rapaz.”


AMAR É DAR RAZÃO A QUEM NÃO TEM


UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


Amar é dar razão a quem não tem
Ronald Mendonça
Médico e membro da AAL


Agosto é conhecido pelos voos rasantes com que  vassouras de bruxas cortam os céus azuis-anil.  É o mês mal-assombrado, no qual tudo de ruim pode acontecer. Enumeram-se alguns fatos – não vou repisar todos -, como o suicídio de Getúlio Vargas, em 24/08/1954. Dentre outros infortúnios federais, registra-se, em agosto de 1961, a renúncia de Jânio Quadros.
Para compensar, há 100 anos, em 23/08, nascia Nelson Rodrigues, o grande nome do teatro e da crônica brasileira, evento, aliás, que tem sido razoavelmente bem lembrado. A renúncia de Jânio – que ensejou um imbróglio que descambaria no golpe de 1964 – e o suicídio do “Pai dos Pobres”, talvez sejam objetos de alguma notinha.
Não sou íntimo, muito menos especialista da obra de Rodrigues. Minha curiosidade sobre os seus escritos  remontam à adolescência, quando ávido corria para as páginas do extinto Jornal de Alagoas em busca de sua coluna “A vida como ela é”.
Autor proscrito do Colégio Marista, onde estudei, era visto com reservas pelas famílias mais conservadoras. É que o autor de Bonitinha mas ordinária costumava relatar coisas que, como diria Roberto Jefferson (o Pai do Mensalão), despertava no adolescente que fui os instintos mais primitivos. Mais tarde, penetrei um pouco mais no texto do “Anjo Pornográfico”, descortinando horizontes além de escrachada permissividade.
O fato é que Nelson Rodrigues, muitas vezes hiperbólico, imiscuiu-se na vida dos brasileiros, ora como impiedoso retratista e irônico intérprete, ora como profeta. Por sinal, mantenho à cabeceira o seu livro Memórias, manancial que faz parte dos meus rasos enlevos literários.
Frasista original e engraçado, agora mesmo, com o voto de amor e gratidão do ministro Lewandowsky, a eximir de todas as culpas o nobre deputado João Paulo, ocorrem-me dois enunciados: um deles, de Stanislaw Ponte Preta, que teorizava: “Moralizemos a coisa ou locupletemo-nos todos.” O outro, do próprio Nelson, tem tudo a ver com o perfil ministerial: “Amar é dar razão a quem não tem”.
Por seu turno, João Paulo, certamente, deve estar morrendo de rir, repetindo o dramaturgo:”Se os fatos são contra mim, pior para os fatos”.
Encerro, lamentando a morte inopinada e brutal da conhecida e competente psiquiatra alagoana Fátima Lobo. Atropelada por uma moto em desvario, quando chegava ao trabalho, Lobinho, como era conhecida, é mais uma vítima da incúria, da loucura em que se transformou o desgovernado trânsito da capital alagoana. Com a palavra o gestor e seus competentes auxiliares

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O DOCE BILAU DO MINISTRO












Como tem sido exaustivamente demonstrado, as travessuras com o dinheiro público nos primeiros anos do reinado petista, não passaram de contrações lisérgicas da oposição. Sem discurso, tucanos e outros bichos teriam se amatulado com o que existe de mais retrógrado da imprensa burguesa e rancorosa para cutucarem um governo que nem roubava nem deixava roubar.

Antes disso, uma tragédia aguardava o prefeito Celso Daniel, de Santo André. Vejam só: Daniel havia descoberto que o esquema (montado por ele) de achacar empresários para extorquir dinheiro para o seu partido (o mesmo do presidente Lula), havia se “desvirtuado”. É que os recolhedores do partido, em detrimento da sigla, estavam embolsando a grana. O resto todos sabem: Celso Daniel foi friamente assassinado. Seu “valet de chambre” – um certo Sérgio - teria escapado por “milagre”. Não fora a pressão dos irmãos de Daniel, certamente, tudo isso não passaria de mais uma orquestração falaciosa.

Inferno zodiacal ronda os companheiros. Se já não bastassem as greves generalizadas, as olímpicas humilhações e o vergonhoso índice educacional (e as cotas, hein?) eis que, de repente, tudo eclode. Celso Daniel e o mensalão irrompem das sombras.

No meu materialismo biológico, fico de queixo caído com a dialética desses operadores do Direito. Investidos da inquebrantável convicção da inocência dos seus clientes, os nobres causídicos reservam-nos risíveis contorcionismos semânticos. Um deles, para reforçar a imagem de candura da cliente a chama de “mequetrefe”. Até que poderia ser “pilombeta”. Um outro crê piamente que o culpado é o Zé Lingüiça, anônimo petista, um boi de piranha. O fato é que, para seus advogados, todo réu é pau mandado.

Sem querer desmerecer (na verdade, morrendo de inveja) os milionários honorários dos iluminados defensores, são os ministros as grandes estrelas do espetáculo. Mesmo batendo boca como em qualquer discussão de boteco, suas excelências são insuperáveis.

A propósito, quem teria roubado a cena no último final de semana foi o “Enfant Terrible”, o benjamin do STF, José Dias Toffoli, homem de ouro da advocacia petista.

Segundo o jornalista Ricardo Noblat, Toffoli o atropelou com um linguajar de bordel de cais de porto. “Canalha” teria sido o adjetivo mais cordial. Na cachoeira de impropérios, nem a mãe do jornalista teria escapado. No fim, Dias Toffoli condena-o a chupar o seu “bilau”. Supõe-se diabético, a julgar pelo autopropalado gosto adocicado.

sábado, 11 de agosto de 2012

GOD E OS MORTAIS COMUNS

UM TEXTO DE RONALD MENDONÇA


“GOD” E OS COMUNS MORTAIS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL



Finalmente está se chegando à Suprema Verdade. Nunca existiu mensalão. Aquela dinheirama, que escorria livre leve e solta, quase à socapa, nas mãos dos dirigentes e gurus da quadrilha que “nem rouba, nem deixa roubar” não passa de fantasias psicodislépticas dos procuradores da República.
Pelo menos é o que se depreende das orações dos brilhantes causídicos que ora se revezam no palco do STF, performances de dar inveja a Sir Lawrence Olivier (o maior dos shakespearianos). Não poderia ser diferente. Afinal de contas, o chefão é simplesmente o insuperável Márcio Bastos, ou “God”, como é tratado pelos acólitos. Por sinal, “God” teria ficado p. da vida quando a linda Andressa Mendonça (uma prima distante) foi acusada de tentar chantagear o juiz responsável pelo “caso Cachoeira”.
Más línguas, no entanto, atribuem o espasmo ético de “God” ao fato de não vir recebendo, regularmente, a gorda bufunfa do contraventor. Há quem diga que o defensor dos oprimidos vinha levando esporros impublicáveis do marido de Andressa, por continuar preso, apesar do prestígio de “God”.
Comenta-se que o que mais maltrata o nosso pobre Cachoeira é estar longe dos botões da blusa de "Drê", hipocorístico de travessuras de alcova da deliciosa priminha, certamente sussurrado sob macios lençois e soltos travesseiros.
Falo de música, Cachoeira e God e logo vem a imagem de personagem de igual estatura: Demóstenes Torres, o incorruptível jacobino do Brasil Central. Depois dele só um Zé Dirceu tem cacife para competir de igual para igual.
Recém-cassado, Demóstenes deu um show de superação. Nesta semana foi visto a participar de canora noitada num restaurante de Brasília, um point imperdível onde a nata dos defensores dos mensaleiros comemorava. Dentre outros sucessos, encerraria o recital com uma emocionante canção de Sinatra.
Em meio a festins de Baltasar, há ainda quem dê duro nesse País. Não obstante a crônica anemia em medalhas olímpicas - retrato do MEC a imprensa tem focado em Touro Moreno, anônimo ex-pugilista que, mesmo sem ajuda oficial, acreditou que poderia transformar seus filhos, Esquiva e Yamaguchi, em campeões de boxe.
A cada vitória, Moreno tem sido lembrado pelos filhos, preito especialmente significativo às vésperas do Dia dos Pais.
Tomo carona nessas manifestações. Com a licença dos leitores, presto uma homenagem ao meu saudoso pai, que punha fé que livros e lápis fariam a diferença no destino dos filhos.