sábado, 15 de dezembro de 2012

A APOSTA E O ABACAXI

 


A APOSTA E O ABACAXI
Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.
Já era idoso quando o conheci. Morava na antiga Rua Nova, no Centro de Maceió um distinto senhor chamado Pedro Wanderley. Éramos unidos por laços familiares. Viagem desnecessária nos dias atuais, seu Pedro foi operado de catarata no Rio de Janeiro.

Um oftalmologista alagoano, amigo de infância do paciente, havia se esmerado, produzindo o que de melhor poderia ser feito naqueles distantes anos 1950 da passada centúria. Durante anos, Wanderley enfrentaria estoicamente as trevas da cegueira. Não obstante, era visto atravessando ruas em meio a um trânsito adverso e mesquinho.

O boom de excelência que hoje irisa a oftalmologia alagoana tem um sólido alicerce. Com efeito, o histórico da especialidade registra médicos de nomeada, tais como Neves Pinto, Calazans Simões, Moura Resende, os irmãos José e Jorge Lyra, Arthur Breda, Ramos Oliveira, João Carlos Lyra, Everaldo Lemos, Jefferson Araújo , Raul Dias, Oceano Carleial, Arnoldo G. Barros, Alan Barbosa, que, dentre outros, abriram caminho para o atual patamar.

Não me ocorre esquecer os novos valores que assimilaram as modernas técnicas, capacitando-se e importando instrumentais de alto custo, abrindo espaços confortáveis, arriscando o patrimônio pessoal. Impossível nomeá-los todos. Prefiro homenagear a especialidade na figura do oftalmologista João Marcelo Lyra, indicado para tentar dar luzes, clarear as sombras que recobrem a saúde no município de Maceió.

Ignoro as razões do prefeito eleito Rui Palmeira  apostar em João Marcelo. Profissional de altíssimo nível, muito bem sucedido, ele mesmo, João, demonstra desprendimento ao aceitar o desafio. Não há nada de estranho. O próprio prefeito é uma aposta que os munícipes “pagaram para ver” ao escolhê-lo para burgo mestre.

Critica-se o fato de Marcelo “não ser do ramo”. Certamente, de não fazer parte dessa confraria que borboleteia nas secretarias, desde os gloriosos tempos em que os sindicatos sonhavam com a Albânia, imaginavam-se reencarnar o “Che” e acordarem   nos bares temáticos cheios das coisas. Por fim, jactavam-se por não saber prescrever um Elixir Paregórico.

Ao mesmo tempo em que parabenizo o futuro prefeito pela escolha, tenho pena do João Marcelo. Maceió não alcançou 30% de cobertura no PSF. Paga-se uma miséria aos hospitais. Por isso as Unidades de Emergência de Maceió e Arapiraca vivem superlotadas. Os médicos recebem merrecas inacreditáveis. Mistérios insondáveis rondam o destino das verbas do SUS. Sacaneia-se quem trabalha. Há privilégios inexplicáveis. É muito abacaxi.

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