sábado, 17 de novembro de 2012
RENDA E NAMORO
Falecido na década de 90 do século passado, Ivon Curi, em declínio, viveria seu último papel na Escolinha do Professor Raimundo interpretando Gaudêncio, um gauchão macho até umas horas. Cantor e ator emplacou vários sucessos musicais e foi apreciado galã nas chanchadas da Atlântida. Tal qual o personagem do Kit Gay do ministro Haddad, hoje prefeito de SP, batia bola em todas as posições. Morreu de AIDS sem nunca haver assumido claramente a multilateralidade sexual.
Um dos seus grandes sucessos foi cantando Mulher Rendeira (“Farinhada”?), canção de domínio popular de pouquíssimos versos, mas que ganhava muita força graças às caras e bocas do saudoso artista.
“Tu me ensina a fazer renda, que eu te ensino a namorar”, refrão mais marcante tem tudo a ver com certo período da nossa recente história política. Foi justamente quando dividiram cela os condenados por crimes “triviais” (assassinatos, roubos, estupros..) e os presos políticos (teóricos, terroristas e simpatizantes).
Dessa salutar convivência teria brotado o Comando Vermelho, organização essencialmente criminosa ligada ao tráfico. Consta haver assimilado técnicas de guerrilha em aulas ministradas pelos presos políticos. Em matéria de pilantragem, conforme ficaria demonstrado, nossos guerrilheiros eram hors concours. Não obstante as evidências, os queridos amigos gauchistes teimam em considerar injuriosas tais referências. O fato é que a partir de determinado momento, explodiriam os seqüestro, crimes até então, de uso, digamos, restrito dos terroristas de esquerda.
Não vamos exagerar e dizer que assaltos a bancos fizeram parte desse curso. É que ambas organizações (terroristas e traficantes) os praticavam à larga mano. No máximo, nesse quesito, houve troca de know how.
E assim se passaram os anos. Embora neguem, nossos “guerrilheiros” tomaram o poder e se transformaram em irretocáveis burgueses. Penteados, trajando impecáveis Armanis, exalando loção francesa, até escovam dentes, usam desodorantes e trocam de cueca. Os langanhos axilares,marca registrada das militantes, fartos e fétidos na época de revolta, graças a Deus, sumiram. Gordos saldos bancários e “apês” em Higienópolis, dentre outros mimos, completam o kit.
Como relembra Douglas Apratto, “a história não se repete, a não ser como farsa”, temos agora uma tremenda coincidência que nem Rasputin, nem Roberto de Ogum conseguiriam antever. Juntos de novo, compartilhando segredos e sonhos, Beira-Mar, Marcola, Zé Dirceu, Genoíno e Delúbio. De quebra, Kátia, Valério e outras pilombetas.
O coral do presídio já ensaia o refrão: “Tu me ensina a fazer renda/ Que eu te ensino a namorar//”.
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