O DOLEIRO MOSSORÓ
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Maceió dos anos 50-60 do passado
século respirava provincianismo. A Rua do Comércio, por exemplo, desembocando
na Praça dos Martírios e terminando na Rua das Verduras era imutável. Consigo
ver nas minhas cansadas retinas a Normande, a Casa Leahy, A Brasileira, a Jota Castro, o Café Central, o
Bilhar do Comércio, a Casa São Miguel, a Soares Sobrinho, a
Quatro/Quatrocentos, a Neno, a Farmácia Globo, o Bar Colombo, a Costa Júnior, as
Nações Unidas, Capitólio Modas, A Radiante e até o monumento a Mercúrio em
frente ao Café Central...
Guardo na memória a Joalheria Machado, a Livraria Ramalho, o
Cinearte, depois Cine São Luiz, vizinho do prédio que o Banco Econômico
construiu (ou reformou)... Mais adiante, em esquinas contrárias, Flávio Luz e a
Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil, depois Produban.
Sou do tempo do Carrossel
Musical, da Loja Renner, do Edifício Passos (número 313 – onde José L. de Mendonça e Abelardo Duarte tinham consultório). Aliás, a
Rua do Comércio era o “point” para os médicos. Com efeito, ali estavam Mário
Mafra, Lages Filho, Ib Gatto, Rodrigo Ramalho, Ednor Bittencourt dentre outros...
O próprio Estácio de Lima, antes de retornar definitivamente para a Bahia,
tentou fixar-se em Maceió. Consta que, ao encerrar suas atividades, ele teria
dito que os alagoanos só queriam o Dr. Sebastião da Hora...
Às tardes, legiões de ginasianos misturavam-se àquelas figuras de terno branco
S 120, que iam papear e receber a brisa que
soprava da praia. O espaço abrigava renomados advogados, como Hebel
Quintella e Afrânio Lages, artistas, intelectuais e tipos populares. Nesse
último grupo, destaques para o pintor Sanduarte, o jornalista Donizette
Calheiros e o cafetão Benedito Mossoró.
Em tempos de euros na calcinha,
dólares na cueca, mensalões, rombos na Petrobrás e o contubérnio entre petistas
e doleiros, recordar Mossoró tem tudo a ver. Homem de rígidos princípios, certamente o velho proxeneta ficaria
envergonhado por tudo que está acontecendo.
Por força de sua, digamos, profissão, acumulava
dólares que os marinheiros trocavam na sua empresa. As elites (como diria o
Lula), quando queriam viajar para o exterior, tinham em Mossoró confiável cambista. Chiques madames remetiam seus
motoristas com o recado: “Faça um precinho camarada para sua amiga e
admiradora...” Ele era criterioso. Detestava misturar-se com qualquer um.
Nenhum comentário:
Postar um comentário