quarta-feira, 23 de abril de 2014

O DOLEIRO MOSSORÓ



O DOLEIRO MOSSORÓ
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Maceió dos anos 50-60 do passado século respirava provincianismo. A Rua do Comércio, por exemplo, desembocando na Praça dos Martírios e terminando na Rua das Verduras era imutável. Consigo ver nas minhas cansadas retinas a Normande, a Casa Leahy,  A Brasileira, a Jota Castro, o Café Central, o Bilhar do Comércio, a Casa São Miguel, a Soares Sobrinho, a Quatro/Quatrocentos, a Neno, a Farmácia Globo, o Bar Colombo, a Costa Júnior, as Nações Unidas, Capitólio Modas, A Radiante e até o monumento a Mercúrio em frente ao Café Central...
Guardo na memória  a Joalheria Machado, a Livraria Ramalho, o Cinearte, depois Cine São Luiz, vizinho do prédio que o Banco Econômico construiu (ou reformou)... Mais adiante, em esquinas contrárias, Flávio Luz e a Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil, depois Produban.   
Sou do tempo do Carrossel Musical, da Loja Renner, do Edifício Passos (número 313 – onde  José L. de Mendonça e  Abelardo Duarte tinham consultório). Aliás, a Rua do Comércio era o “point” para os médicos. Com efeito, ali estavam Mário Mafra, Lages Filho, Ib Gatto, Rodrigo Ramalho, Ednor Bittencourt dentre outros... O próprio Estácio de Lima,   antes de retornar definitivamente para a Bahia, tentou fixar-se em Maceió. Consta que, ao encerrar suas atividades, ele teria dito que os alagoanos só queriam o Dr. Sebastião da Hora...
Às tardes, legiões de  ginasianos  misturavam-se àquelas figuras de terno branco S 120,  que iam papear e receber a brisa que soprava da praia.  O espaço  abrigava renomados advogados, como Hebel Quintella e Afrânio Lages, artistas, intelectuais e tipos populares. Nesse último grupo, destaques para o pintor Sanduarte, o jornalista Donizette Calheiros e o cafetão Benedito Mossoró.
Em tempos de euros na calcinha, dólares na cueca, mensalões, rombos na Petrobrás e o contubérnio entre petistas e doleiros, recordar Mossoró tem tudo a ver. Homem de rígidos princípios,  certamente o velho proxeneta ficaria envergonhado por tudo que está acontecendo.
 Por força de sua, digamos, profissão, acumulava dólares que os marinheiros trocavam na sua empresa. As elites (como diria o Lula), quando queriam viajar para o exterior, tinham em Mossoró confiável  cambista. Chiques madames remetiam seus motoristas com o recado: “Faça um precinho camarada para sua amiga e admiradora...” Ele era criterioso. Detestava misturar-se com qualquer um.

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