sábado, 12 de abril de 2014

O DOLEIRO MOSSORÓ



O DOLEIRO MOSSORÓ
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Maceió dos anos 50-60 do passado século respirava provincianismo. A Rua do Comércio, por exemplo, desembocando na Praça dos Martírios e terminando (ou começando) na Rua das Verduras era imutável. Tantos anos são passados e ainda consigo ver nas minhas cansadas retinas a Normande, a Casa Leahy,  A Brasileira, a Jota Castro, o Café Central, o Bilhar do Comércio, a Casa São Miguel, a Soares Sobrinho, a Quatro/Quatrocentos, a Neno, a Farmácia Globo, o Bar Colombo, a Costa Júnior, As Nações Unidas, Capitólio Modas, A Radiante e até o monumento a Mercúrio em frente ao Café Central...
Tenho nas minhas memórias  o Cinearte, depois Cinema São Luiz, vizinho do prédio que o Banco Econômico da Bahia construiu (ou reformou)... Em esquinas contrárias, Flávio Luz e o escritório da Cia. Força e Luz Nordeste do Brasil, depois, Produban.         
Sou do tempo do Carrossel Musical, da Loja Renner, do Edifício Passos (número 313 – onde  José Lopes de Mendonça e  Abelardo Duarte tinham consultório). Aliás, a Rua do Comércio era o “point” para os médicos. Com efeito, Mário Mafra, Lages Filho, Ib Gatto, Rodrigo Ramalho, Ednor Bittencourt dentre outros... Sem falar no celebrado Estácio de Lima  que antes de retornar definitivamente para a Bahia tentou consultório em Maceió, para logo desistir. Consta que, ao encerrar suas atividades, ele teria dito que os alagoanos só queriam o doutor Sebastião da Hora...
Às tardes, legiões de  ginasianos  misturavam-se àquelas figuras de terno branco SJ 120,  que iam papear e receber a brisa fresca que soprava da Avenida.  O espaço  abrigava advogados famosos, como Hebel Quintella e Afrânio Lages, artistas, jornalistas e tipos populares. Nesse último grupo, destaques para o pintor Sanduarte, o combativo Donizette Calheiros e o proxeneta Benedito Mossoró.
Em tempos de euros na calcinha, dólares na cueca, mensalões, rombos na Petrobrás e mancomunação de petistas com doleiros, recordar Mossoró tem tudo a ver. Homem de princípios, articulado e discreto, talvez o velho proxeneta ficasse envergonhado por tudo que está acontecendo. Por força de sua, digamos, profissão, acumulava dólares que os marinheiros trocavam no seu estabelecimento. As elites (como diria o Lula) quando queriam viajar para o exterior, tinham em Mossoró o mais confiável dos cambistas. Ele era criterioso: não se misturava com qualquer um.


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