Ronald Mendonça
Médico. Membro da AAL
Aos doze anos, depois de uma
rápida passagem pelo Juvenato Nossa Senhora da Conceição, em Recife, desisti
definitivamente da vida monástica. Sonho disputado com o desejo de vir a ser
médico, qual meu pai, desvanecera-se no ar, tais os sólidos na metáfora de
Marx. Um mês me bastou para reconhecer que não nascera vocacionado para aquele
tipo de vida.
Num piscar de olhos, veterano
médico, já quase cinquentão, vi-me debruçado ao teclado de um computador,
literalmente dedilhando textos para jornal. Não obstante o velho bisturi
continuar firme a garantir o pão de cada
a dia. Eis que um novo mundo estava a se descortinar. Como todo aprendiz,
escorreguei muito (ainda hoje escorrego, sem me considerar um sênior na arte
de escrever).
O primeiro texto foi publicado no O Jornal,
por puro acaso. Engatinhava no computador quando arrisquei mandar o texto para
a redação. Não alimentava ilusões de permanecer escrevendo. Ocorreu que o
artigo foi lido por Dr. Ib Gatto, simplesmente o presidente da AAL. Ele gostou
tanto que publicou comentários a respeito do tema. Tratava-se de assunto
polêmico, meio “desabafo de pai”, sobre
o vestibular na ECMAL. Outras pessoas
opinaram. Alguém pode dizer, não sem razão, que o polêmico articulista estava
nascendo...
Várias vezes pensei em desistir.
Sobretudo quando, em vão, buscava o meu modestíssimo texto nas páginas e...
nada. A vontade era de mandar tudo às favas. Desagradável sensação de perda de
tempo. O cirurgião treinado em outros campos de batalha, estava nas cercanias de um território
desconhecido. Um novo aprendizado que, como na Medicina, dura a vida toda.
As páginas da Gazeta não foram fáceis de
conquistar. Como uma deusa do Olimpo, da noite para o dia, iria abrir-se para
um neófito de escrita mal ajambrada? Tal qual num caso de amor à moda antiga,
as coisas foram acontecendo. Envergonhado, entregava os textos a um
prestimoso intermediário, como cartas de amor em tempos medievais. A
irregularidade foi substituída por uma quinzenalidade.
Um dia, o notável Ênio Lins me
telefonou para dizer que doravante os artigos seriam semanais. O próprio Ênio
encarregar-se-ia de me tranquilizar sobre os temas: “Com esses caras fazendo
bobagens, você vai ter assunto para escrever todo dia”.
É assim que estou aqui, vivendo
esse momento lindo dos 80 anos da Gazeta. Tinha quatro anos quando Arnon de
Mello recriou esse jornal. Cresci lendo os textos de Donizetti Calheiros,
Genésio Carvalho, do próprio Arnon, de Paulo Silveira, Cassella e tantos
outros. Jamais imaginei que um dia pudesse estar ocupando essas páginas. Hoje,
timidamente, fazendo companhia a “feras” como Milton Hênio, José Medeiros,
Carlito Lima, Aloísio Alves, Lyzette Lyra, Eduardo Bonfim, o saudoso Cônego
Fernando Iório, José Maurício Breda e mais uma plêiade de colaboradores
ilustres... Nesses anos de jornalismo na Gazeta, “olhando” para vocês
semanalmente, incidem as mesmas emoções dos primeiros dias. Ainda parodiando,
digo: se sorri ou se chorei, o importante é que emoções eu vivi.
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