quarta-feira, 23 de abril de 2014

EMOÇÕES



Ronald Mendonça

Médico. Membro da AAL

Aos doze anos, depois de uma rápida passagem pelo Juvenato Nossa Senhora da Conceição, em Recife, desisti definitivamente da vida monástica. Sonho disputado com o desejo de vir a ser médico, qual meu pai, desvanecera-se no ar, tais os sólidos na metáfora de Marx. Um mês me bastou para reconhecer que não nascera vocacionado para aquele tipo de vida.

Num piscar de olhos, veterano médico, já quase cinquentão, vi-me debruçado ao teclado de um computador, literalmente dedilhando textos para jornal. Não obstante o velho bisturi continuar firme a garantir o pão de  cada a dia. Eis que um novo mundo estava a se descortinar. Como todo aprendiz, escorreguei muito (ainda hoje escorrego, sem me considerar um sênior na arte de  escrever).

 O primeiro texto foi publicado no O Jornal, por puro acaso. Engatinhava no computador quando arrisquei mandar o texto para a redação. Não alimentava ilusões de permanecer escrevendo. Ocorreu que o artigo foi lido por Dr. Ib Gatto, simplesmente o presidente da AAL. Ele gostou tanto que publicou comentários a respeito do tema. Tratava-se de assunto polêmico, meio “desabafo de pai”,  sobre o vestibular na ECMAL.  Outras pessoas opinaram. Alguém pode dizer, não sem razão, que o polêmico articulista estava nascendo...

Várias vezes pensei em desistir. Sobretudo quando, em vão, buscava o meu modestíssimo texto nas páginas e... nada. A vontade era de mandar tudo às favas. Desagradável sensação de perda de tempo. O cirurgião treinado em outros campos de batalha,  estava nas cercanias de um território desconhecido. Um novo aprendizado que, como na Medicina, dura a vida toda.

As  páginas da Gazeta não foram fáceis de conquistar. Como uma deusa do Olimpo, da noite para o dia, iria abrir-se para um neófito de escrita mal ajambrada? Tal qual num caso de amor à moda antiga, as coisas foram acontecendo. Envergonhado, entregava os textos  a um  prestimoso intermediário, como cartas de amor em tempos medievais. A irregularidade foi substituída por uma quinzenalidade.

Um dia, o notável Ênio Lins me telefonou para dizer que doravante os artigos seriam semanais. O próprio Ênio encarregar-se-ia de me tranquilizar sobre os temas: “Com esses caras fazendo bobagens, você vai ter assunto para escrever todo dia”.

É assim que estou aqui, vivendo esse momento lindo dos 80 anos da Gazeta. Tinha quatro anos quando Arnon de Mello recriou esse jornal. Cresci lendo os textos de Donizetti Calheiros, Genésio Carvalho, do próprio Arnon, de Paulo Silveira, Cassella e tantos outros. Jamais imaginei que um dia pudesse estar ocupando essas páginas. Hoje, timidamente, fazendo companhia a “feras” como Milton Hênio, José Medeiros, Carlito Lima, Aloísio Alves, Lyzette Lyra, Eduardo Bonfim, o saudoso Cônego Fernando Iório, José Maurício Breda e mais uma plêiade de colaboradores ilustres... Nesses anos de jornalismo na Gazeta, “olhando” para vocês semanalmente, incidem as mesmas emoções dos primeiros dias. Ainda parodiando, digo: se sorri ou se chorei, o importante é que emoções eu vivi.

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