quarta-feira, 8 de maio de 2019

O Envelhecer da Crônica

O ENVELHECER DA CRÔNICA

 Ilustres intelectuais, permitam-me dizer, alguns colegas de Academias Literárias e outros que não a buscam por a considerarem um ranço “de gosto pequeno-burguês”, ali e acolá, repito, há os que definam a crônica como um estilo híbrido, não vindo a ser um “puro-sangue” literário. Seguindo a cartilha, a crônica será “híbrida”(como o burro), ou seja, uma mistura de jornalismo com pitadas de literatura. Por esse viés, um  tisna o outro. Dessa forma, nem é jornalismo, muito menos literatura.
 Alguém já me disse, não sem acrimônia, que eu não seria, conceitualmente, um intelectual. Imaginem a minha  decepção, pois até aquele exato instante, considerava-me, pretensiosamente, é claro, um “intelectual”. A Ficha caiu-me. Embora, como consolo, desde que colei grau em Medicina, em 1971, nunca tenha  sido-me negada a condição de “médico”.
Conquanto  aniódonos comentários, por mera teimosia, continuei a escrever textos para jornais, até o dia em que o próprio jornal, para o qual enviava, há duas décadas, semanalmente, minhas alinhavadas crônicas, cassou-me a palavra. Meus textos teriam sido considerados “malditos” pela mais importante mídia de Alagoas. Fazer o quê? A coluna vertebral anquilosou e impede-me de salamaleques.
Ainda assim, não obstante a negação frontal do talento de “intelectual de verdade” e de ter minhas palavras silenciadas pela mídia alagoana, continuei a produzir. Passei a publicar unicamente pela mídia social, denominada “Facebook”. Ignoro se sou bem ou mal lido. Acho que a segunda hipótese é a mais viável.
Nas horas em que me proponho a colecionar os tricentenários textos e publicá-los em forma de livros, deparo-me com uma irrefutável verdade: a crônica adquire tinturas senis. Ainda assim, mais uma vez, audaciosamente, sigo em frente. O máximo que me ocorre é datá-las. Talvez, para algum leitor mais curioso dar-se ao trabalho de confrontá-las com o momento histórico em que foram escritas.
Admito, e por isso peço desculpas, dar publicidade a textos sem a devida datação. É que, o que me sobra em ousadia,  careço daquela diligente persistência  dos colecionadores. Condescendentes leitores haverão de perdoar-me a indigência intelectual.
Maceió (Alagoas), maio de 2019
Ronald Cabral de Mendonça

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