Cultura é a representação de todas as
vertentes humanas; ou cultura erudita ou cultura popular deve sempre ser levada
ao povo como uma forma de compreensão, de educação. Eu costumo sempre dizer:
“educação é um dote que não se gasta, um direito que não se perde e uma
liberdade que não se limita”.
[...]
CONTRASTE
Pe. Antonio Tomaz
Quando partimos, no vigor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marchando, descuidosamente...
Eis que chega a velhice de repente,
Desfazendo as ilusões, matando enganos.
Então, nos enxergamos claramente
Quanto a existência é rápida e fugaz,
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos de rapaz:
— Os desenganos vão conosco a frente,
E as esperanças vão ficando atrás!
Então eu luto para que esses desenganos não tomem conta de
mim de maneira nenhuma. Eu mantenho a esperança como a chama que eu cultivo
diariamente, com fé inabalável em Deus e a certeza de que a gente vive tanto
quanto é possível, mas o problema não é viver muito, é viver bem; é ter
qualidade de vida/ é saber se cuidar adequadamente; é fazer com que o nosso
corpo e a nossa mente permaneçam o número de anos que for possível ao serviço
da humanidade, das pessoas, porque sendo médico foi isso que eu fiz, é isso que
eu faço e é isso que eu espero... farei sempre, se não mais na clínica, que foi
de 40 anos, mas através da crônica. Durante 16 anos eu mantenho a crônica na
Gazeta de Alagoas e aí eu prego tudo isso que eu aprendi. Eu conto tudo isso que
vivi ao longo do tempo, porque diz-se que médico para escrever não precisa de
mais nada, digamos assim, basta contar os causos que ele viu durante a vida, e
são tantos causos, que ,usando a palavra popular que aconteceram, que a gente
vai gradualmente fazendo, digamos assim, a continuidade disso. Muita gente
pergunta: “Zé Medeiros, porque é que você não escreve suas memórias?” Eu digo: “porque
quem escreveu 16 anos, toda semana, já contou boa parte de sua vida. Então,
tenho pouco a contar.” Principalmente, porque quando deputado estadual, é onde eu
vi coisas mais curiosas [...] eu vi casos que eu não posso contar porque as
pessoas ainda vivem. Então é melhor não contar para evitar aborrecimentos.
Como eu nasci na beira do São Francisco, desse rio da
unidade nacional, nesse rio que foi sem dúvida nenhuma um elo desde a sua descoberta
em 1503 até hoje, ele continua e eu sou da época em era possível vir de Traipu,
onde eu morava, para Penedo, onde eu estudava, de navio [...]
Eu quero então em homenagem a minha terra dizer uma poesia,
que não sei de cor, mas vou ler aqui.
SAUDADE [Da Costa e Silva]
Saudade! Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto lento deslizando em fio...
Saudade! Amor da minha terra... O rio
Cantigas de águas claras soluçando.
Noites de junho... o caboré com frio,
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
E, ao vento, as folhas lívidas cantando
A saudade imortal de um sol de estio.
Saudade! Asa de dor do Pensamento!
Gemidos vãos de canaviais ao vento...
As mortalhas da névoa sobre a serra...
Saudade! O Parnaíba — velho monge
As barbas brancas alongando... E, ao longe,
O mugido dos bois da minha terra...
Essa poesia representa aquilo que vivi na beira do rio,
pescando piaba, correndo e pegando passarinho para colocar em gaiola. Naquele
tempo, a gente não tinha ideia ainda, digamos assim, de quanto é preciso fazer
para manter o meio ambiente. Eu nunca tinha ouvido falar, até chegar em Penedo,
em meio ambiente, até então, nunca se tinha ouvido falar nisso. Bom, mas os
passarinhos pelo menos eram bem tratados. E vivi ali durante toda a minha
infância, toda a minha adolescência. Como diz o poeta, pés descalços e braços
nus correndo pelas campinas, chupando caju nos cajueiros e manga nas
mangueiras. Atravessando o rio, aprendi a remar com meu irmão, à vela, e ali
vivi boa parte da minha existência, existência que é rápida e falaz, mas que eu
considero que foram anos tão bem vividos, que se eu algum dia voltar, voltarei
para a fazenda Mata Verde, lá em Traipu, vivendo esses 16 anos que lá vivi.
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