A PERDA DE UM
FILHO
RONALD
MENDONÇA
MÉDICO
E MEMBRO DA AAL
Perder um filho é algo tao absurdo que nao se encontra palavra para traduzir o que se imagina o que seja essa dor. É uma quebra na ordem natural das coisas. Pode-se dizer que é possível sobreviver-se. Ninguém sabe como, mas é possível. A metáfora de um pedaço que vai junto, talvez defina.
Dá para
voltar a sorrir, trabalhar, recolher os cacos que ficam nas estradas,,, O tempo
é um grande aliado. Imaginar que o filho fez uma viagem para um lugar muito
distante engana um pouquinho os "receptores encefálicos da perda de
filhos". Afinal, há pessoas com filhos vivos que passam anos sem dar
notícias...
Ter
netos ajuda muito. Criar netos ajuda mais. Lembrando sempre que o neto não é o
filho que Deus mandou de volta para compensar a perda. O neto é outro ser que
não deve e nem pode substituir o ausente. Quem perde filho enloquece um pouco
(ou muito). Eu acho que não fiquei muito normal. A propósito, ouvi de alguém
bem-intencionado: “Como Deus é bom! Vc perdeu dois filhos, mas ele lhe devolveu
dois netos.” Aí eu disse, “minha amiga, quantos netinhos você tem? Quantos filhos você teve de perder para
“ganhar” esse presente em forma de netos?”
As camisas
do Roninho estão no meu guarda-roupa. De vez em quando, emocionado, as uso para
justificar uma lavagem. Os discos da Lavínea também estão conservados,
misturados com os meus. Blusas, perfumes, jóias, livros estão sendo
conservados. Não somos espíritas. Não acreditamos na tese que afirma que chorar
por um filho provoca inquietude no outro mundo.
Nós choramos muito. Nós guardamos esses objetos porque queremos ter essas lembranças deles.
Nunca quisemos apagar seus vestígios de perto de nós. Com muita frequencia
revejo suas fotos e algumas gravações em DVD. Eles não envelheceram. Na verdade, nunca
envelhecerão. Se fossem vivos, a Lavínea
teria 44 anos e o Roninho 38. Perdê-los não nos tornou melhores, certamente imensamente mais tristes.
Um dos
sinais da minha loucura foi fazer um face no nome deles. Vi que não daria
certo. Despertaria curiosidade desnecessária. Disse que não era espírita, mas
gostaria que fosse verdade o que os espíritas sustentam. Quero imaginar a nossa
alegria em reencontrá-los, abraçá-los, beijá-los e matar a imensa saudade que
nunca passa. Talvez tenhamos um pouco de felicidade.
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