sábado, 30 de junho de 2012

COMUNISTAS PREDILETOS

 RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.

No auge do prestígio, Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira curtiam caminhar no Centro da cidade junto com seus lugares-tenentes, dentre os quais os conspícuos e saudosos Hélio Miranda e Arlindo Chagas, amigos pessoais e indispensáveis conselheiros informais do governador Suruagy.
Certamente, muito do desenvolvimento de Alagoas se deve a essas duas inteligentes e envolventes figuras. Por sinal, Chagas – se publicou, desculpem a falha! – ficou devendo seu livro de memórias, o sugestivo Quem for podre que se quebre. Com certeza, um manancial de bom humor e seletas informações sobre fatos e pessoas que orbitavam o Palácio dos Martírios.
O fato é que Suruagy percorria imperial e despreocupadamente a Rua do Comércio, cumprimentando as pessoas, dando e recebendo beijocas, dedos de prosa ali e acolá. Naturalmente, deveria ouvir alguma cobrança, algum pedido de emprego e ia tirando de letra, em proverbial jogo de cintura.
A propósito, lembro o major Luiz, antecessor de Divaldo, sentado nos bancos da Praça dos Martírios jogando conversa, reunido com pequenos vendedores ambulantes, chupando roletes de cana, prática que lhe valeria o simpático apelido de “Lula Rolete”. Chamava a atenção a ausência de ostensiva segurança. A atitude criaria um clima favorável de humildade e desprendimento. Faria escola.
Revelando coragem, louvo a postura do atual governador, que tem sido visto correndo na orla da Pajuçara, sem proteções especiais, a despeito da popularidade algo abalada e dos riscos de ser assaltado. É até recomendável não sair de bicicleta e deixar relógio e celular com o guarda-costa. Dinheiro, nem pensar.
Volto a Suruagy. Num dos prosaicos passeios, a imprensa registraria um encontro entre o governador e o militante e ex-vereador Nilson Miranda. Mal saído das perseguições políticas, Miranda também era afeito a amenas conversas nos fins de tarde. O encontro casual, afetivo, teria leves doses de ironia. Ao se despedirem, Divaldo dispararia: “Nilsinho é o meu comunista predileto...”.

O meu comunista predileto é um amigo de infância. Jogamos muita ximbra e algum futebol. Ele conseguia ser pior do que eu. Fomos contemporâneos de universidade. Era frequentador de bares tematicos, sempre com O Capital sob o sovaco. Enquanto fingia ler, embriagava-se do legitimo scotch. Um líder discreto, foi dirigente do diretório com apoio maciço da estudantada. O fato de ninguém querer assumir -– com medo do pau de arara e dos choques elétricos no ânus e na uretra – aumenta-lhe o mérito.
Legitimo marxista burguês, hoje assiste preocupado aos espasmos do capitalismo. Torce para nunca acabar.

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