MEDICINA EM ARAPIRACA: GLÓRIA E
FRUSTRAÇÃO
RONALD
MENDONÇA
MÉDICO E
MEMBRO DA AAL
No início
dos anos cinquenta do passado século um grupo de médicos materializou o sonho do
pediatra e escritor Abelardo Duarte: sob a liderança de Ib Gatto Falcão estava
fundada a Faculdade de Medicina de Alagoas. A instituição revolucionaria a
Província. Já não seriam necessários deslocamentos para outros estados. O mérito
passaria a ser o critério de ingresso para estudar medicina, condição, aliás,
que prevaleceria até há bem pouco tempo, quando a tez substituiu o desempenho
intelectual.
Numa época
em que não se falava em SUS, a Santa Casa de Maceió disponibilizou 400 leitos
para o ensino, “matéria prima” indispensável para o aprendizado da arte de
Hipócrates. Era um curso rigoroso que tinha a aprovação em Anatomia como
conditio sine qua non. Seguia-se, enfim, o padrão exigido por outras
escolas médicas do planeta, sobretudo as francesas.
Anos
depois, nascia a Escola de Ciências Médicas, diria (sob pressão), num impulso de
coragem e generosidade, mais uma vez tendo à frente Ib Gatto e o apoio do
governador Lamenha Filho. A ditadura militar apenas começava, mas o Cel. Jarbas
Passarinho ainda não havia proferido sua maldição:“Terei médicos a preço de
banana.”
Por estranho
desígnio, a ECMAL transformar-se-ia no “paraíso dos estrangeiros”. É que o
índice de aprovação dos autóctones beiraria o ridículo. Hoje, outros problemas a
sombreiam, o mais terrível é a ausência de um hospital-escola, cruel ferida
narcísica.
As
lembranças afloram ao ler sobre o aumento de vagas para os cursos de medicina.
Nada menos que 2415 criadas de uma só canetada. Nossa pulcra Alagoas foi
contemplada com 80, cerca de 3% do total. Para o MEC e a douta presidenta faltam
médicos no país, daí a dadivosa parição, ponto de vista, aliás, refutado pelo
Conselho Federal de Medicina. Segundo esse órgão, há médicos suficientes, o que
existe é má distribuição decorrente de ausência de políticas públicas que
estimulem a presença de profissionais nas áreas carentes. Em outras palavras,
paga-se mal e não se oferecem meios satisfatórios para uma medicina
razoável.
Água no
chope nas pretensões do CESMAC, todas as vagas serão na Ufal, 60 destinadas ao
Campus de Arapiraca. Como seu cidadão honorário, incluo-me entre os ufanistas.
A má notícia é a previsão do vazio de arapiraquenses na futura faculdade. Com o
ENEM (além das famigeradas cotas), as vagas que sobrarem serão ocupadas por
brasileiros de outras plagas.
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