sábado, 16 de junho de 2012

MEDICINA EM ARAPIRACA: GLÓRIA E FRUSTRAÇÃO



RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL






No início dos anos cinquenta do passado século um grupo de médicos materializou o sonho do pediatra e escritor Abelardo Duarte: sob a liderança de Ib Gatto Falcão estava fundada a Faculdade de Medicina de Alagoas. A instituição revolucionaria a Província. Já não seriam necessários deslocamentos para outros estados. O mérito passaria a ser o critério de ingresso para estudar medicina, condição, aliás, que prevaleceria até há bem pouco tempo, quando a tez substituiu o desempenho intelectual.

Numa época em que não se falava em SUS, a Santa Casa de Maceió disponibilizou 400 leitos para o ensino, “matéria prima” indispensável para o aprendizado da arte de Hipócrates. Era um curso rigoroso que tinha a aprovação em Anatomia como conditio sine qua non. Seguia-se, enfim, o padrão exigido por outras escolas médicas do planeta, sobretudo as francesas.

Anos depois, nascia a Escola de Ciências Médicas, diria (sob pressão), num impulso de coragem e generosidade, mais uma vez tendo à frente Ib Gatto e o apoio do governador Lamenha Filho. A ditadura militar apenas começava, mas o Cel. Jarbas Passarinho ainda não havia proferido sua maldição:“Terei médicos a preço de banana.”

Por estranho desígnio, a ECMAL transformar-se-ia no “paraíso dos estrangeiros”. É que o índice de aprovação dos autóctones beiraria o ridículo. Hoje, outros problemas a sombreiam, o mais terrível é a ausência de um hospital-escola, cruel ferida narcísica.

As lembranças afloram ao ler sobre o aumento de vagas para os cursos de medicina. Nada menos que 2415 criadas de uma só canetada. Nossa pulcra Alagoas foi contemplada com 80, cerca de 3% do total. Para o MEC e a douta presidenta faltam médicos no país, daí a dadivosa parição, ponto de vista, aliás, refutado pelo Conselho Federal de Medicina. Segundo esse órgão, há médicos suficientes, o que existe é má distribuição decorrente de ausência de políticas públicas que estimulem a presença de profissionais nas áreas carentes. Em outras palavras, paga-se mal e não se oferecem meios satisfatórios para uma medicina razoável.

Água no chope nas pretensões do CESMAC, todas as vagas serão na Ufal, 60 destinadas ao Campus de Arapiraca. Como seu cidadão honorário, incluo-me entre os ufanistas. A má notícia é a previsão do vazio de arapiraquenses na futura faculdade. Com o ENEM (além das famigeradas cotas), as vagas que sobrarem serão ocupadas por brasileiros de outras plagas.

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