sexta-feira, 1 de junho de 2012

A OBSOLETA MENTIRA PIEDOSA

A OBSOLETA MENTIRA PIEDOSA


Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.

Participo das críticas e ressalvas inseridas no contundente texto de d. Lysette Lyra. Aliás, recomendo que meus colegas médicos e o público em geral façam uma reflexão em torno do artigo A Nova Medicina, publicado esta semana na Gazeta.



De há muito, o abandono da população à própria sorte é um fato corriqueiro. O problema está banalizado. Resumo: a República fica em paz se os seus dirigentes são atendidos nos braços pelas equipes do Sírio Libanês (SP). Se Lula e Dilma estão felizes, para quê ficarmos chateados com a assistência médica do País?



A propósito, acabo de chegar de Arapiraca, depois de cumprir um plantão de 24 horas. A Unidade de Emergência do Agreste realiza um papel de grande importância na sua área de atuação. A bem da verdade, não é o pior lugar do mundo para se trabalhar. Na madrugada de sexta, fui chamado para operar um hematoma agudo em uma criança de seis anos.



O expedito atendimento esbarra no craniótomo que não se encaixa, nos compelindo a usar a medieval furadeira doméstica, uma ameaça à vigilância sanitária. Minhas queixas são do conhecimento geral: foco (luz) cirúrgico deficiente, revisão mais cuidadosa nos equipamentos de coagulação, substituição de peças envelhecidas. Para completar, pela responsabilidade do nosso trabalho, sigo achando que nosso salário é patético.



Como esposa, mãe e avó de grandes médicos, Lysette Lyra acompanhou a evolução da medicina nesses últimos decênios. De fato, foi uma coisa surpreendente até para nós médicos que estudamos diariamente e falamos “medicinês” 24 horas por dia. Repito o que disse outras vezes: a saúde da população não é tratada com dignidade: nem pelo PT e aliados, muito menos pelos governos anteriores.



Certamente d. Lysette recorda que nos estertores do regime militar, as oposições se uniram sob um grande cobertor chamado MDB, depois PMDB. Estados importantes passariam a ser comandados por oposicionistas que ofereceram a Saúde de mão beijada a pândegos sindicalistas. Essa brincadeira custou o desmonte da razoável estrutura hospitalar vigente. Em Alagoas, por exemplo, o nível de conhecimento era tal que se chegou a comprar uma jamanta fechada de supositório de glicerina. E haja ânus...



A crescente “frieza” do médico vem assustando. Imitamos o modelo americano do politicamente correto. Cresce o conceito de que o paciente tem que saber absolutamente tudo sobre seu mal. Até a mentira piedosa ficou obsoleta

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