
Segundo o Dicionário Aurélio, cidadão seria “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”. Ainda pela mesma fonte, cidadania “é qualidade ou estado de cidadão: cidadania brasileira”. No fim – como diria o gênio do direito Tarso Genro – cidadania é antes de tudo um conceito, certamente um processo.
Visitei o “pai dos burros” impelido por didático texto do jornalista Joaldo Cavalcante publicado recentemente na Gazeta de Alagoas, discorrendo sobre história de “resgate de cidadania” de uma senhora a partir de um empréstimo bancário. Em síntese, tratava-se de uma pessoa carente que apelou para um estabelecimento bancário “dos sonhos”, em que o lucro não é o objetivo. Depois de algumas cabeçadas, a cliente teria comprado uma porca grávida de 15 filhotes que ao nascerem lhe teriam rendido grana suficiente para reinvestir e ingressar no seleto grupo dos criadores de cavalos de raça.
É um relato impressionante. Primeiro, pela existência de um banco que não pratica a usura, pilar do capitalismo. Depois, o tino comercial da mulher, que nem a “mão invisível” de Smith explicaria. Poucos casos assim existem no mundo: Bill Gates, Steve Jobs, Lulinha Júnior... Finalmente, teço loas ao capitalismo que permite que o sujeito alce voo da mais profunda miséria e em curto espaço de tempo atinja invejável patamar na pirâmide do empresariado.
O melhor de tudo é que este modus operandi, segundo o articulista, já melhorou a vida de milhares de conterrâneos. Ou seja, com o Bolsa Família e os empréstimos sem juros, os alagoanos estariam chorando de bucho cheio.
Mas a verdade, na prática, as coisas ainda não são bem assim. Preocupadas com a miséria vigente, com injusta e perversa desigualdade social, “quando ricos estão cada mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, faculdades de medicina apostam suas fichas no discurso político-social, e, em detrimento do ensino da arte de Hipócrates, preferem priorizar a “cidadania” como seu principal objetivo educacional. Faz parte da nobre intenção levar os alunos aos ambientes mais sórdidos, posto que muitos daqueles não passam de súcias de pequenos-burgueses que nunca ouviram falar que no País existia desigualdade social, miséria e fome. É a famosa partidarização do ensino. Medicina que é bom, desde que se saiba como o SUS (não) funciona, ficaria para depois. Afinal de contas, de que vale um diploma de médico se o cara não é um bom militante do PT?
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