domingo, 25 de abril de 2010

ASSIM FALOU VERA ROMARIZ



A crônica do homem comum...para sempre.

Sempre que abrimos um jornal qualquer e lemos uma crônica, interrompemos a leitura de um fluxo linear de informações para obter,em linguagem leve,mas crítica,um comentário,um olhar oblíquo sobre os fatos que um leitor menos atento poderia considerar natural.Porque o cronista,em sua só aparente leveza,reescreve o cotidiano que,por vezes,vivenciamos automaticamente,”sem tempo de manteiga nos dentes”,como diria Fernando Pessoa.
Lendo as 42 crônicas de Ronald Mendonça, ora organizadas em livro, percebo um olhar ágil ,como uma câmera,a mostrar-nos cenas de Maceió e do Brasil,presentes ou esmaecidas em nossa memória.O cronista,como um mágico verbal, põe novo foco em novos ou velhos fatos,dá-lhes um roteiro inesperado,e eles saltam do congelamento do já dito para a vida nova que a leitura de uma crônica proporciona,na vida curta de um jornal.
O autor que escreve essas crônicas utiliza três caminhos na estruturação dos textos: ora narra pequenos “causos”,como em “Praga de sogra”,que conta em tom irônico a saga de uma viúva à espera de um bom partido,ora tece comentários políticos sobre fatos da atualidade,ora constrói perfis humanos..No segundo caso,o autor relaciona males públicos antigos da política nelas fazendo incidir, de modo às vezes transversal, uma inteligente crítica de costumes,como na saborosa “Água Velva e botox”; nesse modus faciendi, gira a câmera para o presente local ou nacional,construindo uma analogia entre o fato antigo e o novo.Parece ser objetivo do cronista reiterar a persistência das mazelas dos homens públicos,envoltos em casos de corrupção e de menosprezo às necessidades populares.
As relações humanas constituem prato do dia do cronista,aí incluídas a do casamento,em que passeiam mulheres vaidosas ou perigosas e homens nordestinos em melancólico crepúsculo de vigor e autoridade paterna,narrado com uma ironia complacente pelo autor em “Lições de vida”.Pela mão do cronista Ronald Mendonça, personagens diversas expressam em ações ou em falas o desejo individual,a frustração com o país e a cidade,o desgosto e o gosto por coisas corriqueiras que constroem em linhas simples o cotidiano das cidades- espaço por excelência da crônica brasileira.
No terceiro caminho, enfim,traz à tona perfis pitorescos de figuras populares,ou da classe média,de amigos que admira e estima,das quais extrai verdades humanas, ou exemplares.É o caso de uma em especial,em que descreve a trajetória humana de um pai em busca por justiça e paz-valores que prezou e que viu serem desarticulados em tragédia familiar que lhe vitimou os filhos jovens. Desses perfis, essalto “Idiotas asilares”,cujo conteúdo remete à luta de um pai argentino( espécie de alter ego do autor) por leis mais duras contra a criminalidade.Motivado pelo assassinato do filho,o engenheiro Blumberg recebe do cronista Ronald Mendonça um tratamento erudito e comovente,chamando-o de “esse Quixote dos pampas,-uma “triste figura” bem sucedida que empunhando sua tragédia pessoal e cavalgando a sua dor já começa a colecionar vitórias”.
A aproximação é sutil,se observarmos que a bela obra de Miguel de Cervantes nos remete à utopia de um mundo pleno de humanismo proposta por um escritor cético em relação ao contexto em que se inseria.

Com “motes”diversos, e um sólido conhecimento da tradição judaico-cristã,e da cultura latina,o que se materializou em um texto sobre Esopo e sua fábula,e em outro sobre a trajetória do homem Jesus Cristo,o autor transmite para o tecido verbal sua intimidade com a civilização latina,que estuda há tempos.Mas ele utiliza uma erudição sem pedantismo,como um bom cronista o faria,porque traz o conhecimento antigo e o atualiza com inteligência,humor e crítica.O olhar saudosista sobre uma Maceió antiga,iluminada por festas e falas populares surge bela e delicada,com o bairro de Bebedouro engolfado por uma modernidade desumana e excludente;trata-se de um contraponto a seus textos mais incisivos sobre políticos locais ou nacionais.
Contando “causos”, provocando risos ou críticas polêmicas, a crônica de Ronald Mendonça reacende uma verdade que me é cara: o gênero crônica nasce nos jornais,e sua linguagem se dirige ao homem comum,àquele que luta,sofre,xinga o governo,e depois veste uma “camisa listrada e sai por aí”. Que bom!
Maceio, abril de 2010

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PS- Amigo Ronald: Amei a crônica “Vera para sempre”.Mas como analisá-la sem cair no risco de ser criticada por parcialidade verdadeira,assumida,prazerosa?Beijo para sempre em você, em Nadja, e em nossas crianças.

Maceio, abril de 2010

ASSIM FALOU CARLITO LIMA


“Há muitos anos acompanho os escritos de Ronald Mendonça. Crônicas bem escritas, inteligentes, irônicas, às vezes sarcásticas, mas sempre bem humoradas. Sua pena é forte, sem medo de patrulhamento político. Convicções independentes e liberais tornam Ronald um cronista do cotidiano dos mais respeitados nas Alagoas. Segundo informações de pesquisas, suas crônicas estão entre as mais lidas pelos leitores de jornais. Agora, finalmente, graças à sua mulher, Nadja, ele lança o primeiro livro, antologia de crônicas publicadas na Gazeta de Alagoas. Quem ganha são seus inúmeros leitores que terão acesso à sua obra, preciosa fonte de consulta de historiadores, estudantes. Será sempre importante ler e ter os livros de Ronald Mendonça. Se me pedissem uma lista dos melhores cronistas contemporâneos, certamente eu colocaria Ronald entre os 10 primeiros.”

Carlito Lima - escritor

ASSIM FALOU VANIA PAPINI GÓES

L.A.S.
(Latim aos Sábados)
Serei breve:”Parvum parva decent”*
Há alguns anos encontrei o famoso professor Aloysio Galvão e, expondo-lhe minha dificuldade em entender textos musicais escritos em latim, fui convidada a ingressar no curso (para iniciantes), a começar naquele sábado, na Academia Alagoana de Letras.
No entanto, no primeiro dia percebi como seria difícil acompanhar aquela turma de 14 alunos, principalmente por notar entre eles a presença de três “feras”: a professora Renira, que se tornou a assessora do professor Aloysio, o advogado Claúdio Vieira com uma ótima bagagem de conhecimentos latinos e o neurocirurgião Ronald Mendonça, que possuía enorme facilidade de associação aos termos próprios da medicina, tornando assim mais acessível a compreensão do teor de cada frase que nos era ensinada. Todos três eram professores, com várias obras publicadas.
Mas o tempo foi passando e a frequencia ficando reduzida até o dia que, olhei em volta e percebi que só restavam aquelas três “feras” e eu (pobre coitada!) tive que refletir um pouco mais. Lembrei-me dos artigos de Ronald, a maioria com citações latinas. Com que habilidade ele tece suas críticas! E ainda consegue o tempo necessário para fazê-lo com prfeição. Sem querer abandonar o curso, folheei o livro “Não Perca o Seu Latim” de Paulo Rónai, onde encontrei essa frase “Disce aut discede”* e resolvi ficar para aprender, entretanto precisaria estudar muito mais, mesmo sabendo que ao nível de Ronald, Renira e Cláudio é difícil chegar. Comecei por copiar livros inteiros, estudando diariamente, o que muito me ajudou. E foi assim que um belo dia me senti capaz de escrever bilhetinhos em latim!
Nosso LAS, reunião hebdomadária que no início constava apenas de feitura gramatical, foi criando uma roupagem nova, englobando os mais diversos temas, desde os clássicos da literatura, passando pelo Vaticano comn assuntos muitas vezes abordados “sub rosa”*, até meros comentários de jornal, não raro provocando no grupo boas gargalhadas, mas tudo sob o punho estrutural do Prof. Aloysio Galvão. É um compromisso deveras prazeroso que nos faz alimentar a esperança de um dia ver o latim voltar a ser matéria obrigatória nos estabelecimentos de ensino.
E ainda existe quem nos queira dissuadir de tais estudos... Eis a resposta: “De gustibus non est disputandum”*

Vânia Papini Góes



*Parvum par decent : Aos pequenos convêm coisas pequenas (Horácio- Epístolas)
*Disce aut discede: Aprende ou vai embora
*Sub rosa: Em segredo
*De gustibus non est disputandum: O que é de gosto não se discute

ASSIM FALOU RENIRA LISBOA LIMA

Ronald, amigo e colega do Latim aos Sábados,
Alegrou-me o fato de ter eternizado essa experiência semanal, vivida ora na Academia Alagoana de Letras, ora na ALMAGIS, transformando-a num título, não só de um dos textos – o primeiro –, mas também de toda a coletânea em que se organizam, cronologicamente, as crônicas publicadas em 2007, também aos sábados.
Tendo o jornal uma vida efêmera, de um dia, como a rosa de Ronsard , o que, aliás, já determina seu próprio nome – NOMEN EST OMEN –, fez muito bem em reunir estas crônicas num livro, forma que apresenta uma dupla vantagem: temporal, uma duração muito maior; e espacial, uma dimensão muito menor, além de um mais fácil manuseio.
Beneficiam-se, assim, os seus inúmeros leitores, podendo relê-las à vontade, percorrendo a variedade e a pertinência dos assuntos selecionados e deliciando-se com os traços de seu estilo e de seu humor, todas essas qualidades que o tornam um senhor cronista. Parabéns para você e, sobretudo, para os seus leitores!
A amiga e colega Renira

ASSIM FALOU ALOYSIO GALVÃO

QUASE PREFÁCIO AO ‘’ LAS’’

O Curso de Latim promovido pela Academia Alagoana de Letras, de início visava levar o aluno a traduzir expressões latinas frequentes na vida cotidiana, tais como ‘’ad hoc’’,’’ad referendum’’,’’alibi’’,’’apud’’, ‘’bis’’, ‘’busilis’’, ‘’déficit’’, ’’fórum’’,’’hoc est’’,’’idem’’, ‘’post scriptum’’, ‘’superavit’’, ‘’et cetera-etc.’’, etc.
Então, não um curso para um mero e tolo decorar de terminações de declinação e conjugação, mas para dominar o vocabulário preciso com o uso correto do léxico latino, e para assenhorear-se suficientemente da morfologia e sintaxe latinas, podendo assim traduzir sentenças e até ler alguma obra mais simples da LITERATURA LATINA, como o ‘’Breviário da História Romana’’ de EUTRÓPIO.
Com o passar dos módulos e períodos, os alunos menos interessados foram desistindo, e resistiram quatro aplicadíssimos, hoje, colegas meus, que, com o domínio da morfologia, sintaxe e vocabulário, alçaram vôo largo, chegando , com desenvoltura, ao estudo dos grandes obras da LITERATURA LATINA, verdadeiros pilares das letras ocidentais.
Assim, já vimos gradativamente, com cuidado e atentos ao vocabulário e às expressões do texto original, as ‘’Sententiae’’ de PUBLILIO SIRO e as ‘’Fabellae’’ de FEDRO. Sempre subindo mais, estudamos a ‘’Eneida’’ de VIRGÍLIO, A ‘’Arte de Amar’’ e ‘’Os Amores’’ de OVÍDIO, as sublimes ‘’Odes’’ de HORÁCIO, e, hoje, estudamos o admirável prosador, pensador e orador MARCO TÚLIO CÍCERO, de quem, após apreciarmos a ‘’Oratio Prima in Catilinam’’, analisando os dotes ímpares de orador e de autêntico promotor ao acusar o senador LÚCIO SERGIO CATILINA de conspirar e trair a República Romana, agora, estudamos a oração ‘’Pro Archia’’, em que CÍCERO defensor brilhante,hoje patrono universal dos advogados, em pleno FORVM ROMANO, comovido e vibrante,defende seu antigo mestre de poética e retórica, acusado de crime contra a cidadania romana.
Caro leitor, este é o LAS, o nosso ‘’Latim aos Sábados’’, onde a Profª Renira L.M Lima, a Empresária e Poetisa Vânia Papini, o Médico Ronald Mendonça e o Advogado Cláudio Vieira, diligentes colegas meus, quatro últimos abencerrages da latinidade, e eu já não fazemos um curso de Latim, mas constituímos e vivemos um Grupo de Altos Estudos Latinos.
Há, também, que ressaltar o marcante estilo do autor, sempre caracterizado por fino humor, dosado de leves ironias e apanhadas palavras ou frases especialmente concisas e precisas.
Aqui, vão meus parabéns aos integrantes do Grupo, e louvores máximos ao Cronista RONALD MENDONÇA que, neste livro – ‘’scripta manent’’- registra indelével a existência do LAS.

A CRÔNICA DO HOMEM COMUM... PARA SEMPRE

ASSIM FALOU DOUTOR IB



PREFÁCIO

"Si parva licet componere magnis", permito-me copiar Virgílio, quando, discorrendo sobre a vida das abelhas, comparou os favos às construções dos cíclopes, se permitiu conceituar as coisas pequenas às grandes. Assim, me situo, da planície dos simples, a me render, sem mérito, a doce imposição de prefaciar um livro, leve como uma pluma, suavemente invasivo do universo provinciano, mas deslizando também, alegremente, nos meandros do cotidiano dos homens e da sociedade, com os atores que se movimentam no palco da vida, deslizando, aqui alegres, constrangidos alguns, outros sofridos ou contrariados, mas todos integrando o mundo inconstante das alegrias, dos confrontos ou das vitórias, no torvelinho da civilização, sempre em mudança, com os homens sucedendo-se e, às vezes, entrechocando-se no afã intérmino de uma luta sem fronteiras, a sorrir, sofrer, sonhar e se possível viver no mundo irisado da beleza e da perfeição, nem sempre atingidas.
Há um século, eminente escritor e sociólogo Oliveira Martins, analisando as raças humanas e a civilização primitiva, assim nos informava: "Civilização quer dizer igualdade. A tribo propaga, e à maneira que cresce diminui a área necessária para a vida: no progresso está a causa da sua transformação em sociedade. As causas naturais e as psicológicas aliam-se, e ao mesmo tempo que como corpo a vaga social se nivela, dá-se no tumultuar espumante das ideias um apaziguamento correlativo. A fixidez da cidade é a fixidez do pensamento; a ordem da civilização e a ordem mental. Na cidade não há pitorescas aventuras, nem vastos horizontes, nem noites dormidas à luz da fogueira na sociedade do banquete, no gozo das mulheres, ouvindo o bardo cantar na harpa as façanhas da guerra. Uma cidade é um órgão, um animal ou um planeta, com o seu funcionar necessário, a sua vida predestinada, o seu pulso fatal. O drama acaba, a poesia cala-se, a fé extingui-se, o herói agoniza: apenas se ouve o sussurro indistinto das vozes humanas, cantando em coros a própria apoteose".
Deste primitivismo espantoso chegamos quase a um novo universo, com os lavores do espírito confundindo-se e contrastando com a brutalidade dos conflitos e confrontos que matam, acutilam, destroem, parecendo, às vezes que estamos a retroagir a uma barbárie nunca imaginada, a contrastar com as conquistas e maravilhas que a mente humana está a cristalizar, permitindo às vezes os encantos das alvoradas magníficas. São os contrastes das conquistas siderais com os confrontos de guerra que matam e destroem homens, cidades e civilizações.
E a sabedoria que a formação superior nos ensina está na suave alienação dos males circundantes, voltando a mente e o espírito para a finura entrevista nos fastos e conquistas do momento presente, semeando beleza, erudição, inteligência, desenvolvimento, associando tudo à finura das análises e dos sábios comentários.
Ronald Mendonça, civilizado, a sonhar sempre com beleza e harmonia, desce do altiplano para se constituir num cronista do cotidiano, fruindo das belezas da civilização e dos acordes magníficos das sinfonias dos períodos encantadores. Anota, com altitude, os episódios múltiplos da vida social da província, invocando deuses e figuras históricas, como ao mesmo tempo, descendo à planície da vida social, ora pela malícia dos perfis, ou, numa volta ao passado, fazendo vir ao proscénio figuras que a história entronizou como marcantes de várias épocas, para a comparação amena com os homens ainda vivos, a se movimentarem no tabuleiro inseguro da vida política e social.
Preocupa-se nos episódios que registra, com a análise da cultura em função do ambiente, descrevendo com segurança os seus personagens e subitamente encaminhando a descrição para uma inopinada conclusão, sutil, alegre, às vezes irreverente, suscitando as mais diversas reações, como encaminhando os espíritos para a reflexão e o encanto do inesperado lavor das conclusões.
O livro de Ronald lembra-nos os caleidoscópios que divertiam os meninos do meu tempo, com as cores sempre mutantes dos cristais coloridos, formando maravilhosas imagens, plenas de encanto e beleza.
Mestre nas epígrafes, desperta atenção do leitor para o conhecimento do conteúdo, revelando sutilezas de espírito que o temperamento álacre e sutil exalta, para alegria dos que o lêem.
É um livro de leve manuseio, de fácil leitura, capaz de encaminhar os espíritos para a suavidade dos temas e das alegorias que retrata. O eminente médico confirma o velho conceito de que não fazem mal as musas aos doutores, representando a dança das ideias a desejável alegria de viver.
• 30/1/2005.

VELHOS JORNAIS

VELHOS JORNAIS

Articulista de limitados recursos, nesses últimos 14 anos tenho me esforçado para escrever algo de aproveitável, que possa ser lido sem muito sacrifício pelos amigos e parentes. Vez ou outra, consulto as edições antigas da Gazeta de Alagoas, faço uma rápida revisão do que escrevi, aproveito e aí dou uma repassada no noticiário da época.
Publiquei as primeiras matérias em 1997/1998 para comentar novas orientações no vestibular da Escola de Ciências Médicas, que mudara o calendário das provas para não coincidir com outras Universidades. A finalidade era clara: falida, a ECMAL resolveu fazer caixa com as taxas de inscrição. O resultado final não poderia ser mais catastrófico para os candidatos da terra, posto que dois terços das vagas foram ocupadas por gente de fora.
Alagoas viveria um dos seus momentos mais delicados que culminaria com a renúncia do governador e a eleição de um outro de esquerda.
Aliás, o esquerdismo estava presente em tudo. O próprio FHC, hoje escorraçado por ex-companheiros de ideologia, era um gauchiste histórico cujo passado o credenciaram a derrotar impiedosamente, duas vezes, o opositor Lula, que apostava no caos para vencer, ferrenho adversário do Plano Real, da CPMF, do Bolsa-Escola (que considerava eleitoreiro, demagógico e o “espelhinho do dominador”) e de tudo o mais que viesse do governo.
No plano moral e ético, a era FHC ficaria marcada por célebres patifarias – compra de votos para reeleição, esquemas de beneficiamentos nas privatizações e outros que tais. Lula soube tirar proveitos e finalmente era eleito. Surpreendendo a todos, colocaria Henrique Meirelles para dirigir as finanças do País, que seguiu as linhas mestras do antecessor, até porque é a especialidade do cara.
Mas a maior jogada de sua gestão foi a ampliação do Bolsa-Escola para Bolsa-Família – o genial programa oficial de compra de votos, disfarçado de humanitário. Sob a égide do execrado Plano Real e o comando de Meirelles, o País atingiu estabilidade econômica, apesar de toda corrupção e das trapaças dos companheiros lideradas por José “Guerrilheiro” Dirceu et caterva.
Os jornais registram que em Alagoas, com Ronaldo Lessa, o funcionalismo voltou a receber em dia. Problemas sistêmicos, a Saúde (o SUS), a Educação e a Segurança foram cambaleantes, chegando a um nível de impressionante degradação. Nunca se fugiu tanto do Baldomero como naquela época.
Desgastado ao final dos oito anos de mandato, a derrota de Lessa para o Senado quis parecer uma espécie de castigo também pelas eloqüentes evidências de enriquecimento anormal de vários de seus auxiliares diretos.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

EGRÉGIOS CONVERTIDOS



Embora sem participar ativamente do catolicismo, acompanho com pesar a decomposição moral de alguns dos seus membros, cujas condutas repugnam e condoem. Exposto em vídeo à exaustão, ainda que bastante vigoroso nas suas “chaves de perna” para um octogenário, o hilário e grotesco ato sexual do monsenhor de Arapiraca é visto com nojo, compaixão e vergonha.
Mas a obreira Arapiraca não é exceção. Por conta de milhares de casos semelhantes espalhados no mundo inteiro, onde escândalos de violação do celibato através de hetero/homossexualidade e pedofilia, tornaram-se o prato do dia da imprensa em geral e “tour de force” do noticiário dos “bispos” de certa rede de TV brasileira.
A coisa anda de tal sorte desmoralizada que hoje alguns setores da cúria torcem para que apareçam religiosos com mulheres e filhos. Pelo menos alivia o pesado fardo da pederastia, sobretudo pela suspeita da cumplicidade, do acobertamento dos príncipes de Roma. Nesse aspecto, o bispo Lugo, o garanhão do Paraguai, com seu rosário de mulheres e filhos, é visto com muita simpatia, de alguma forma simbolizando a face máscula do clero, tão conspurcada ultimamente.
Grande Igreja Católica de Maria Madalena a lavar com lágrimas e ungüentos os pés cansados de Jesus e depois enxugá-los com os próprios cabelos. Personagem ímpar de pecadora redimida que inspiraria a parábola da maior gratidão: daquele por dever 50 ou do outro por dever 500.
Igreja do apóstolo Paulo, perseguidor de cristãos, que se viu sem enxergar ofuscado pela descarga de luz divina antes de abraçar o cristianismo e tornar-se, junto com Pedro, um dos principais difusores da nova religião.
Igreja de Santo Agostinho, mestre da oratória, que não obstante as preces de sua santa mãezinha Mônica permaneceu no pecado, até embevecer-se pela retórica do grande bispo Ambrósio.
Nesse rol de egrégios convertidos não poderia faltar Dimas, um dos companheiros de Jesus no Calvário, o “bom ladrão”, que teve seus pecados perdoados e certamente encontrou o Pai junto com o Filho.
Por falar nisso, há poucos dias em Fortaleza, a infinita bondade do Pai reconciliou a candidata Dilma Roussef (outra nova cristã ilustre?) com a Igreja de Pedro. Foi uma coisa maravilhosa. De um lado a cruz que simboliza 2000 anos de história, do outro a medonha guerrilheira cujos símbolos são a foice, o martelo e a metralhadora. De um lado, a doçura de Maria, do outro, o mau humor, o autoritarismo, a arrogância. Só Deus salva.

CARLITO LIMA E O FESTIVAL DE MARECHAL DEODORO


segunda-feira, 12 de abril de 2010

AUTORES CONFIRMADOS NA 1ª FESTA LITERÁRIA DE MARECHAL DEODORO
RONALD MENDONÇA - Médico, neuro-cirurgião, homem dos mais distintos e honestos de nossa cidade, ainda encontra tempo para escrever. Tem uma coluna aos sábados na Gazeta de Alagoas, segundo informação extra-oficial, é a crônica mais lida do fim-de-semana. Tem um estilo forte, vigoroso, irônico, sem medo de ser patrulhado pela direita e principalmente pelas esquerdas. Seus personagens são gente do povo e figurão da República da vez. Os escritos de Ronald tem muita riqueza e simplicidade, alcança também as classes "c" e "d" . Depois de muita insistência dos amigos, ele lançará um livro agora, e mais dois outros na Festa Literária de Marechal Deodoro. Quem vai ganhar com tudo isso é a população que terá acesso às suas crônicas antigas. Feliz de uma cidade onde existe um Ronald, um cidadão que não tem medo da verdade. Durante a FESTA LITERÁRIA, os alunos e convidados terão o privilégio de ouvir Ronald Mendonça, falando sobre literatura e sua própria obra.

A arte da cidadania


Segundo o Dicionário Aurélio, cidadão seria “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”. Ainda pela mesma fonte, cidadania “é qualidade ou estado de cidadão: cidadania brasileira”. No fim – como diria o gênio do direito Tarso Genro – cidadania é antes de tudo um conceito, certamente um processo.

Visitei o “pai dos burros” impelido por didático texto do jornalista Joaldo Cavalcante publicado recentemente na Gazeta de Alagoas, discorrendo sobre história de “resgate de cidadania” de uma senhora a partir de um empréstimo bancário. Em síntese, tratava-se de uma pessoa carente que apelou para um estabelecimento bancário “dos sonhos”, em que o lucro não é o objetivo. Depois de algumas cabeçadas, a cliente teria comprado uma porca grávida de 15 filhotes que ao nascerem lhe teriam rendido grana suficiente para reinvestir e ingressar no seleto grupo dos criadores de cavalos de raça.

É um relato impressionante. Primeiro, pela existência de um banco que não pratica a usura, pilar do capitalismo. Depois, o tino comercial da mulher, que nem a “mão invisível” de Smith explicaria. Poucos casos assim existem no mundo: Bill Gates, Steve Jobs, Lulinha Júnior... Finalmente, teço loas ao capitalismo que permite que o sujeito alce voo da mais profunda miséria e em curto espaço de tempo atinja invejável patamar na pirâmide do empresariado.

O melhor de tudo é que este modus operandi, segundo o articulista, já melhorou a vida de milhares de conterrâneos. Ou seja, com o Bolsa Família e os empréstimos sem juros, os alagoanos estariam chorando de bucho cheio.

Mas a verdade, na prática, as coisas ainda não são bem assim. Preocupadas com a miséria vigente, com injusta e perversa desigualdade social, “quando ricos estão cada mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, faculdades de medicina apostam suas fichas no discurso político-social, e, em detrimento do ensino da arte de Hipócrates, preferem priorizar a “cidadania” como seu principal objetivo educacional. Faz parte da nobre intenção levar os alunos aos ambientes mais sórdidos, posto que muitos daqueles não passam de súcias de pequenos-burgueses que nunca ouviram falar que no País existia desigualdade social, miséria e fome. É a famosa partidarização do ensino. Medicina que é bom, desde que se saiba como o SUS (não) funciona, ficaria para depois. Afinal de contas, de que vale um diploma de médico se o cara não é um bom militante do PT?

domingo, 4 de abril de 2010

ASSIM FALOU CLÁUDIO VIEIRA


Às vésperas de lançar Latim aos Sábados, coletânea de crônicas publicadas na Gazeta de Alagoas, tenho o privilégio de ter como apresentador, além dos meus colegas de curso (Renira Lima, Vânia Papini e Cláudio Vieira), ninguém menos que o próprio mestre Aloysio Galvão. Hoje publico o que Cláudio escreveu:
"Há alguns anos, a Academia Alagoana de Letras entendeu criar um Curso de Latim, sob o comando do Acadêmico e Professor Aloysio Galvão. Encerradas as atividades do curso, quatro amantes da língua do LácioRenira Lisboa de Moura Lima, Vânia Papini. Ronald Mendonça e eu – provocamos o Mestre a continuarmos com os nossos encontros aos sábados. Assim, surgiu o Latim aos Sábados, ou LAS, como Renira o apelidou com intimidade criadora.
Pontes de Miranda, em seu À Margem do Direito, revelou-nos observação de Esquirol, segundo a qual “o homem é uma máquina nervosa, governada por um temperamento, escrava das alucinações, tendo a sensibilidade como virtude”.
Ronald Mendonça é essa máquina nervosa na sua calma inquietude intelectual, temperamento humanista e, também, escravo dos seus sonhos, revelados semanalmente em crônicas virtuosas. A ele, o benjamim do grupo e latinista, coube registrar para a História a existência do LAS. E o fez com estilo de fina pena em uma de suas preciosas crônicas, dentre tantas que publicou e, agora, nos oferece em livro.
Como nos ensinou Aloysio: Salutem Plurimam dicamos tibi, Ronaldo".

UM BISPO IMORTAL


Sociedade cultural médica, a Sobrames Alagoas (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores) acaba de comemorar seus 33 anos. José Medeiros, seu criativo e incansável presidente, não poderia ter escolhido local mais adequado para a data: a Casa da Palavra. Com efeito, o casarão da Ladeira do Brito engalanou-se para abrigar centenas de convidados – crème de la crème, como diriam os cronistas sociais – da intelectualidade alagoana.
Criada em 19 de março de 1977, a Sobrames Alagoas vive momento de pujança, podendo já celebrar no seu glorioso histórico a realização de dois congressos nacionais e o prestígio de estar entre as mais ativas dentre tantas Brasil afora.
Ponto alto da cerimônia, Ricardo Nogueira, o irrequieto presidente da Casa da Palavra, brindou-nos com uma palestra sobre “Qualidade de Vida”. Reproduzo algumas das suas orientações no quesito alimentação: em princípio nada está proibido, desde que ingerido com moderação, e enumera três itens fundamentais: 1) Um café saudável com sucos e frutas; 2) Dividir o prato do almoço com um amigo; 3) Enviar o jantar para o pior inimigo.
Em meio aos festejos, uma lembrança triste pairava persistente: a recente morte do grande alagoano Fernando Iório Rodrigues.Dom Fernando, bispo emérito de Palmeira dos Índios e presidente da Academia Alagoana de Letras, faleceu no final da semana passada, abrindo um vácuo enorme no clero, nos meios intelectuais e nos corações de legiões de fiéis, amigos e admiradores. Acima de tudo, dom Iório era um homem de inquebrantável fé.
Tive oportunidade, aproveitando providencial “quebra de protocolo” do colega Geraldo Vergetti, de expor algumas virtudes do pranteado pároco de Bebedouro e meu ex-confessor. Conheci – eu garoto – o padre Fernando jovem, revolucionário, preocupado em dinamizar a paróquia. Criador de Cruzada Eucarística, Congregação Mariana, Filhas de Maria, não esqueço sua voz abaritonada ressoando em homílias e hinos, em missas ou comandando procissões pelas ruas do bairro.
Seu raio de ação compreendia respeito e estímulo aos folguedos populares presentes no Natal, festas juninas e do padroeiro, sendo comparado – mutatis mutandis – ao lendário major Bonifácio Silveira.
Obcecado pelo ensino, em Bebedouro criaria o Ginásio Santo Antonio, ousada iniciativa que prestaria inestimável serviço à comunidade. Bispo de Palmeira, mais maduro, levaria um Campus Universitário. Nesse aspecto, seu legado ombreia-se ao dos melhores educadores do Estado. (*) É médico e professor da Ufal.