domingo, 22 de agosto de 2010

AI DOS VENCIDOS

Roma ainda não havia encontrado o seu apogeu quando foi invadida e subjugada por um grupo de guerreiros liderados por Breno. A ele atribui-se a célebre frase “Vae victis” (Ai dos vencidos) que, atravessando milênios virou regra, e ainda hoje é aplicada. Até o grande Cesar, quatro séculos depois, ao impor seu poderio costumava repeti-la diante de submissos derrotados.
Relembrei a glória gaulesa ao sabor do noticiário que propala punições ao fraco time da Coréia do Norte, humilhada na última Copa do Mundo, dentre outros previsíveis insucessos, por inusual escore de 7 x 0 diante da medíocre seleção portuguesa.
Deve ter sido horrível para o orgulho nacional. Sim, porque os dirigentes coreanos, entusiasmados com a estréia do time e o placar de 2 x 1 diante do Brasil, abriram uma exceção e liberaram o jogo, justo na impiedosa derrota para Portugal.
O fato é que a imprensa (burguesa, hegemônica, golpista e reacionária?) espalhou aos quatro cantos que o técnico da Coréia do Norte foi afastado da equipe e punido com trabalhos “forçados” na construção civil, enquanto o time teria participado de uma sessão de tortura oral, de pé durante seis horas, enquanto quatrocentos “camaradas” deitavam esporros e lições de moral.
Exageros à parte, quero acreditar que o citado técnico é um operário da construção civil. É possível que tenha assumido a função no selecionado por demonstrar pendores que iam além da colher e do fio de prumo. Tal como ocorreu com o nosso Dunga, e com centenas de técnicos de futebol espalhados no mundo inteiro, foi defenestrado do cargo e voltou ao batente do tijolo, da areia e do cimento.
Na verdade, isso deveria acontecer na política. Os sujeitos ao se afastarem de cargos eletivos (ou de secretários de estado, ministros etc) deveriam voltar às funções anteriores. Por que não voltam? Podres de ricos, não precisam mais melar as mãos na massa. O Lula, por exemplo (“um operário no poder”), o que o impede de voltar às suas funções originais?
Mas o “Ai dos vencidos” tem a sua versão alagoana. Na adolescência, defendendo o Bebedourense, participei de jogos em campos de usina, no interior do estado. Numa dessas vezes, encaramos um time cujo técnico (e juiz da partida) era o usineiro, famoso pelos proverbiais maus bofes. Por infelicidade, o time da casa acabou derrotado.
Mal o jogo terminou, ouviu-se a voz trovejante: “Vocês não têm vergonha de perder para um time safado desse? Vão passar seis meses sem jogar”.


14/08/2010

A ESQUERDA DE HOJE E A DIREITA DE ONTEM

Segundo os dados de institutos de pesquisa, Serra está como naquele provérbio: “Água de morro abaixo, fogo de morro acima, quando o povo quer... De fato, as intenções de voto no homem estão murchando, na proporção contrária às da sacola cheia de dona Dilma. A continuar assim, e se dermos crédito aos números revelados, será uma derrota humilhante.
Jogando pesado, com o crédito de uma consagração popular quase unânime, Lula está conseguindo, até agora, ao emplacar uma ilustre desconhecida, tocar com êxito seu projeto de continuidade no cargo. Alvo de inabalável crença mística, tudo indica que os eleitores estão certos da permanência do ex-metalúrgico no cargo. Talvez seja um caso de alucinação coletiva: as pessoas olham para a carranca da candidata e veem a figura sorridente do Lula. Por isso, não estão nem aí por tudo que aconteceu de escabroso, nesse país, nos últimos sete anos.
Mas a disputa, esse ano - sem levar em conta a interferência massacrante do presidente e o uso indiscriminado da máquina federal em prol de uma candidatura distingue-se pela presença maciça de postulantes ditos “de esquerda”.
(Pessoalmente, quando vejo o afrontoso lucro dos banqueiros, tenho dificuldades em situar José Serra, Dilma Roussef e Marina Silva. É que um país que precisa usar o artifício de bolsas-famílias para ¼ da população, a convivência pacífica desses candidatos com essa categoria privilegiada, não deixa de ser um paradoxo.)
Mas vamos admitir que eles sejam de esquerda. Extraiam-se o Eymael (“Ei, ei, Mael”) e o Levy Fidélix (PRTB), aparentemente menos preocupados em mudar a forma de governo. Os outros quatro: Rui Pimenta (PCO), Zé Maria (PSTU), Plínio Sampaio (PSOL) e Ivan Pinheiro (PCB), fracos de voto, sonham com a instalação de ditaduras comunistas, no melhor estilo stalinista. Ao todo, são sete “esquerdistas”.
A grande verdade é que, boa parte dessas pregações, beira o folclore. Lembro de antigas candidaturas nos anos cinqüenta e sessenta do século passado: Plínio Salgado e Ademar de Barros. Salgado encarnava o “anti”. Anticomunista, anti-anarquista, antifascista. Católico piedoso, criador do Partido Integralista (por conta de singular uniforme, seus membros eram chamados de “galinhas verdes”), ainda conseguia emplacar 8% do eleitorado.
Doutor Ademar era um político paroquial. Médico, empresário e grande namorador, eterno candidato a presidente, tinha como um dos lemas: “Dessa vez, vamos”. Seus inimigos atribuíam-lhe outro: “Rouba, mas faz”.
O tempo passou. Somente Ademar, às vezes, é relembrado, sobretudo depois que veio à tona que o cofre da casa da amante, Ana Benchimol, teria sido surrupiado pela “guerrilheira” Estela, hoje mais conhecida como Dilma Rousseff.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Lula bom coracao

Lula que chora (de brincadeirinha), que finge ser aquele cara que se emociona com o sofrimento da humanidade, revelou-se por inteiro em duas oportunidades distintas, mas com um ponto de união cumum: a babárie nas terras dos seus aliados. Primeiro foi em Cuba ao comparar os dissidentes políticos daquele país aos bandidos comuns de S. Paulo; mais recentemente, enquanto fingia emoção com o iminente trágico destino da adúltera iraniana, cantarolaria "Atire a primeira pedra, ai, ai, aquele que não sofreu por amor". 'E o Lula enganando a muitos, mas nao a todos.

Hipocondria

O candidato do PSOL quiz fazer uma gra'ca com O Serra ao chama-lo de " Hipocondr'iaco", como se termo definisse um defeito de car'ater e nao uma doen'ca Psiquiatrica. O tiro saiu pela culatra. Sampaio Arruda exp^os todo o seu preconceito. Daqui a pouco vai lan'car d'uvidas e fazer chacota da sexualidade amb'igua de outros candidatos, repetindo o que fez Marta Suplicy com o Kassab. Perdeu uma boa oportunidade de ficar calado, seu Arruda.

Noite de autógrafos do livro Latim aos Sábados


domingo, 8 de agosto de 2010

DEVERES E DIREITOS

Admito sem acanhamento ou empáfia que a minha autoestima recebeu esta semana uma nova injeção. Nada a ver com o coquetel de lançamento do meu livro de crônicas Latim aos Sábados, no espaço Memorial à República, cuja seleta frequência foi muito além do que poderiam imaginar as fantasias mais otimistas. Com efeito, a presença de fatias representativas da comunidade revelam, sobretudo, a impagável indulgência dos colegas, amigos e leitores. Mas falava de autoestima e queria me referir a uma correspondência enviada, através da internet, pela Secretaria Municipal de Finanças da Prefeitura de Maceió. Nela, o órgão lembrava o vencimento de parcela de “Taxa de Licença (TLFLIF)” (existe isso?) no fim do mês de agosto. O documento pede para não esquecer do compromisso, sob pena de multas e outras sanções de relevo.Sem ignorar que moramos no “País dos impostos”, não nego o orgulho pessoal ao ser objeto dos cuidados municipais. Sim, porque também sou alvo dos mimos dos federais, através do pagamento do imposto de renda (órgão bisbilhoteiro e partidário) e de outros menos suculentos, como o polêmico “Imposto de Marinha”, taxa que “premia” terrenos distantes 100 metros da maior maré de 1813. Naturalmente, que é mais um a engordar a lista de dezenas que fazem a alegria de governantes, políticos, apaniguados e outros que tais, que vivem às custas de impostos.
Calcula-se que dedicamos cinco meses de trabalho por ano, somente para pagar impostos. Ninguém neste País ignora o exato destino desses tributos. Está aí a campanha nas ruas. Agora mesmo, escuto persistentes cantorias de carros de som que, incansáveis, bradam as qualidades dos candidatos. Não tenho dúvidas de que o meu suado dinheirinho está financiando parte dessas propaladas virtudes.
Voltemos à Prefeitura de Maceió. Quão gentil foi o órgão ao lembrar que já em setembro estaria na cola dos recalcitrantes que declinaram do dever cívico de pagar a sua quota e assim receber os bons serviços que a municipalidade presta: transporte público de qualidade, trânsito organizado, ruas e praças limpas, saúde e educação nos trinques, segurança e tranquilidade nas ruas para todos.
O chato dessa questão é que a Prefeitura de Maceió abdica de seus deveres na hora de cumprir suas obrigações. A Secretaria da Saúde do Município, por exemplo, deve há mais de um ano a médicos e hospitais sem que demonstre a mínima intenção de honrar os compromissos. Juros e correção, nem pensar.

"Latim aos sábados"

Murilo Gameleira
Publicado por Redação de O Jornal em 07/08/2010 as 11:22Arquivado em Opinião
Troquei um deleite por outro.
Interrompi a leitura das “Melhores crônicas” de Affonso Romano de Sant’Anna, selecionadas por Letícia Malard, professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG; e abri, e em dois tempos devorei, os escritos que Ronald Mendonça publicou em jornal no decorrer de 2007, agora reunidos em livro. Batiza a coletânea o título da crônica “Latim aos sábados”.
Pesaram na troca os laços de estima que nos aproximam, mas sobretudo a ansiedade por revisitar a qualidade dos textos do Mestre — assim afetuosamente trato o autor conterrâneo. Da incursão, concluo: escrevesse em uma folha circulante em todo o país, estivesse em um grande centro, Ronald há muito teria atingido dimensão nacional como escritor.
A Medicina correria o risco de perder o neurocirurgião; é seguro que Ronald logo alcançaria o reconhecimento a que faz jus como autor, e se animaria a retirar do fundo do baú os contos que nega mas tenho por certo que escreveu, antes e depois de “Águas Rubras”. Daí para deitar no papel o romance que o meu sexto sentido diz borbulhar em sua cabeça, seria um passo.
A província é ingrata. Para excedê-la intelectualmente, é preciso ultrapassar seus limites geográficos, distanciar-se das raízes.
Não é o que aconteceu aos nossos Graciliano, Aurélio, Jorge de Lima, Arthur Ramos? Não é o que ocorre Brasil afora? Vejam-se os exemplos de tantos outros de outras plagas. Para chegarem à glória, largaram os berços em que nasceram.
Há, inclusive, o caso extremo de João Ubaldo Ribeiro. Ubaldo saiu da Bahia, em vão peregrinou no eixo Rio-São Paulo, não conseguiu editor para “Sargento Getúlio”, sua criação de estreia. Foi à luta. Traduziu o texto, ele próprio, do nordestinês para o inglês, encontrou um lugar ao sol nos Estados Unidos. O livro obteve êxito lá, e só então o autor foi “descoberto” e a obra publicada aqui.
São muito raras as exceções. De pronto, ocorre-me o nome dos Veríssimo, Érico e o filho Luiz Fernando. O primeiro, no romance; o segundo, na crônica.
Pode-se arguir que Adélia Prado não saiu de Divinópolis, Manoel de Barros continua nos marcos matogrossenses e Raduan Nassar permanece enfurnado no interior de São Paulo. Mas cabe perguntar: eles não teriam alcançado projeção intelectual bem maior se tivessem se transferido para os centros formadores de opinião?
Voltando a “Latim…”. Se fosse chamado a julgá-lo, e para não se dizer que só vi os lírios do campo, fecharia os olhos aos cochilos do revisor e da gráfica.
E ao texto do Mestre daria a nota máxima.
Sobre o autor:
Murilo Gameleira Vaz é

Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas "Latim aos sábados"

Artigo de Juarez Miguel publicado em O Jornal de 06/08/2010
Convidado pelo diletante autor, o nosso querido Ronald Mendonça, para assistir ao lançamento de seu primeiro livro “Latim aos Sábados”, não me surpreendi em ver a seleta e expressiva afluência de pessoas que dignificam os mais diversos segmentos da sociedade alagoana. Presentes àquela memorável noite de autógrafo estavam seus familiares, médicos, escritores, advogados e profissionais dos mais variegados ramos, cujas personalidades, afetivamente, prestigiaram o evento cultural protagonizado pelo aspirante à imortalidade da Academia Alagoana de Letras. Certamente, no tempo propício, o colegiado do casarão das letras da Praça Deodoro referendará os seus atributos intelectuais. E aí, sim, haverá de alçá-lo à galeria dos imortais (das letras).
Nesse sentir, impulsionado pelo coração – sede das afeições humanas – li, com detida atenção, os sinérgicos relatos dos mais recorrentes e cruciais temas que, não raras vezes, degradam os ontológicos e sagrados valores da sociedade atual. Traduzidos em crônicas, refletem com boa dosagem de ironia e indignação o estereotipado estilo de crítico semanal.
Sobressaindo-se como renomado neurocirurgião, professor da Ufal e formulador do moderno ato e técnica médicos em prol dos pacientes, porta sólida formação humanística (nenhum paradoxo em relação às letras). Com fecundo labor literário e nas diminutas horas de lazer, segue o futuro acadêmico escrevendo sobre as mais hilariantes, dantescas e cruéis situações que envolvem a realidade cotidiana apontando para o homem como epicentro da corrupção disseminada nas instituições, contracenando como ator das injustiças e doutros desvios éticos. Com sensibilidade social entranhada na alma, formula os irrepreensíveis conceitos pertinentes aos deploráveis “modus vivendi e operandi” do ser humano. Fazê-lo é um imperativo dos que clamam pela plenitude do valor justiça que é co-irmã da paz e bradam aos céus, suplicando um viver harmônico, pacificamente, ausente das indesejáveis e incuráveis sequelas dos satanizadores do mal. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça!
Contudo, para que haja justiça, impõe-se que a criatura humana aja em obediência às prescrições delineadas pela providência divina.
A exemplo de Jesus, em seus mendoncianos artigos, Ronald e os que assim agem revelam ira santa. Nesse sábio cenário, ele deve evoluir na defesa da humanidade desprotegida.
Cícero, o grande filósofo, proclamava: “A ciência dá-nos o conhecimento, mas somente a filosofia nos pode conferir a sabedoria”.
Fiéis aos ensinamentos do absoluto em quaisquer das vicissitudes da vida, o indelével peso das grandes pedras que Ronald e Nadja alçam, há de edificar o monumental e sagrado edifício preparado para ambos junto aos ausentes sempre presentes primogênitos.
Nisto Deus há de transcendê-los para o acessível tesouro dos bons. Naquele belíssimo estado, os ladrões não furtam e tampouco as traças roem o que é precioso. Se por algo a alma dói – eu sei e me compadeço da intensidade da dor – a cura vem sendo ministrada pelo médico dos médicos.
Quanto à querida Nadja, mulher-síntese, enquanto gênero humano da melhor espécie, é altiva em conciliar sua profissão de médica psiquiatra com a divina missão de esposa, mãe e avó, cujo amor é sempre permanente na alegria ou na adversidade dos familiares e amigos.
Diletos Ronald e Nadja, impregnados de humanismo adiram à filosofia kantiana porque trata o homem como um fim e, se possível, procurem lenir o sofrimento dos excluídos. Imortalizem o bem na materializada e enferma sociedade!
Juarez Miguel é advogado

Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas "Latim aos sábados


Ronald Mendonça e suas primogênitas crônicas “Latim aos Sábados” – Juarez Miguel
Publicado por Redação em 06/08/2010 as 08:10Arquivado em Opinião
Convidado pelo diletante autor, o nosso querido Ronald Mendonça, para assistir ao lançamento de seu primeiro livro “Latim aos Sábados”, não me surpreendi em ver a seleta e expressiva afluência de pessoas que dignificam os mais diversos segmentos da sociedade alagoana. Presentes àquela memorável noite de autógrafo estavam seus familiares, médicos, escritores, advogados e profissionais dos mais variegados ramos, cujas personalidades, afetivamente, prestigiaram o evento cultural protagonizado pelo aspirante à imortalidade da Academia Alagoana de Letras. Certamente, no tempo propício, o colegiado do casarão das letras da Praça Deodoro referendará os seus atributos intelectuais. E aí, sim, haverá de alçá-lo à galeria dos imortais (das letras).
Nesse sentir, impulsionado pelo coração – sede das afeições humanas – li, com detida atenção, os sinérgicos relatos dos mais recorrentes e cruciais temas que, não raras vezes, degradam os ontológicos e sagrados valores da sociedade atual. Traduzidos em crônicas, refletem com boa dosagem de ironia e indignação o estereotipado estilo de crítico semanal.
Sobressaindo-se como renomado neurocirurgião, professor da Ufal e formulador do moderno ato e técnica médicos em prol dos pacientes, porta sólida formação humanística (nenhum paradoxo em relação às letras). Com fecundo labor literário e nas diminutas horas de lazer, segue o futuro acadêmico escrevendo sobre as mais hilariantes, dantescas e cruéis situações que envolvem a realidade cotidiana apontando para o homem como epicentro da corrupção disseminada nas instituições, contracenando como ator das injustiças e doutros desvios éticos. Com sensibilidade social entranhada na alma, formula os irrepreensíveis conceitos pertinentes aos deploráveis “modus vivendi e operandi” do ser humano. Fazê-lo é um imperativo dos que clamam pela plenitude do valor justiça que é co-irmã da paz e bradam aos céus, suplicando um viver harmônico, pacificamente, ausente das indesejáveis e incuráveis sequelas dos satanizadores do mal. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça!
Contudo, para que haja justiça, impõe-se que a criatura humana aja em obediência às prescrições delineadas pela providência divina.
A exemplo de Jesus, em seus mendoncianos artigos, Ronald e os que assim agem revelam ira santa. Nesse sábio cenário, ele deve evoluir na defesa da humanidade desprotegida.
Cícero, o grande filósofo, proclamava: “A ciência dá-nos o conhecimento, mas somente a filosofia nos pode conferir a sabedoria”.
Fiéis aos ensinamentos do absoluto em quaisquer das vicissitudes da vida, o indelével peso das grandes pedras que Ronald e Nadja alçam, há de edificar o monumental e sagrado edifício preparado para ambos junto aos ausentes sempre presentes primogênitos.
Nisto Deus há de transcendê-los para o acessível tesouro dos bons. Naquele belíssimo estado, os ladrões não furtam e tampouco as traças roem o que é precioso. Se por algo a alma dói – eu sei e me compadeço da intensidade da dor – a cura vem sendo ministrada pelo médico dos médicos.
Quanto à querida Nadja, mulher-síntese, enquanto gênero humano da melhor espécie, é altiva em conciliar sua profissão de médica psiquiatra com a divina missão de esposa, mãe e avó, cujo amor é sempre permanente na alegria ou na adversidade dos familiares e amigos.
Diletos Ronald e Nadja, impregnados de humanismo adiram à filosofia kantiana porque trata o homem como um fim e, se possível, procurem lenir o sofrimento dos excluídos. Imortalizem o bem na materializada e enferma sociedade!
Juarez Miguel é advogado

domingo, 1 de agosto de 2010

MÁS COMPANHIAS

Próximo a completar quatro decênios de atividade médica, tenho colecionado muitas histórias tristes. De tantas, as que mexem mais com os meus sentimentos são aquelas de envolvimento de jovens com drogas.Embora fora da minha área de atuação, o fato de pertencer ao quadro clínico de um hospital psiquiátrico faz com que me defronte com essa maldição com uma frequência assustadora. Tenho encontrado famílias aniquiladas, pais impotentes, ao lado de pacientes desesperadamente irrecuperáveis. O choque é maior nos casos em que conheci aquele usuário na infância.Ainda que estudiosos identifiquem desajustes familiares como uma das principais causas, é comum que os pais assinalem o início dos males às “más companhias”, com as quais os filhos teriam desandado, teriam feito uma espécie de curso preparatório até mergulhar de cabeça no inferno das “viagens”. Com o tempo, aquele menino bom transforma-se, ele próprio, na “má companhia” que os outros pais rotulam e abominam. É um elo maldito.
A completa dependência costuma transformar pacatos adolescentes em ousados delinquentes. Tendo como pano de fundo a ameaçadora onipresença do traficante, não existe barreira moral ou ética para a obtenção dos bagulhos, das pedrinhas, do pó, do pico. Como numa hecatombe, as residências vão se despindo de objetos valiosos. Das joias a botijões de gás, negociados a preço de banana. Na sanha destruidora, nem velhos calçados escapam (“Há sempre um chinelo velho para um pé doente”). No fim, sobram as quinquilharias que o traficante rejeita. Participação em roubos e assassinatos completa o quadro desolador. A morte precoce os espreita.Problema policial, político e de saúde pública, diria até de segurança nacional, nem Lula ou qualquer outro dirigente tiveram peito de encarar esse desafio. Agora, com a campanha para a sucessão presidencial na rua, creio ter chegado um excelente momento para discutir a questão. Revela-se estéril a insistência em comparar Lula X FHC, pelo simples fato de nenhum dos dois ser candidato.Infelizmente, as perigosas ligações do PT com as Farc (narcoguerrilheiros colombianos) certamente irão inibir as discussões. É voz corrente que a credibilidade das Farc no país de origem é baixa justamente pela conjunção promíscua com os traficantes.
Entre nós, se uma das partes insistir em classificar o tema das drogas como “baixarias da oposição”, teremos perdido uma excelente oportunidade de tentar controlar esse câncer social.

ABRAÃO, SODOMA E GOMORRA

Humilhada na Copa do Mundo com acachapante derrota de 4 x 0, a Argentina deu a volta por cima e conseguiu legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Foi uma vitória espetacular e inédita no continente, em que o país de Maradona deu uma goleada no preconceito. Comemorada por milhões de pessoas do mundo inteiro, aqui mesmo entre nós, vários colegas médicos e professores perderam a timidez e passaram a mostrar aquele ar triunfante, tipo: “Estamos já chegando lá”. O fato se torna mais impressionante pelo detalhe de o homossexualismo ainda ser visto com restrições, mesmo em países do “primeiro mundo”. Com efeito, é comum a violência patrocinada pelo Estado, como no caso das Repúblicas teocráticas islâmicas, que tem no Irã dos Aiatolás sua expressão mais bem esculpida. A crença em poder acabar com o homossexualismo na chibata leva o alucinado dirigente Ahmadinejad a anunciar a ausência de homossexuais no Irã.O tema é mesmo polêmico. Enquetes revelam que entre pessoas comuns há resistências em aceitar a legalização da união, enquanto um aplauso maciço, diria incondicional, vem do meio artístico. Nessa profissão, aliás, há cada vez mais gente “saindo do armário” e admitindo sua condição, sem temer eventual perda de prestígio.Entre nossos políticos, lamentavelmente, expor sua posição ainda não se tornou habitual. Seria bem mais saudável que candidatos a postos eletivos tivessem a naturalidade em explicar como lidam com sua sexualidade. Ao contrário, preferem exibir-se ambíguos, como irresistíveis garanhões e/ou lobas insaciáveis. Não obstante, a convicção, hoje, é de que nosso País alcançou a maturidade para ter um presidente gay.A abordagem atual é por conta de texto na Gazeta de Alagoas desta semana sobre Deus e Abraão, versando sobre os diálogos que antecederam a destruição de Sodoma e Gomorra. É crença bíblica que essas cidades teriam sido detonadas por Deus pelas “iniquidades” (leia-se, homossexualismo) praticadas por seus habitantes. Afora a exegese que afirma “enamoramento” de Abraão por Deus, o frívolo “diálogo” entre os dois enquanto se decidia a morte de milhares de pessoas – crianças inclusive – é um desafio ao bom senso.Admitindo a verossimilhança da narrativa bíblica, não restam dúvidas de que a destruição de Sodoma e Gomorra é um dos maiores marcos da intolerância sexual. Além de não acabar com o homossexualismo no mundo, tornou-se o símbolo definitivo do preconceito divino.