domingo, 2 de novembro de 2014

O AZUL É A COR MAIS QUENTE


(Texto censurado pela editoria da Gazeta de Alagoas - sem qualquer explicação).


O TSE, sob a presidência do honrado ministro Dias Toffoli, um dos mais competentes juízes da Suprema Corte (além de uma imparcialidade de fazer inveja à deusa da Justiça), decidiu criar regras para esse segundo turno.
Ainda que carregue no seu esquálido currículo vários anos de advocacia em prol do não menos honrado Partido dos Trabalhadores (e uma reprovação em concurso público para juiz), Sua Excelência teve o cuidado de tentar proteger a vida privada dos candidatos, poupando-os de  insultos pessoais, muitas vezes caluniosos.
As opções sexuais, por exemplo, têm sido, segundo consta, uma das maiores preocupações do jovem e honrado ministro. Não há de se crer que ele tenha tentado esconder alguém dentro de armários. Penso haver até um certo exagero na postura ministerial. É que evoluímos tanto com o bolsa família que o País parece estar suficientemente maduro para aceitar, sem problemas, que o candidato de sua escolha tenha preferências por pessoas do mesmo gênero.
A propósito de opções sexuais, o Festival de Cinema de Cannes, em 2013, premiou o polêmico O azul é a cor mais quente, que aborda justamente esse tema. Ignoro o porquê desse filme não ter tido grande repercussão no Brasil, sobretudo em Alagoas. A sala de cinema que o Sesi mantém o exibiu algumas vezes, ainda assim não “decolou”.
O enredo foca o relacionamento de uma jovem de 15 anos, Adéle, com Emma, uma universitária com madeixas azuladas, estudante de Belas Artes. Mesmo na evoluída Paris, a ginasiana sofreria discriminação grosseira no próprio ambiente escolar. Ao mesmo tempo em que tórridas cenas são expostas em detalhes (e bote tórridas nisso), há uma preocupação de mostrar as diferenças sociais e os anseios da sociedade.
As atrizes, muito bonitas, por sinal, entregam-se completamente. Em pelo menos três oportunidades, a intensidade das trocas amorosas tirariam o fôlego até de Santo Agostinho. Segundo as atrizes, as pessoas dão muito importância a essas vulcânicas cenas (impossível ignorá-las) e deixam de analisar outros aspectos, muitas vezes mais profundos e instigantes.
Não sei exatamente qual a “moral” que o filme encerra. Aliás, dispenso-me esmiuçar se obras de arte, produções literárias e outras expressões da inteligência têm, necessariamente (como as fábulas), de transmitir algo moralista. Ao contar uma boa história, o filme cumpriu maravilhosamente o seu papel.

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