domingo, 22 de abril de 2018

MEMÓRIAS: SÃO PAULO E EU



MEMÓRIAS, SÃO PAULO E EU
Seria presunçoso se dissesse que nasci para ser médico. Mas vou dizer. Não vou repetir exatamente o poeta que afirmara ter nascido para ser artista. Mas o fato é que desde cedo entrei em contato com a medicina. Meu saudoso pai era um típico médico de bairro. Entendia de tudo. Até de parto. Com efeito, partejou os onze filhos. Quando a irmã mais velha nasceu, ele estava a seis meses da conclusão do curso médico, em Recife. Pensei em ser irmão marista, fui até Apipucos, no Recife, vi, olhei e não gostei. Tudo isso aos 12 anos, antes de decidir-me, irrevogavelmente, pela medicina.
 Éramos onze irmãos. O Robson, mais velho que eu um ano, foi aprovado no vestibular de Medicina, de 1965. A essa altura era, para mim, medicina ou nada. O “nada” não existia. Foi nessa época de cursinhos e outros que tais,  justamente quando botei na cabeça que iria casar com a Nadja, colega de cursinho de Química, cujo professor, José Gonçalves, viria a ser pediatra da nossa primeira filha. Como não existisse plano (B),.esforcei-me razoavelmente e fui aprovado.
 Lá pela metade do curso médico apaixonei-me pela cirurgia, não obstante morar e respirar 24 horas por dia a Psiquiatria. Antes, apaixonadíssimo, casei no meio do curso com a linda cearense de lábios de rubi, Nadja, que também havia sido aprovada para medicina.. Dois anos se passariam até que, em 1971, nasceu a princesinha Lavínea, nossa primeira filha. Mas eu não me negligenciei da Psiquiatria para ser um “cirurgião de barriga”, posto que já tinha muita gente boa no pedaço.
Queria a Neurocirurgia. Foi aí que São Paulo entrou na minha vida. Já residente do Hospital São Camilo, em SP, aos sábados, dávamos voltas pela cidade, foi quando nos deparamos com o apaixonante prédio do Hospital do Servidor do Estado. Achei aqueles vitrais azulados lindos. Daí eu disse de mim para comigo: "você vai estudar para ser residente desse hospital". Ser residente do Hospital do Servidor de SP era um desafio e tanto. Não havia um só residente médico de Alagoas neste hospital. Claro, havia outras opções, como a USP, a Santa Casa, a Escola Paulista.
Em 1973, juntei a fome e a vontade de comer. Número de vagas restrito, entrei no Servidor pela porta da frente, sem pistolão, competindo com colegas de todo o Brasil. Ali estava São Paulo aos meus pés. Doravante nada iria impedir as futuras conquistas. Senti-me Cesar atravessando o Rubicão.
Nadja entrou na residência da psiquiatria do Hospital São Paulo, minha filhinha Lavínea logo foi estudar no Pequeno Príncipe, fez amizade com outras crianças e ia tomar banho de sol na Praça Buenos Aires. Tudo perto da nossa moradia, mais ou menos próximo ao Pacaembu. Levei a Lavínea para ver o Timão várias vezes. Chegamos, (meu irmão Robson e eu) a rachar um salão no Clube de Campo da APM.
 Durante a residência, uma vida de quase escravidão diga-se de passagem,, rodei em várias clínicas. Tive orientadores do nível de Angelita Gama, Fábio Goffi, Mário Cinelli, Erasmo Castro de Tolosa, Prof. Chiaverini, dentre tantos. Mas foi na Neurologia e na Neurocirurgia que encontrei o que procurava. Cheguei ao zênite das minhas aspirações ao lidar com o Prof. Roberto Melaragno Filho, que determinava a doutrinação neurológica a ser seguida, ele próprio cioso herdeiro de uma das mais famosas escolas neurológicas do mundo, simplesmente a Escola Francesa de Charcot. A Neurocirurgia do Servidor carregava na sua certidão de nascimento a Escola do Prof. Rolando Tenuto da USP. O Dr. João Teixeira, Diretor do Serviço de Neurocirurgia, era um dos seus mais caros pupilos, formando no Servidor uma tropa de elite onde destacavam-se, Dr. José Zuleta, Dr. Clemente Augusto Pereira, Dr. Páris, Dr. Takaaki Yonekura, o mago japonesinho da Neuroradiologia,.Dr. Sidney, Dr. Paulo May...
Três anos depois, residência concluída, ainda quis mais, uma pósgraduação em Neurocirurgia no Rio de Janeiro. Aproveitei esse período para consolidar minha doutrinação. O rientador da PósGraduação foi o Prof. Murillo Côrtez Drummond, conceituado neurocirurgião carioca e oficial superior da Marinha de Guerra do Brasil.Dentre os amigos,dessa fase carioca, homenageio o meu guarda-marinho Moreira, hoje almirante Moreira. Nesse ano, 1976, fui aprovado em vários concursos, para neurologista da Secretaria da Saúde de São Paulo, para neurocirurgião do próprio Servidor e para Neurologista do Ministério da Saúde, logrando o primeiro lugar. Foi no Rio, sob as bêncãos do Cristo Redentor que Nadja engravidaria do nosso segundo filho, Roninho.
 Voltei a Sâo Paulo inúmeras vezes. Tenho contatos frequentes com o chefe atual do IAMSPE, Prof. José Marcus Rotta, Dr. Clemente e outros colegas. Meu particular amigo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Dr. Modesto, não se conforma de eu ter sido aprovado no concurso de neurocirurgião do Servidor e haver negligenciado a nomeação...
 Fiz várias reciclagens no Brasil (e no exterior) com Marcos Ferreira e com meus amigos Hélder Tedeschi e Evandro Oliveira.Estou sempre aprendendo aqui e alhures. Destaco entre os meus diletos amigos e orientadores, o eminente Prof. Óscar L. Alves, neurocirurgião português e cidadão do mundo. São Paulo continua uma espécie de Meca. Muito ensinou e eu fiz-me fértil para brotar bons frutos e depois semeá-los

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