domingo, 15 de abril de 2018


HUMOR REFINADO

Ronald Mendonça
Neurocirurgião. Professor de Neurologia da UFAL



Graças a uma austera administração comandada por meu pai, o psiquiatra  José Lopes de Mendonça, a clínica por ele fundada em  1960, conseguiu sobreviver às intempéries de toda natureza, até dezembro de 2017. Ainda com vida, o velho sentiu-se recompensado ao ver que o seu hospital estava entre os melhores do País.
Especialidade médica, presente no currículo obrigatório do curso médico, a psiquiatria  vem avançando de forma extraordinária, pari passu com as in -cessantes  pesquisas e descobertas em torno do cérebro.
O psiquiatra,   hoje, já não divaga às escuras pelas tempestades das psicoses, num labirinto de frases de efeito, jargões pseudocientíficos, como um pescador à deriva em mar revolto. Sobre o sólido alicerce teórico montado pelos  mestres alemães e franceses sobretudo, vem se erguendo um arsenal terapêutico ainda limitado, mas respeitável.
Apesar dessa condição, inadvertidamente, médicos de outras especialidades tentam meter o  bedelho sem o devido conhecimento, criando situações que põem em risco os pacientes. Pior:  não médicos imiscuíram-se na psiquiatria, alguns de forma solerte, tentando –e muitas vezes conseguindo- ditar “políticas” e condutas terapêuticas para as quais não têm o suficiente preparo. Típico caso em que o sapateiro vai além da chinela.
A esse respeito,  a GAZETA DE ALAGOAS do dia 12/11/00 publicou reportagem sob o título “Hospitais psiquiátricos devem existir ?” em que foram ouvidos uma psicóloga e dois psiquiatras. É claro que a primeira - não sendo exatamente a sua praia - teve dificuldades para argumentar em condições  de igualdade.
Não há o que retocar sobre as opiniões emitidas pelos ilustres psiquiatras. De fato é uma rematada loucura pretender-se, nesse momento,  acabar com os hospitais psiquiátricos. Há, sim, necessidade de um constante aprimoramento e de fiscalização. Essa fiscalização, que costuma ser tão rigorosa na capital, precisa se estender a todos os hospitais, sem exceção.  Inclusive aos do interior. Por que não ?
Pontual  mesmo, na citada reportagem, foi a assertiva  da psicóloga de que “os leitos nos hospitais psiquiátricos são bem remunerados”. Achar que menos de 24 reais por dia, onde são incluídos honorários médicos, medicamentos,  enfermagem, atendimento com psicólogos, assistentes sociais, terapia ocupacional, nutricionista, lavanderia, estada, refeições e   uma média de 2 funcionários para cada 3 pacientes é pagar bem, reflete, antes de tudo,  um humor extremamente refinado.
Uma coisa pelo menos  parece certa: dia virá em que não mais existirão hospi- tais psiquiátricos, nem UTIs, nem muito menos médicos. Tampouco doentes.
Quem sabe, apenas  “um  só rebanho e um só pastor”. Sadios.

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