HUMOR REFINADO
Ronald
Mendonça
Neurocirurgião.
Professor de Neurologia da UFAL
Graças a uma
austera administração comandada por meu pai, o psiquiatra José Lopes de Mendonça, a clínica por ele
fundada em 1960, conseguiu sobreviver às
intempéries de toda natureza, até dezembro de 2017. Ainda com vida, o velho sentiu-se
recompensado ao ver que o seu hospital estava entre os melhores do País.
Especialidade
médica, presente no currículo obrigatório do curso médico, a psiquiatria vem avançando de forma extraordinária, pari
passu com as in -cessantes pesquisas e
descobertas em torno do cérebro.
O psiquiatra, hoje, já não divaga às escuras pelas
tempestades das psicoses, num labirinto de frases de efeito, jargões pseudocientíficos,
como um pescador à deriva em mar revolto. Sobre o sólido alicerce teórico
montado pelos mestres alemães e
franceses sobretudo, vem se erguendo um arsenal terapêutico ainda limitado, mas
respeitável.
Apesar dessa
condição, inadvertidamente, médicos de outras especialidades tentam meter
o bedelho sem o devido conhecimento,
criando situações que põem em risco os pacientes. Pior: não médicos imiscuíram-se na psiquiatria,
alguns de forma solerte, tentando –e muitas vezes conseguindo- ditar
“políticas” e condutas terapêuticas para as quais não têm o suficiente preparo.
Típico caso em que o sapateiro vai além da chinela.
A esse
respeito, a GAZETA DE ALAGOAS do dia
12/11/00 publicou reportagem sob o título “Hospitais psiquiátricos devem
existir ?” em que foram ouvidos uma psicóloga e dois psiquiatras. É claro que a
primeira - não sendo exatamente a sua praia - teve dificuldades para argumentar
em condições de igualdade.
Não há o que retocar sobre as opiniões emitidas pelos
ilustres psiquiatras. De fato é uma rematada loucura pretender-se, nesse
momento, acabar com os hospitais
psiquiátricos. Há, sim, necessidade de um constante aprimoramento e de
fiscalização. Essa fiscalização, que costuma ser tão rigorosa na capital, precisa
se estender a todos os hospitais, sem exceção.
Inclusive aos do interior. Por que não ?
Pontual mesmo, na citada reportagem, foi a
assertiva da psicóloga de que “os leitos
nos hospitais psiquiátricos são bem remunerados”. Achar que menos de 24 reais
por dia, onde são incluídos honorários médicos, medicamentos, enfermagem, atendimento com psicólogos,
assistentes sociais, terapia ocupacional, nutricionista, lavanderia, estada,
refeições e uma média de 2 funcionários
para cada 3 pacientes é pagar bem, reflete, antes de tudo, um humor extremamente refinado.
Uma coisa
pelo menos parece certa: dia virá em que
não mais existirão hospi- tais psiquiátricos, nem UTIs, nem muito menos
médicos. Tampouco doentes.
Quem sabe, apenas “um só
rebanho e um só pastor”. Sadios.
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