sábado, 11 de janeiro de 2014

DE DEUSES E DE HOMENS


DE DEUSES E DE HOMENS

Por: » RONALD MENDONÇA – médico e membro da AAL.

Grávida, a bela Coronis apaixonar-se-ia por um sujeito que não era o pai
do concepto que abrigava no seu ventre. Até aí, como cantava Reginaldo Rossi, era mais um caso banal de traição. O problema é que o pai biológico da criança se chamava Apolo, uma das divindades que habitavam o Olimpo. Não se trai um deus impunemente. Castigada pela audácia de chifrar o belo Apolo, a criança sobreviveria. Criado por um centauro, o menino, Asclépios ou Esculápio, demonstraria desde cedo especial dom para cuidar de doentes. Assim nascia o mito. O deus da medicina.

 Hipócrates, celebrizado no mundo leigo pelo Juramento, descende de Asclépios. De alguma maneira, o “Pai da Medicina” carregava no seu DNA genes da divindade Apolo. Talvez por isso os discípulos de Hipócrates sejam, por extensão, considerados “deuses”, sobretudo quando os casos dão certo.
E, naturalmente, antes de apresentarem os honorários, instante em que se transformam em “vis mercenários”, que só pensam em dinheiro.

 Falo de deuses e do Olimpo e logo me vêm exemplos de Olimpos da era contemporânea. As Casas Legislativas, as Assembleias, a Câmara, o Senado... São “céus na terra”, eventualmente ocupados por seguidores de Hipócrates. Recordo do professor Mello Mota, um dos mais notáveis homens públicos que essa terra gerou. Na verdade, não me ocorre nenhum parlamentar médico que tenha envergonhado Hipócrates ou Apolo. Jorge Quintella, Chico Arlindo, Oceano Carleial, Ulisses Botelho, Jurandir Bóia, dentre tantos, honraram Asclépios.

Houve uma época que havia mais médicos na Assembleia Legislativa do
que em qualquer reunião do CRM: Zé Bernardes, Oscar Fontes Lima, Moacir Andrade, Fernando Duarte, Galindo, Délio Almeida e outros que me escapam.

Ser parlamentar-médico, às vezes, pode revelar-se uma atividade de altíssimo risco. Marques da Silva, obstetra em Arapiraca, não obstante a índole pacífica, tombaria sob a mira de Cacheado. Seu pecado foi ter dezesseis votos a mais do segundo colocado. Ainda está para se descobrir: qual a falta do professor de anatomia Luiz Ferreira, um modesto vereador de um município miserável, para merecer ser metralhado tão covardemente? A morte de Ceci Cunha foi outra odiosa ignomínia.

 A lenda assegura que ao abandonarem a carcaça perecível, os espíritos dos médicos vão habitar a constelação do Serpentário, habitat de Asclépios. Por essa via, Oscar Fontes Lima, Cícero Canuto Arapiraca e Zé Bernardes estariam se reencontrando.

 

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