sexta-feira, 5 de julho de 2013

CÂNCER E CURANDEIRISMO


CÂNCER E CURANDEIROS

RONALD MENDONÇA

MÉDICO E MEMBRO DA AAL

Lê-se na coluna de Humberto Rosa e Silva que o ex-presidente Lula estaria com dificuldades com seu câncer de laringe. Há referências a abatimento físico e, de outras fontes, supostas metástases pulmonares. Talvez aí esteja a razão do mesquinho silêncio de Lula, justamente em momento de desafio para os petistas, sem qualquer dúvida, os principais causadores desse clima de desmando a que se chegou.

Desesperados, Lula e seus amigos, certamente decepcionados com a matéria, estariam apelando para o sobrenatural. No caso, a esperança de cura estaria nas mãos de um médium, um certo João de Abadiânia, em Goiás, cujo cartel de curas mata de inveja os pastores-curandeiros Valdomiro e RR Soares. Ou seja, se isso for verdade, dentro de alguns meses esperam-se mudanças no cenário político do país. A essa altura, Lula será mais uma estrela no céu. E uma doce lembrança.

A propósito, Thomaz Green Morton foi capa de revistas por supostos dons capazes de produzir curas extraordinárias, além  de diversas outras traquinagens, tendo um “Rá” como pilar vocal de suas inexplicáveis atuações. Um paranormal, um “sensitivo”, um espírito de luz que, por expressa vontade do Criador, pousou do Além entre nós, povo brasileiro, já tão beneficiado por essa plêiade de seres maravilhosos que habitam nossos palácios e casas legislativas.

TGM ganharia fama entre os alagoanos pelo menos em uma oportunidade. É que ele foi convocado para assistir ao nosso pranteado Teotônio Vilela (o pai), que, como todos sabem, acabou falecendo. Tudo indica que, não obstante o fracasso terapêutico, o velho senador teria se impressionado com as alegorias do farsante a ponto de cunhá-lo com a expressão, “latifundiário da energia”.

A falecida atriz Dina Sfat não teve o mesmo carinho. Ao descobrir-se com um nódulo maligno na mama, Dina recusaria os protocolos científicos da época, preferindo assumir o risco da cura esotérica. Foi vítima do engodo Green Morton, na verdade, mais uma vítima da criminosa atuação de um inescrupuloso, que do “nada” fazia surgir luzes e odores.

Há quem aponte o câncer como   “cruel”. Aliás, em suas dissertações informais, o próprio mestre Ib Gatto dizia que “o câncer não perdoa”. Entre a cancérea imperdonabilidade ou sua crueldade, o fato é que a doença, em Dina Sfat, teve a previsível inexorável evolução. Sem tratamento, não demorou em alastrar-se, instalando-se em outros órgãos. Ao perceber a fria que entrara, buscou   a ajuda médica. Era tarde.

Magoadíssima, seu longo depoimento publicado nas “Páginas Amarelas” da Veja foi um dramático libelo, um pungente ato de contrição da talentosa atriz. Num país mais sério teria levado muita gente para a cadeia, a começar pelo vigarista mágico curandeiro.

O país também está com câncer. As pessoas estão cobrando os remédios certos. Alheios à situação, os dirigentes não sabem o que fazer. Cegos em tiroteio. Pagando a exorbitância de mais de três mil reais para desembaraçar a cabeleira,  só se ouve dizer que Dilminha ficou brava, que gritou, que esfolou... Da manga, retira um plebiscito ridículo... Meu Deus, que coisa incompetente e desastrada!  Enquanto isso, o presidente da Câmara, Henrique Alves, faz piquenique aéreo com a família, por nossa conta. O que esperar desses curandeiros?

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