CÂNCER E CURANDEIROS
RONALD MENDONÇA
MÉDICO E MEMBRO DA AAL
Lê-se na coluna de Humberto Rosa
e Silva que o ex-presidente Lula estaria com dificuldades com seu câncer de
laringe. Há referências a abatimento físico e, de outras fontes, supostas
metástases pulmonares. Talvez aí esteja a razão do mesquinho silêncio de Lula,
justamente em momento de desafio para os petistas, sem qualquer dúvida, os
principais causadores desse clima de desmando a que se chegou.
Desesperados, Lula e seus amigos,
certamente decepcionados com a matéria, estariam apelando para o sobrenatural.
No caso, a esperança de cura estaria nas mãos de um médium, um certo João de
Abadiânia, em Goiás, cujo cartel de curas mata de inveja os
pastores-curandeiros Valdomiro e RR Soares. Ou seja, se isso for verdade,
dentro de alguns meses esperam-se mudanças no cenário político do país. A essa
altura, Lula será mais uma estrela no céu. E uma doce lembrança.
A propósito, Thomaz Green Morton foi
capa de revistas por supostos dons capazes de produzir curas extraordinárias,
além de diversas outras traquinagens, tendo
um “Rá” como pilar vocal de suas inexplicáveis atuações. Um paranormal, um
“sensitivo”, um espírito de luz que, por expressa vontade do Criador, pousou do
Além entre nós, povo brasileiro, já tão beneficiado por essa plêiade de seres
maravilhosos que habitam nossos palácios e casas legislativas.
TGM ganharia fama entre os
alagoanos pelo menos em uma oportunidade. É que ele foi convocado para assistir
ao nosso pranteado Teotônio Vilela (o pai), que, como todos sabem, acabou
falecendo. Tudo indica que, não obstante o fracasso terapêutico, o velho
senador teria se impressionado com as alegorias do farsante a ponto de cunhá-lo
com a expressão, “latifundiário da energia”.
A falecida atriz Dina Sfat não
teve o mesmo carinho. Ao descobrir-se com um nódulo maligno na mama, Dina recusaria
os protocolos científicos da época, preferindo assumir o risco da cura
esotérica. Foi vítima do engodo Green Morton, na verdade, mais uma vítima da
criminosa atuação de um inescrupuloso, que do “nada” fazia surgir luzes e
odores.
Há quem aponte o câncer como “cruel”. Aliás, em suas dissertações
informais, o próprio mestre Ib Gatto dizia que “o câncer não perdoa”. Entre a
cancérea imperdonabilidade ou sua crueldade, o fato é que a doença, em Dina
Sfat, teve a previsível inexorável evolução. Sem tratamento, não demorou em
alastrar-se, instalando-se em outros órgãos. Ao perceber a fria que entrara,
buscou a ajuda médica. Era tarde.
Magoadíssima, seu longo depoimento
publicado nas “Páginas Amarelas” da Veja foi um dramático libelo, um pungente
ato de contrição da talentosa atriz. Num país mais sério teria levado muita
gente para a cadeia, a começar pelo vigarista mágico curandeiro.
O país também está com câncer. As
pessoas estão cobrando os remédios certos. Alheios à situação, os dirigentes não
sabem o que fazer. Cegos em tiroteio. Pagando a exorbitância de mais de três
mil reais para desembaraçar a cabeleira,
só se ouve dizer que Dilminha ficou brava, que gritou, que esfolou... Da
manga, retira um plebiscito ridículo... Meu Deus, que coisa incompetente e
desastrada! Enquanto isso, o presidente
da Câmara, Henrique Alves, faz piquenique aéreo com a família, por nossa conta.
O que esperar desses curandeiros?
Nenhum comentário:
Postar um comentário