OS OLHOS DE AVA GARDNER
Por: » RONALD MENDONÇA - médico e membro da AAL.
Na realidade, volto a escrever sobre Bebedouro. Sonho, às vezes concretizado, dos adolescentes da minha geração, os olhos verdes de Ava Lavinia Gardner – seu nome de batismo – de repente tornaram-se uma realidade na comunidade bebedourense, lá pela década de 1950.
Naqueles dias, o bairro tentava superar a orfandade do major Bonifácio Silveira, o irrequieto festeiro falecido cerca de 10 anos antes. Timidamente, ensaiava-se viver sem a onipresença do major.
A chegado do novo pároco, padre Fernando Iório faria reviver o sacro sem perder o olho no mundano. O Natal seria revigorado com um animado pastoril. A Praça da Matriz recuperaria parte do prestígio, atraindo visitantes de outras plagas. Quermesses, cheganças, barquinhos, ondas, paus de sebo, fogos de artifício, tudo isso contribuiria para afugentar o marasmo.
Reservada, Dalila era loura, alta, um pouco estranha. O rosto marcante, meio quadrado e inolvidáveis olhos verdes. Certamente, por isso, Sansão a ela se referia como “a minha Gardner”. De fato, o olhar era de uma semelhança incrível. Já o homônimo do mito judaico era franzino, braços finíssimos, completamente calvo e avesso a querelas.
A notícia teria o efeito de uma bomba. Sansão e Dalila (Audálio) formavam um casal do mesmo gênero, masculino. Como chegou, sumiu. Consta ter sido transferido para o Rio ou S.Paulo, onde não havia a visibilidade de retrógrados arrebaldes.
Como diria Lula, o mundo só gira porque é redondo. Dalila foi vista na última passeata gay de S. Paulo. Enlaçada pela cintura por um sujeito com pinta de lutador de sumô, um pouco gasta, os olhos de Ava Gardner, no entanto, ali estavam, intocáveis e inconfundíveis
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